by Padre Carlos Jorge | Jun 8, 2025
Também nós temos medos.
E encerramo-nos em salas blindadas. Portas e janelas trancadas.
Mas Tu, Jesus, quando menos esperamos, juntas-te a nós, e dizes-nos:
“A paz esteja convosco!”
E, para aluir o nosso espanto, iteras: “A paz esteja convosco!”
Nesse instante, exteriormente, nada se altera.
Mas, dentro de nós, algo amanhece.
A tua presença, contemplada com os olhos da fé, tranquiliza-nos.
O teu Espírito, o mesmo que sopraste sobre os discípulos, invade-nos e ressuscita-nos.
Perante a nossa intenção de nos rendermos ao cativeiro, Tu ordenas-nos:
“Saiam! Como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós.”
É surpreendente. Chamas pessoas medrosas, como eu, para sermos tuas testemunhas.
E ensinas-nos que a melhor forma de vencer os medos é enfrentá-los, não fugir deles.
Tu, não permites que fiquem encerrados, dentro de muros, aqueles que são teus.
Escreveu Montaigne: “O medo é a coisa de que tenho mais medo.”
Reconhecemos que, mesmo contigo, Senhor, nunca subjugaremos todos os medos.
Mas, ao teu lado, deixaremos de ter medo do medo.
Não teremos medo de perdoar, de amar, de acolher, de sorrir, de escutar, de servir,
de aceitar, de recomeçar, de abraçar, de acreditar, de esperar, de avançar, de sonhar.
Contigo, não teremos medo de ser santos!
P. Carlos Jorge, in VENTO NESTE CAMINHO DE PEDRAS,
de P. Carlos Jorge (textos), Carina Tavares e João Afonso (ilustrações)
by Padre Carlos Jorge | Jun 3, 2025
Sabes, Senhor? Ainda bem que partiste, que foste arrebatado para junto do Pai.
Assim, podes estar, simultaneamente, ao lado de cada um de nós.
Ocultas-te aos nossos olhos, mas experimentamos a tua presença e a tua cooperação.
Percebemos isso, quando pensamos, falamos e agimos à tua maneira;
quando vemos os outros, todos os outros, como Tu os vês;
quando usamos a linguagem do amor e da simplicidade, que todos compreendem;
quando conseguimos expulsar assombros e mesquinhices que agrilhoam a alma;
quando resistimos aos venenos da idolatria do dinheiro, do culto do egocentrismo,
do mundanismo espiritual, da exaltação do consumo, da avidez lânguida do poder;
quando somos curadores de outros, mesmo quando, nós próprios, estamos magoados;
quando Te testemunhamos “não só com palavras mas com a vida transfigurada por Ti”.
Ascendeste ao Céu, de onde vieste. Mas permaneces connosco, como prometeste.
Contigo, aceitamos ir pelo mundo inteiro “anunciar com ousadia, em voz alta,
e em todo o tempo e lugar, mesmo em contracorrente, a novidade do Evangelho”.
Estamos de partida.
Mais alguém quer vir?
P. Carlos Jorge, in VENTO NESTE CAMINHO DE PEDRAS,
de P. Carlos Jorge (textos), Carina Tavares e João Afonso (ilustrações)
by Padre Carlos Jorge | Mai 27, 2025
És a Rainha do Céu, mas a tua alegria maior é estar junto a nós, aqui na Terra.
Ao longo de maio, no meio da turbulência, destes dias, vamos sentir-te muito próxima.
Vens ensinar-nos a oferecer hospitalidade àquele acontecimento que nos bate à porta
e que nem sempre somos capazes de aceitar e compreender no imediato,
para, depois, na intimidade, no diálogo com Deus, na respiração da oração,
pacientemente, humildemente, descermos às raízes da sua verdadeira significação.
Era assim que agias: silente, acolhias o insondável
e aguardavas, confiante, a aclaração de Deus.
Ao teu jeito, conseguiremos ‘ler’ mais adiante o que ainda não entendemos hoje.
Por agora confrontamo-nos com as contingências que nos determinam,
mas não nos subjugam.
Que este tempo de resiliência faça amanhecer uma primavera nova nas nossas vidas.
Ao teu lado redescobriremos o encanto da palavra ‘Encontro’:
quando soltamos o liame dos preconceito e dos fundamentalismos,
derrubamos os muros que nos separam em classes, colorações de pele,
motivações políticas, crenças religiosas, hierarquias aberrantes,
egocentrismos enfermiços, e nos permitimos peregrinar unicamente
com a roupagem da nossa comum e frágil humanidade.
Só com as mãos ligadas e corações estreitados, numa cumplicidade fraterna,
é possível aventurarmo-nos na travessia dos espaços e dos tempos
que nos ligam ao futuro.
Contigo, Maria, novos perfumes virão aromatizar a sequência dos dias
e colori-los de esperança.
E escutaremos um pedido que não te cansas de repetir em cada uma das tuas visitas:
“Façam tudo o que Jesus vos disser.”
Bem-vinda sejas, Maria!
P. Carlos Jorge, in VENTO NESTE CAMINHO DE PEDRAS,
de P. Carlos Jorge (textos), Carina Tavares e João Afonso (ilustrações)
by Padre Carlos Jorge | Jan 12, 2025
Eu estava lá.
Vi João a mergulhar Jesus nas águas.
Quando, após a ressurreição, entendi quem era Aquele Homem,
uma interrogação brotou, em mim: por que razão, o Filho de Deus, o Senhor,
se tinha deixado baptizar como um vulgar pecador, como eu, precisado de conversão?
A resposta foi tomando figura.
Através daquele rito, Jesus mostrou que aceitava descer ao nosso nível,
que queria confundir-se connosco, partilhar os ritmos da nossa vida quotidiana.
Não necessitava de passar por aquele momento, mas quis cumpri-lo.
Jesus mergulhou, não somente na água, mas na opacidade da nossa humanidade.
E percebi que, naquele instante de abraço entre a Eternidade e a Finitude,
os céus, silenciosos durante tanto tempo, tinham cancelado a sua mudez,
e deixaram jorrar a Palavra, a Comunicação perfeita de Deus: Jesus.
O Pai sorriu, encantado com o Filho muito amado, que partia em missão,
habitado pelo Espírito, que n’Ele estabeleceu a sua morada permanente,
como uma pomba se ajusta e é fiel ao seu ninho.
Eu estava lá, Jesus.
Vi-te a mergulhar nas águas.
E contemplei os céus a rasgarem-se e o Espírito a hospedar-se em ti.
Depois, ouvi a voz de Deus a proclamar:
“Tu és o meu Filho muito querido. A ti expresso toda a minha ternura.”
Compreendemos o dom que recebemos no Baptismo?
P. Carlos Jorge, in VENTO NESTE CAMINHO DE PEDRAS,
de P. Carlos Jorge (textos), Carina Tavares e João Afonso (ilustrações)
by Paróquia da Amadora | Jan 1, 2025

by Padre Carlos Jorge | Jul 13, 2024
Jesus chama-nos.
Não para nos determos n’Ele, mas para nos enviar em nome d’Ele.
Propõe-nos asas para voarmos, não uma âncora para atracarmos.
Para a viagem, um bastão, símbolo do poder de Deus: o Amor.
Nada mais.
A missão não depende do que temos, mas do que somos.
Não são os recursos materiais, nem os nossos esquemas, que garantem os frutos,
mas Deus, em nós, através de nós e para além de nós.
Vamos em comunidade (pode ser dois a dois). Nunca sozinhos (pode ser imprudente).
Bateremos às portas de todos os corações. Mas não forçaremos nenhuma entrada.
Aos que nos receberem, falaremos da nossa amizade com Jesus e da Beleza de Deus.
Afirmaremos que o Céu, mais do que algo a alcançar, pode ser acolhido, aqui e agora.
Nem sempre nos saberemos expressar. Nem sempre seremos bem compreendidos.
Aceitaremos o desconforto do fracasso, a mágoa da indiferença, a ferida do ultraje.
Lamentaremos os instantes em que formos sombrios, hesitantes, cobardes.
Festejaremos todos os momentos em que o Amor ganhar.
Jesus também te chamou.
Vens ou ficas?
P. Carlos Jorge, in VENTO NESTE CAMINHO DE PEDRA | Ilustração: João Afonso