A paz é a nossa primeira oferta

A paz é a nossa primeira oferta

Hoje, como naquele tempo, a ‘seara é grande, mas os trabalhadores são poucos’.
Há tantos espaços que necessitam urgentemente da presença do Deus da Misericórdia!
Jesus pede mais ‘trabalhadores’: precisa de ti e de mim. De todos os seus discípulos.
Mas, se muitos não escutam o apelo de Jesus, outros apresentam-se ao serviço.
Jesus envia-nos como cordeiros para o meio de lobos. O cordeiro é morto, não mata.
Como bagagem, levamos, somente, o próprio coração. Leve e livre. Cheio de Deus.
É que o anúncio do Evangelho não se opera com ‘coisas’, ou com ‘truques’,
mas com o testemunho quotidiano de amor a Jesus e aos outros.
O sinal mais genuíno do reino é a Paz. A Paz de Deus. A Paz é a nossa primeira oferta.
Não nos detemos em minúcias que retardam a cadência urgente da missão.
Nas casas que nos acolhem, aceitamos, com gratidão e simpatia, o que nos é oferecido.
E curamos enfermidades. Muitas debelam-se com um simples sorriso ou um abraço.
Antes de sairmos, deixamos a boa notícia: o Reino de Deus está próximo.
Para um discípulo de Jesus, ser missionário não é algo opcional: faz parte do seu ADN.
A nossa tarefa é a de preparar os lugares e cidades aonde Jesus deseja ir.
Estamos ali, de passagem, para comunicar que Jesus quer estar ali.
Um grupo de discípulos está prestes a partir.
Mais alguém quer juntar-se a eles?

P. Carlos Jorge, in VENTO NESTE CAMINHO DE PEDRAS,
de P. Carlos Jorge (textos), Carina Tavares e João Afonso (ilustrações)
2021

A paz é a nossa primeira oferta

Perder a vida por Ele é ganhá-la para sempre

“Quem dizem as multidões que Eu sou?”
Jesus não está interessado em saber a posição que ocupa no ranking dos famosos,
Quer indagar como O estão a entender e a captar a sua mensagem.
Não deve ter ficado muito alentado com as informações fornecidas pelos discípulos.
Aquela pergunta de Jesus atravessou os tempos e chegou até nós:
“Quem dizem as pessoas de hoje que Eu sou?”
As respostas superam, em quantidade e originalidade, as de há 2016 anos atrás.
No meio delas, reaparece a segunda interrogação que Jesus havia colocado aos doze,
bem mais relevante do que a primeira:
“E vós, meus amigos e discípulos, quem dizeis que Eu sou?”
Jesus não se compraz com enunciações de catecismo ou declarações aduladoras.
Ele quer certificar-se de que estamos com Ele, não por engano, mas a sério.
E levamos Jesus a sério quando nos largamos de nós mesmos e nos lançamos n’Ele;
quando aceitamos os momentos de rejeição, de incompreensão, de agressão, de cruz,
por sermos de Jesus e por querermos viver como Ele, todos os dias;
quando testemunhamos, contestando a lógica corriqueira, que, ao lado de Jesus,
perder a vida por Ele, dar a vida por Ele, é ganhá-la para sempre.
“Quem sou Eu para ti?” — pergunta-te Jesus, olhos nos olhos.
Vacilas na resposta ou as palavras estão prontas a soltarem-se do teu coração?

P. Carlos Jorge, in VENTO NESTE CAMINHO DE PEDRAS,
de P. Carlos Jorge (textos), Carina Tavares e João Afonso (ilustrações)
2021

A paz é a nossa primeira oferta

Quem sou eu para ti?

Quem sou eu para ti? – pergunta-te a tua amiga.  Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te o teu esposo. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te a tua esposa. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te o teu filho. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te o teu pai. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te a tua mãe. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te o teu funcionário. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te o teu empregador. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te a tua vizinha. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te o teu avô. Quai a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te a tua neta. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te a Igreja. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou eu para ti? – pergunta-te a comunidade. Qual a tua resposta? É mesmo?
Quem sou Eu para ti? – pergunta-te Jesus. Qual a tua resposta? É mesmo?
Da resposta a esta interrogação de Jesus dependem todas as tuas outras respostas.
É que, com Ele, serás capaz de pintar todas elas com as cores do Céu.
Entendes?

PCJ

 

A paz é a nossa primeira oferta

Um Deus que dança

Quantos exploradores, ao longo dos tempos, se lançaram na fascinante aventura
de alcançarem e embrenharem-se na intelecção da Santíssima Trindade!
No decorrer do percurso acamparam aqui e ali. Em cada paragem, novas perquirições.
E partiam. Mais enriquecidos. Mas sempre incompletos.
No fim do itinerário nenhum deles conseguiu atingir o objectivo.
Devemos ficar surpreendidos?
Escreve Santo Agostinho nas linhas finais da sua obra De Trinitate (Sobre a Trindade):
“Um sábio, no livro que é conhecido com o nome de Eclesiástico, disse ao falar de Ti:
Dizemos muitas coisas e não chegamos, e toda a consumação das palavras é Ele.’
Quando, pois, chegamos a Ti,
cessarão estas muitas palavras que dizemos e não chegamos.”
Sim, tal como Agostinho e todos os outros, por mais que avancemos, não chegamos.
“Falamos de Deus. Qual a admiração se não compreendes?” (Santo Agostinho).
Somos buscadores de Deus. Vamos chegando. E zarpando. Mas não desistimos.
Adentramo-nos no Mistério, que não é algo que não se compreende,
mas algo que nunca acaba de se ir compreendendo. Há sempre mais estrada.
Jesus falou-nos d’Ele, do Pai e do Espírito.
O Pai que ama o Filho. O Filho que ama o Pai. O Amor entre o Pai e o Filho.
Num único Amor, Três: o Amante, o Amado, o Amor entre os dois.
Ou seja: 1 + 1 + 1 = 1. A matemática de Deus é diferente da nossa.
Gregório de Nazianzo “baptizou” a ligação e interpenetração das Três Pessoas,
com o termo
pericorese, que vem do grego antigo perichōrēsis:
peri (ao redor) e chōreō (dar espaço, mover-se).
Pericorese é o nome de uma dança infantil tradicional.
As crianças, de mãos dadas, bailam num padrão circular.
Uma criança fica no meio, cantando, enquanto as outras giram ao seu redor.
Em certo momento, a criança que está no meio troca com uma da roda.
Deus: Três Pessoas que dançam em volta de si mesmas.
É uma representação metafórica. Mas não é um belo ícone da Santíssima Trindade?
Tudo lá está: comunhão, unidade, cumplicidade, ternura, alegria, liberdade, paz.
E este Deus, Uno e Trino, convida-nos para a sua Dança.
Convoca-nos para viver n’Ele e como Ele.
Rejubila quando conseguimos reproduzir os ritmos da sua coreografia.
O filósofo alemão, Friedrich Nietzsche, escreveu na obra Assim falou Zaratrusta:
“Eu só acreditaria num Deus que soubesse dançar.”
O meu Deus Dança.
Quem quer juntar-se ao Baile?

PCJ
13/6/25

A paz é a nossa primeira oferta

 TAMBÉM NÓS TEMOS MEDOS

Também nós temos medos.
E encerramo-nos em salas blindadas. Portas e janelas trancadas.
Mas Tu, Jesus, quando menos esperamos, juntas-te a nós, e dizes-nos:
“A paz esteja convosco!”
E, para aluir o nosso espanto, iteras: “A paz esteja convosco!”
Nesse instante, exteriormente, nada se altera.
Mas, dentro de nós, algo amanhece.
A tua presença, contemplada com os olhos da fé, tranquiliza-nos.
O teu Espírito, o mesmo que sopraste sobre os discípulos, invade-nos e ressuscita-nos.
Perante a nossa intenção de nos rendermos ao cativeiro, Tu ordenas-nos:
“Saiam! Como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós.”
É surpreendente. Chamas pessoas medrosas, como eu, para sermos tuas testemunhas.
E ensinas-nos que a melhor forma de vencer os medos é enfrentá-los, não fugir deles.
Tu, não permites que fiquem encerrados, dentro de muros, aqueles que são teus.
Escreveu Montaigne: “O medo é a coisa de que tenho mais medo.”
Reconhecemos que, mesmo contigo, Senhor, nunca subjugaremos todos os medos.
Mas, ao teu lado, deixaremos de ter medo do medo.
Não teremos medo de perdoar, de amar, de acolher, de sorrir, de escutar, de servir,
de aceitar, de recomeçar, de abraçar, de acreditar, de esperar, de avançar, de sonhar.
Contigo, não teremos medo de ser santos!

P. Carlos Jorge, in VENTO NESTE CAMINHO DE PEDRAS,
de P. Carlos Jorge (textos), Carina Tavares e João Afonso (ilustrações)

 

A paz é a nossa primeira oferta

MAIS ALGUÉM QUER VIR?

Sabes, Senhor? Ainda bem que partiste, que foste arrebatado para junto do Pai.
Assim, podes estar, simultaneamente, ao lado de cada um de nós.
Ocultas-te aos nossos olhos, mas experimentamos a tua presença e a tua cooperação.
Percebemos isso, quando pensamos, falamos e agimos à tua maneira;
quando vemos os outros, todos os outros, como Tu os vês;
quando usamos a linguagem do amor e da simplicidade, que todos compreendem;
quando conseguimos expulsar assombros e mesquinhices que agrilhoam a alma;
quando resistimos aos venenos da idolatria do dinheiro, do culto do egocentrismo,
do mundanismo espiritual, da exaltação do consumo, da avidez lânguida do poder;
quando somos curadores de outros, mesmo quando, nós próprios, estamos magoados;
quando Te testemunhamos “não só com palavras mas com a vida transfigurada por Ti”.
Ascendeste ao Céu, de onde vieste. Mas permaneces connosco, como prometeste.
Contigo, aceitamos ir pelo mundo inteiro “anunciar com ousadia, em voz alta,
e em todo o tempo e lugar, mesmo em contracorrente, a novidade do Evangelho”.
Estamos de partida.
Mais alguém quer vir?

P. Carlos Jorge, in VENTO NESTE CAMINHO DE PEDRAS,
de P. Carlos Jorge (textos), Carina Tavares e João Afonso (ilustrações)