Santos impopulares

Santos impopulares

Ao longo do nosso dia a dia, somos chamados constantemente. Somos chamados ao gabinete do diretor, somos chamados à razão, somos chamados à atenção, somos chamados pelo nome. Mas também chamamos. Chamamos um Uber, chamamos o elevador, fazemos chamadas telefónicas, chamamos para jantar. Como cristãos, o maior dos chamamentos é diário e diz respeito à santidade.

O mês de junho, pela sua popularidade social, é uma bela oportunidade para se pensar acerca dos desafios da Santidade. Católicos ou não, todos celebramos, pelas infinitas ruas de Lisboa e através de sardinhas, bifanas, música e caldo-verde, “a santidade”. Todos conhecemos Santo António, São Pedro e São João. Temos tanta proximidade que, a este último, até lhe pedimos um balão para poder brincar.

Hoje, gostávamos de vos falar um pouco de nós e deste desafio. Somos 5 imperfeitos lutadores pela santidade impopular.

Imperfeitos, porque reconhecemos as nossas fragilidades; lutadores, porque na imperfeição queremos ser melhores todos os dias; e impopulares, porque acreditamos que a santidade reside nas pequenas coisas, nas que ninguém vê, nomeadamente na forma como construímos casa. A nossa casa é o local mais propício à santidade. Tudo o que lá fazemos é genuíno. Não há câmaras, entrevistas, cerimónia ou necessidade de causar boa impressão. Ninguém, cá em casa, fica popular por pôr a roupa a secar ou por limpar as casas de banho, no entanto, alguém tem de o fazer. Talvez por isso, o povo, sábio, revela que “Santos de casa não fazem milagres”. Sabemos disso. Pelo menos, cá por casa ninguém é capaz de fazer milagres.

Apesar de não fazermos milagres, identificamos, com facilidade, sacrifícios. Muitos Santos ficaram populares pelos seus sacrifícios, por terem dado a Vida ao serviço de Jesus. Muitos são reconhecidos como mártires. Nós, os aspirantes impopulares, reconhecemos no sacrifício uma das mais belas formas de santidade. Mas não nos interpretem mal! Sacrifício não significa sofrer. Não significa provocar dor. Sacrifício vem do latim Sacrificium, que por sua vez vem de Sacer, que significa sagrado e, facere, que significa fazer. Desta feita, fazer um sacrifício, reconduzir-nos-á ao fazer/tornar algo sagrado.

Por isto, quando nos comprometemos, os 5, a apontar/corrigir as falhas de cada um, a dar boleias uns aos outros, a compensar talentos, a voltar a comunicar depois de umas quantas zangas, e o fazemos porque, imperfeitos, queremos ser família em casa, estamos a realizar o mais belo dos sacrifícios. Cada vez que, diante de algo difícil, o entregamos a Deus e “permitimos” que se faça a Sua vontade, estamos a torná-lo sagrado. A consciência de que o fazemos em Deus e com Ele, carimba a nossa aspiração impopular a ser Santos, todos os dias.

Aproveitemos este mês para encontrar a santidade nas pequenas coisas, sobretudo nas impopulares. Uma das nossas sugestões, é irem dizendo, de forma constante e consciente, “obrigado”. Agradeçam a quem vos fez o caldo-verde, agradeçam uma conversa, agradeçam amizades e, sobretudo, agradeçam as coisas boas de casa. A alegria da Graça, constrói a Santidade. Talvez seja por isso que, o mês mais festivo dos portugueses seja este junho. É a festa da Santidade!

Agradeçam. É essencial, principalmente numa era em que dar graças é impopular.

 

Dia Mundial dos Oceanos | Catalisar Ações para o Nosso Oceano e Clima

Dia Mundial dos Oceanos | Catalisar Ações para o Nosso Oceano e Clima

O Dia Mundial dos Oceanos foi no dia 8 de junho. Esta efeméride, celebrada anualmente, pretende ser um momento de reflexão sobre a importância do oceano e da sua conservação para a vida no planeta. A data foi formalmente estabelecida pelas Nações Unidas, em 2008, através da Resolução 63/111, no entanto, já era celebrada em alguns países, desde a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que teve lugar no Rio de Janeiro em 1992. [1] [2]

Desde a celebração inaugural, em 2009, sob o tema “Nossos Oceanos, Nossa Responsabilidade”, o evento pretende enaltecer as mais-valias dos oceanos, bem como a necessidade e o dever, individual e coletivo, de os seus recursos serem protegidos e utilizados de forma sustentável. Como principais contributos destaca-se a importância dos oceanos para a regulação do clima global, ou os benefícios que a humanidade dele retira diretamente, desde os meios de subsistência às atividades recreativas e turísticas. [2]

Em 2025, o tema é Catalisar Ações para o Nosso Oceano e Clima com o intuito de mobilizar as comunidades, as organizações e os líderes políticos para que se unam sob o objetivo de proteger o planeta azul. [3]

No seguimento das celebrações do Dia Mundial dos Oceanos, realizou-se, em Nice, a Conferência dos Oceanos da ONU cujo grande objetivo era acelerar a entrada em vigor do Tratado das Águas Internacionais, com vista à conservação e utilização sustentável da biodiversidade marinha, nas áreas do oceano que ficam para lá das águas territoriais de cada país.

Apesar de a ratificação não ter sido concluída durante a Conferência, existe a expectativa de que, a manter-se o rumo desejado das negociações, o Tratado do Alto-Mar possa entrar em vigor no início de janeiro de 2026, permitindo a regulamentação da gestão das águas internacionais e que correspondem a cerca de dois terços do oceano.

 

OCEANOS OU OCEANO

A expressão original World Oceans Day, sugere a adoção de Dia Mundial dos Oceanos, no entanto, segundo o princípio da Literacia do Oceano, reconhecido pela UNESCO, existe apenas um oceano que nos liga a todos. [4]

A campanha Drop the S (Larga o S) pretende a utilização da palavra oceano como um substantivo singular, como forma de destacar a interconexão deste sistema natural sem fronteiras, reforçando que o que acontece numa parte do oceano afeta outras áreas, de forma transversal. [5] [6]

Se por um lado faz sentido referir os nomes atribuídos à diferentes regiões (Atlântico, Pacífico, Ártico, Índico, e Antártico) quando se pretende destacar características locais ou específicas, quando se fala da sustentabilidade do planeta como um todo, importa destacar o oceano como um único ecossistema global.

 

A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE

Aproximadamente 70% da superfície terrestre está coberta por um oceano que contribui com 50% do oxigénio produzido e absorve 30% do carbono gerado pelas atividades humanas. Adicionalmente, este elemento representa mais de 90% do espaço habitável do planeta, servindo de abrigo a 250.000 espécies marinhas conhecidas da ciência e muitas que ainda não terão sido descobertas. [7] [8] [9]

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, mais de três mil milhões de pessoas dependem do oceano para a sua subsistência. Os ecossistemas marinhos e costeiros asseguram o fornecimento de alimentos reforçando a segurança alimentar, melhoram a qualidade da água, fornecem recursos para investigação e desenvolvimento, designadamente a produção de tratamentos farmacêuticos e médicos, contribuem para o bem-estar cultural e mental e favorecem a proteção física das áreas costeiras. [9]

Por tudo isto, o oceano é considerado um importante baluarte no combate às alterações climáticas, contribuindo para o equilíbrio ambiental do planeta, a manutenção da biodiversidade e da sustentabilidade.

Freepik

 

OS RISCOS E AMEAÇAS

Apesar da sua importância, o oceano está a enfrentar processos de aquecimento, acidificação e desoxigenação, com efeitos na degradação dos recifes de coral e nos comportamentos das espécies marinhas, como a migração para latitudes e profundidades maiores, e a consequente disrupção de cadeias naturais. [9]

Além das consequências para a biodiversidade, o aumento da temperatura dos oceanos favorece a fusão do gelo e a subida do nível do mar, pondo as zonas costeiras em risco de inundação. O calor à superfície e na subsuperfície do oceano, funciona ainda como fonte de energia para furacões e outros fenómenos meteorológicos extremos, tornando-os mais frequentes e destrutivos. [10]

Também a poluição por plástico aumentou significativamente nas últimas décadas, com impacto na vida marinha e na saúde humana. A produção mundial das diferentes tipologias de plásticos tem vindo a aumentar desde 1950 e estima-se que todos os anos, cerca de 10% dos plásticos produzidos acabem no oceano. Estudos demonstram que os fragmentos de plástico, que resultam maioritariamente da degradação física, química e biológica de materiais de plástico de maiores dimensões são posteriormente ingeridos pelos organismos marinhos, favorecendo a sua entrada na cadeia alimentar. [11]

 

O PLÁSTICO MARINHO

O tema do lixo marinho é transfronteiriço, sendo reconhecido como um problema mundial crescente. Em menos de um século de existência, os resíduos de plástico passaram a representar, dependendo da localização, entre de 60 a 90% do lixo marinho, seja pelo incorreto encaminhamento destes resíduos ou pelo seu abandono no ambiente, em especial no litoral. [11]

De acordo com a UE, medições realizadas nas praias revelam que 80% a 85% do lixo marinho é constituído por plástico, dos quais cerca de metade correspondem a produtos de utilização única que são descartados após uma utilização e 27% são artigos relacionados com artes de pesca que não trazidas para terra para fins de tratamento. [12]

Fonte: Comissão Europeia

De acordo com os resultados das campanhas de monitorização publicados pela Agência Portuguesa do Ambiente, estes resíduos não diferem significativamente dos mais encontrados nas praias portuguesas. [13]

Face a este cenário, uma das regras da EU para a redução do plástico marinho assentou na proibição da comercialização de produtos descartáveis como cotonetes, talheres, pratos, palhinhas, pequenas colheres ou agitadores de bebidas e varas de balões, para os quais já existiam alternativas no mercado noutros materiais (e.g. papel e madeira).

Para os resíduos passíveis de serem encaminhados para reciclagem, a EU reforçou os objetivos de recolha e valorização, designadamente através da obrigatoriedade de incorporar plástico reciclado, em substituição de material virgem, na fabricação de novos artigos.

Já para os produtos com ciclo de vida necessariamente mais curto (e.g. produtos de tabaco com filtros/beatas, copos, produtos de higiene íntima, toalhetes húmidos) e onde a presença de plástico não é tão óbvia, a legislação europeia determina a necessidade de alertar os utilizadores para o seu correto encaminhamento. Neste contexto, foram estabelecidas obrigações de marcação para estes produtos, como forma de reduzir o desconhecimento da população e aumentar a sensibilização dos utilizadores para a adoção de melhores práticas aquando do seu descarte. [14] [15]

Fonte: Comissão Europeia

 

Apesar da publicação de diplomas legais, a sua correta aplicação é de difícil monitorização e controlo, pelo que, acima de tudo, cabe a cada indivíduo a adoção de práticas de prevenção, mais sustentáveis e que possam contribuir para a conservação do oceano.

 

REFERÊNCIAS

[1] Assembleia Geral das Nações Unidas | Resolução A/RES/63/111, disponível em: https://docs.un.org/A/RES/63/111
[2] Dia Mundial dos Oceanos | História, disponível em: https://unworldoceansday.org/about/
[3] Turismo de Portugal | Dia Mundial dos Oceanos 2025, disponível em: https://www.turismodeportugal.pt/pt/Agenda/Paginas/dia-mundial-oceanos.aspx
[4] The OneOcean | Campanha, disponível em: https://www.oceanprotect.org/2019/09/19/drop-the-s-campaign-implementing-principle-one-of-ocean-literacy/
[5] Economia Azul | Dia Mundial do oceano, disponível em: https://www.economiaazul.pt/blogue/2023/6/8/8-de-junho-dia-mundial-do-oceano
[6] UNESCO | Larga o ‘S, disponível em: https://oceanliteracy.unesco.org/user-media/drop-the-s/
[7] Ciência Viva | Princípios Essencial do Oceano, disponível em: https://www.cienciaviva.pt/oceano/principios-do-oceano
[8] Nações Unidas | Dia Mundial dos Oceanos, disponível em: https://news.un.org/pt/story/2025/06/1849231
[9] Copernicus | Reservatório de Biodiversidade, disponível em: https://marine.copernicus.eu/explainers/why-ocean-important/biodiversity-tank
[10] Copernicus | Aquecimento do Oceano, disponível em: https://marine.copernicus.eu/explainers/phenomena-threats/ocean-warming
[11] Agência Portuguesa do Ambiente | Microplásticos, disponível em: https://apambiente.pt/residuos/microplasticos
[12] União Europeia | Diretiva SUP, disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32019L0904
[13] Agência Portuguesa do Ambiente | Lixo Marinho, disponível em: https://apambiente.pt/residuos/lixo-marinho
[14] Parlamento Europeu | Plástico nos Oceanos, disponível em: https://www.europarl.europa.eu/topics/pt/article/20181005STO15110/plastico-nos-oceanos-os-factos-os-efeitos-e-as-novas-regras-da-ue
[15] Comissão Europeia | Marcação de produtos SUP, disponível em: https://environment.ec.europa.eu/topics/plastics/single-use-plastics/sups-marking-specifications_en#ecl-inpage-850

 

 

Nasce um filho, renasce uma família

Nasce um filho, renasce uma família

Junho é incrível: é o mês em que nasceu o “nosso” Guilherme. Hoje queremos falar-vos da reviravolta que é nascer um primeiro filho. A data prevista do parto do Gui era a 11 de junho, e ele, como miúdo determinado que é, nasceu exatamente nesse dia (data das suas 40 semanas de gestação). As “águas” rebentaram em casa, às 2h30 da manhã e ele quis nascer no Hospital Beatriz Ângelo às 11h15 do dia que viria a mudar o rumo da nossa família para sempre. O Gui nasceu com 3,985 kg e com 52 cm. Não chorou muito, para preocupação dos pais, mas logo foi vestido pelo seu pai, e posto no colo da mãe. Ninguém nos prepara para o deslumbre de um bebé recém-nascido, nem para o turbilhão de emoções que é conhecer um ser já muito amado na barriga da mãe.

Os primeiros tempos foram de descoberta, ansiedade e de muita privação de sono, porque o Gui queria estar sempre “alapado” à mãe, a comer. Nesta fase, no entanto, não é costume falar-se da tristeza que pode chegar com o nascimento de um filho. Já aqui voltamos.

A Dani passou a gravidez com sensação de “doença” até aos 5 meses de gestação, com muitos vómitos e náuseas, que não passaram com medicamentos. O 2.º trimestre foi bom, embora as alterações no corpo tenham sido muito aborrecidas. A Dani não estava preparada minimamente para todas estas alterações, e engordou cerca de 20 kg. Foi caso para dizer que o fim da gravidez não foi incrível, sobretudo para alguém habituado a fazer tudo, a ter toda a mobilidade, a fazer tudo sozinha, e a ter tudo sob controlo.

O Gui nasceu e a ansiedade que vem da falta de experiência – perfeitamente natural – para cuidar de um recém-nascido foi aumentando. Ele era um bebé extremamente exigente, não dormia bem, gostava de passar largas horas na mama, e chorava muito. Como podem ver, “cocktail perfeito” num pós-parto. Os primeiros meses do Gui foram muito exigentes, mas foram passando. A Dani começou a trabalhar quando o Gui tinha 4 meses, e ele foi para a creche.

Não vos sabemos dizer quando começou, mas a Dani sentia-se triste, numa fase que seria supostamente uma das mais bonitas da nossa família; sentia-se vazia, perdida, e até questionou se ter um bebé – mesmo tendo sido muito desejado – teria sido a melhor opção a tomar. A vida mudou, a ansiedade aumentou, a relação entre nós era, necessariamente, diferente. Foi duro. Quando o Gui tinha sensivelmente 15 meses, a Dani comentou com o Pássaro que precisava de ajuda psicológica, porque havia emoções com as quais não estava a saber lidar e porque se sentia muito triste (o que não era suposto, dado ter o “melhor do mundo” nos seus braços).

O tempo foi passando, a racionalidade voltou, começámos a pedir ajuda aos avós, a dormir e a descansar mais, a sair os dois, a conversar mais e percebemos juntos que o segredo é entender que esta fase da nossa vida é apenas isso: uma fase.  Percebemos que as nossas emoções são muito válidas porque queremos fazer tudo “bem” – seja lá isso o que for. Hoje, entendemos que um primeiro filho vem com um turbilhão de emoções boas, mas também com muitos receios de não estarmos à altura do desafio de cuidar dele.

Com a chegada de um filho, a vida de cada um dos pais altera-se e a vida familiar muda. Depois da exigente fase dos “primeiros tempos”, a vida vai, gradualmente, ficando mais “arrumada”. Os pais não podem, naturalmente, viver exatamente a vida que antes levavam, mas são, agora, uma mistura entre aquilo que eram – a sua essência – e a circunstâncias em que se encontraram e o que ganharam – a vida de um filho e a experiência da parentalidade. Não voltam a ser quem eram, mas encontram-se naquilo que agora são. A vida muda, é certo, mas muda para muito melhor!

Junho é também o mês dos santos populares e na nossa família festejamos mais um aniversário: o da Dani, a 29, no mesmo dia em que celebramos a Solenidade de São Pedro e São Paulo. Olhando, em particular, para São Paulo e para a sua história de conversão tardia, somos interpelados a acreditar que, qualquer momento da vida, por mais duro que seja – como a exigência decorrente do nascimento de um filho – pode ser oportunidade de encontro com Deus e, por isso, de “renascer”.

 

Quem sou eu para ti?

Quem sou eu para ti?

Quem sou eu para ti? – pergunta-te a tua amiga.  Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te o teu esposo. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te a tua esposa. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te o teu filho. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te o teu pai. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te a tua mãe. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te o teu funcionário. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te o teu empregador. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te a tua vizinha. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te o teu avô. Quai a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te a tua neta. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te a Igreja. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te a comunidade. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou Eu para ti? – pergunta-te Jesus. Qual a tua resposta? É mesmo?
Da resposta a esta interrogação de Jesus dependem todas as tuas outras respostas.
É que, com Ele, serás capaz de pintar todas elas com as cores do Céu.
Entendes?

PCJ

 

A devoção ao Coração de Jesus

A devoção ao Coração de Jesus

Em junho, ocorre normalmente a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus e, por tradição, todo o mês lhe é dedicado.

Imagem da capela do Seminário de Alfragide

A devoção ao Coração de Jesus, tão querida do nosso povo cristão, tem as suas raízes na Sagrada Escritura, particularmente nos escritos de São João Evangelista e nas Cartas de São Paulo. Os Padres da Igreja deram grande atenção ao mistério do Lado aberto do Salvador. Os monges e monjas medievais, ao contemplarem as Santas Chagas do Crucificado, detiveram-se particularmente na do Lado e penetraram até ao Coração do Senhor. A devoção, inicialmente de elites espirituais, popularizou-se depois das aparições a Santa Margarida Maria Alacoque, iniciadas em 1673.

O Papa Francisco dedicou a sua última encíclica, a Dilexit nos [1](Amou-nos), ao Sagrado Coração de Jesus. É uma fonte de inspiração para quem se propõe conduzir uma vida cristã cordial, centrada em Cristo e atenta aos irmãos. Francisco retoma a tradição e a atualidade do pensamento da Igreja “sobre o amor humano e divino do coração de Jesus Cristo”, convidando-nos a renovar a nossa devoção para não esquecermos a ternura da fé, a alegria de nos colocarmos ao serviço e para nos animarmos a um novo impulso missionário. No Coração de Cristo, “reconhecemo-nos e aprendemos a amar”, tornamo-nos “capazes de tecer laços fraternos, de reconhecer a dignidade de cada ser humano e de cuidar juntos da nossa casa comum”, de avançarmos na experiência espiritual pessoal do Senhor e no compromisso comunitário e missionário. Francisco acredita que o nosso mundo, graças à devoção ao Coração de Jesus, “possa recuperar o que é mais importante e necessário: o coração”. O amor de Deus revelado em Jesus Cristo é fonte que nos impulsiona a amar os outros, a mudar a sociedade e a construir a paz através do diálogo e do respeito pelo próximo.

A encíclica Dilexit nos foi um precioso legado que o saudoso Papa Francisco deixou à Igreja. Nós, Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos, recolhemo-lo com muita gratidão. A encíclica anima-nos na vivência da nossa vocação e missão, porque nela encontramos elementos fundamentais do nosso carisma: a importância dada ao Lado aberto e ao Coração trespassado do Salvador, máxima expressão do seu amor divino e humano; a espiritualidade oblativa que nos inspira a unir-nos a Cristo no seu amor ao Pai e aos homens; a indicação do valor a dar ao coração e à cordialidade, estilo de presença e de ação que procuramos cultivar; a proposta de uma espiritualidade que nos abre à missão e ao serviço dos irmãos. Para Francisco, como para o Padre Dehon, a contemplação do Lado aberto e do Coração trespassado de Cristo impele-nos a corresponder ao seu amor, a inserir-nos no movimento redentor que Ele iniciou no mundo, e a doar-nos aos irmãos com e como Ele. A nossa adesão cordial a Cristo empenha-nos no apostolado e no serviço das pessoas.

Fundador com as Constituições da Congregação (Regra de Vida) e a imagem do Sagrado Coração de Jesus

Uma das dimensões da devoção ao Coração de Jesus é a reparação. Francisco aponta-a como “unir o amor filial para com Deus ao amor do próximo”. E acrescenta: “É essa a verdadeira reparação pedida pelo Coração do Salvador… com Cristo, somos chamados a construir uma nova civilização do amor. “Isto é reparar conforme o que o Coração de Cristo espera de nós…” Ele “quis precisar da nossa colaboração para reconstruir a bondade e a beleza”.

Estas perspetivas constam nas Constituições da Congregação, que apresentam a reparação como “acolhimento do Espírito”, “resposta ao amor de Cristo por nós”, “comunhão no seu amor ao Pai”, “cooperação na sua obra redentora no coração do mundo”. Esta cooperação inclui o anúncio da Boa Nova e a promoção dos pobres e pequenos. Foi esse o modo como Leão Dehon entendeu e viveu a devoção ao Coração de Jesus e a reparação.

As práticas tradicionais de devoção: Primeiras sextas-feiras, Missa e Comunhão reparadoras, Adoração eucarística e Hora Santa, recitação das Ladainhas e festa do Sagrado Coração de Jesus, oferta das obras do dia e Ato de desagravo continuam válidas para alimentar a devoção. Sem elas, corremos o risco de esquecer a própria devoção. Mas o culto ao Coração de Jesus, como Francisco ensina, leva necessariamente a procurar “o crescimento das pessoas na sua dignidade humana e como filhos e filhas de Deus, com base no Evangelho e nas suas exigências de amor, perdão, justiça e solidariedade”.

 

[1] https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/20241024-enciclica-dilexit-nos.html

 

Para nós, Ele é “caminho, verdade e vida”?

Para nós, Ele é “caminho, verdade e vida”?

“E vós, quem dizeis que Eu sou?” – perguntou Jesus diretamente aos seus discípulos nos arredores de Cesareia de Filipe. É uma pergunta decisiva, que deve ecoar, de forma constante, nos ouvidos e no coração dos discípulos de Jesus de todas as épocas. A nossa resposta a esta questão não pode ficar-se pela repetição papagueada de velhas fórmulas que aprendemos na catequese, ou pela reprodução impessoal de uma definição tirada de um qualquer tratado de teologia. A questão vai dirigida ao âmago do nosso ser e exige uma tomada de posição pessoal, um pronunciamento sincero, sobre a forma como Jesus toca a nossa vida. A resposta a esta questão é o passo mais importante e decisivo na vida de cada cristão. Quem é Jesus para nós? Que lugar ocupa Ele na nossa existência? Que valor damos às suas propostas? Que importância assumem os seus valores nas nossas opções de vida? Jesus é, para nós, a grande referência, o vetor à volta do qual o nosso mundo se constrói? Ele é para nós, de facto, “caminho, verdade e vida”? 

In site dos Dehonianos