Santos impopulares

Imagem ©Freepik Valerie Aksakova

Ao longo do nosso dia a dia, somos chamados constantemente. Somos chamados ao gabinete do diretor, somos chamados à razão, somos chamados à atenção, somos chamados pelo nome. Mas também chamamos. Chamamos um Uber, chamamos o elevador, fazemos chamadas telefónicas, chamamos para jantar. Como cristãos, o maior dos chamamentos é diário e diz respeito à santidade.

O mês de junho, pela sua popularidade social, é uma bela oportunidade para se pensar acerca dos desafios da Santidade. Católicos ou não, todos celebramos, pelas infinitas ruas de Lisboa e através de sardinhas, bifanas, música e caldo-verde, “a santidade”. Todos conhecemos Santo António, São Pedro e São João. Temos tanta proximidade que, a este último, até lhe pedimos um balão para poder brincar.

Hoje, gostávamos de vos falar um pouco de nós e deste desafio. Somos 5 imperfeitos lutadores pela santidade impopular.

Imperfeitos, porque reconhecemos as nossas fragilidades; lutadores, porque na imperfeição queremos ser melhores todos os dias; e impopulares, porque acreditamos que a santidade reside nas pequenas coisas, nas que ninguém vê, nomeadamente na forma como construímos casa. A nossa casa é o local mais propício à santidade. Tudo o que lá fazemos é genuíno. Não há câmaras, entrevistas, cerimónia ou necessidade de causar boa impressão. Ninguém, cá em casa, fica popular por pôr a roupa a secar ou por limpar as casas de banho, no entanto, alguém tem de o fazer. Talvez por isso, o povo, sábio, revela que “Santos de casa não fazem milagres”. Sabemos disso. Pelo menos, cá por casa ninguém é capaz de fazer milagres.

Apesar de não fazermos milagres, identificamos, com facilidade, sacrifícios. Muitos Santos ficaram populares pelos seus sacrifícios, por terem dado a Vida ao serviço de Jesus. Muitos são reconhecidos como mártires. Nós, os aspirantes impopulares, reconhecemos no sacrifício uma das mais belas formas de santidade. Mas não nos interpretem mal! Sacrifício não significa sofrer. Não significa provocar dor. Sacrifício vem do latim Sacrificium, que por sua vez vem de Sacer, que significa sagrado e, facere, que significa fazer. Desta feita, fazer um sacrifício, reconduzir-nos-á ao fazer/tornar algo sagrado.

Por isto, quando nos comprometemos, os 5, a apontar/corrigir as falhas de cada um, a dar boleias uns aos outros, a compensar talentos, a voltar a comunicar depois de umas quantas zangas, e o fazemos porque, imperfeitos, queremos ser família em casa, estamos a realizar o mais belo dos sacrifícios. Cada vez que, diante de algo difícil, o entregamos a Deus e “permitimos” que se faça a Sua vontade, estamos a torná-lo sagrado. A consciência de que o fazemos em Deus e com Ele, carimba a nossa aspiração impopular a ser Santos, todos os dias.

Aproveitemos este mês para encontrar a santidade nas pequenas coisas, sobretudo nas impopulares. Uma das nossas sugestões, é irem dizendo, de forma constante e consciente, “obrigado”. Agradeçam a quem vos fez o caldo-verde, agradeçam uma conversa, agradeçam amizades e, sobretudo, agradeçam as coisas boas de casa. A alegria da Graça, constrói a Santidade. Talvez seja por isso que, o mês mais festivo dos portugueses seja este junho. É a festa da Santidade!

Agradeçam. É essencial, principalmente numa era em que dar graças é impopular.

 

26/06/2025
De família para família

Autor

  • Família Rodrigues, um pai, uma mãe, três filhos, uma cadela, algumas dores de costas e muita fragilidade. Identificamo-nos como uma família-puzzle! Somos mais do que a soma de todas as partes e a falta de um torna tudo mais incompleto. Às vezes, parece que as peças não encaixam. Há que dar tempo, voltar à mesa, ver as coisas de outro ponto de vista e continuar a construir, na certeza de que Deus nos moldou, enquanto família, a uma missão completa e concreta.

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