Em junho, ocorre normalmente a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus e, por tradição, todo o mês lhe é dedicado.

Imagem da capela do Seminário de Alfragide
A devoção ao Coração de Jesus, tão querida do nosso povo cristão, tem as suas raízes na Sagrada Escritura, particularmente nos escritos de São João Evangelista e nas Cartas de São Paulo. Os Padres da Igreja deram grande atenção ao mistério do Lado aberto do Salvador. Os monges e monjas medievais, ao contemplarem as Santas Chagas do Crucificado, detiveram-se particularmente na do Lado e penetraram até ao Coração do Senhor. A devoção, inicialmente de elites espirituais, popularizou-se depois das aparições a Santa Margarida Maria Alacoque, iniciadas em 1673.
O Papa Francisco dedicou a sua última encíclica, a Dilexit nos [1](Amou-nos), ao Sagrado Coração de Jesus. É uma fonte de inspiração para quem se propõe conduzir uma vida cristã cordial, centrada em Cristo e atenta aos irmãos. Francisco retoma a tradição e a atualidade do pensamento da Igreja “sobre o amor humano e divino do coração de Jesus Cristo”, convidando-nos a renovar a nossa devoção para não esquecermos a ternura da fé, a alegria de nos colocarmos ao serviço e para nos animarmos a um novo impulso missionário. No Coração de Cristo, “reconhecemo-nos e aprendemos a amar”, tornamo-nos “capazes de tecer laços fraternos, de reconhecer a dignidade de cada ser humano e de cuidar juntos da nossa casa comum”, de avançarmos na experiência espiritual pessoal do Senhor e no compromisso comunitário e missionário. Francisco acredita que o nosso mundo, graças à devoção ao Coração de Jesus, “possa recuperar o que é mais importante e necessário: o coração”. O amor de Deus revelado em Jesus Cristo é fonte que nos impulsiona a amar os outros, a mudar a sociedade e a construir a paz através do diálogo e do respeito pelo próximo.
A encíclica Dilexit nos foi um precioso legado que o saudoso Papa Francisco deixou à Igreja. Nós, Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos, recolhemo-lo com muita gratidão. A encíclica anima-nos na vivência da nossa vocação e missão, porque nela encontramos elementos fundamentais do nosso carisma: a importância dada ao Lado aberto e ao Coração trespassado do Salvador, máxima expressão do seu amor divino e humano; a espiritualidade oblativa que nos inspira a unir-nos a Cristo no seu amor ao Pai e aos homens; a indicação do valor a dar ao coração e à cordialidade, estilo de presença e de ação que procuramos cultivar; a proposta de uma espiritualidade que nos abre à missão e ao serviço dos irmãos. Para Francisco, como para o Padre Dehon, a contemplação do Lado aberto e do Coração trespassado de Cristo impele-nos a corresponder ao seu amor, a inserir-nos no movimento redentor que Ele iniciou no mundo, e a doar-nos aos irmãos com e como Ele. A nossa adesão cordial a Cristo empenha-nos no apostolado e no serviço das pessoas.

Fundador com as Constituições da Congregação (Regra de Vida) e a imagem do Sagrado Coração de Jesus
Uma das dimensões da devoção ao Coração de Jesus é a reparação. Francisco aponta-a como “unir o amor filial para com Deus ao amor do próximo”. E acrescenta: “É essa a verdadeira reparação pedida pelo Coração do Salvador… com Cristo, somos chamados a construir uma nova civilização do amor. “Isto é reparar conforme o que o Coração de Cristo espera de nós…” Ele “quis precisar da nossa colaboração para reconstruir a bondade e a beleza”.
Estas perspetivas constam nas Constituições da Congregação, que apresentam a reparação como “acolhimento do Espírito”, “resposta ao amor de Cristo por nós”, “comunhão no seu amor ao Pai”, “cooperação na sua obra redentora no coração do mundo”. Esta cooperação inclui o anúncio da Boa Nova e a promoção dos pobres e pequenos. Foi esse o modo como Leão Dehon entendeu e viveu a devoção ao Coração de Jesus e a reparação.
As práticas tradicionais de devoção: Primeiras sextas-feiras, Missa e Comunhão reparadoras, Adoração eucarística e Hora Santa, recitação das Ladainhas e festa do Sagrado Coração de Jesus, oferta das obras do dia e Ato de desagravo continuam válidas para alimentar a devoção. Sem elas, corremos o risco de esquecer a própria devoção. Mas o culto ao Coração de Jesus, como Francisco ensina, leva necessariamente a procurar “o crescimento das pessoas na sua dignidade humana e como filhos e filhas de Deus, com base no Evangelho e nas suas exigências de amor, perdão, justiça e solidariedade”.