CRÓNICAS & OPINIÃO

Nasceu em Lisboa, a 27 de janeiro de 1957, sendo o mais velho de cinco irmãos. Frequentou, durante 6 anos, o Curso de Engenharia Eletrotécnica no Instituto Superior Técnico. Entrou no Seminário em 1985, tendo sido ordenado Presbítero a 7 de julho de 1991. Além de ser pároco da Amadora, atualmente é também Conselheiro Espiritual de quatro Equipas de Casais de Nossa Senhora (ENS).

Eu estava lá

12/01/2025

Eu estava lá.
Vi João a mergulhar Jesus nas águas.
Quando, após a ressurreição, entendi quem era Aquele Homem,
uma interrogação brotou, em mim: por que razão, o Filho de Deus, o Senhor,
se tinha deixado baptizar como um vulgar pecador, como eu, precisado de conversão?
A resposta foi tomando figura.
Através daquele rito, Jesus mostrou que aceitava descer ao nosso nível,
que queria confundir-se connosco, partilhar os ritmos da nossa vida quotidiana.
Não necessitava de passar por aquele momento, mas quis cumpri-lo.
Jesus mergulhou, não somente na água, mas na opacidade da nossa humanidade.
E percebi que, naquele instante de abraço entre a Eternidade e a Finitude,
os céus, silenciosos durante tanto tempo, tinham cancelado a sua mudez,
e deixaram jorrar a Palavra, a Comunicação perfeita de Deus: Jesus.
O Pai sorriu, encantado com o Filho muito amado, que partia em missão,
habitado pelo Espírito, que n’Ele estabeleceu a sua morada permanente,
como uma pomba se ajusta e é fiel ao seu ninho.
Eu estava lá, Jesus.
Vi-te a mergulhar nas águas.
E contemplei os céus a rasgarem-se e o Espírito a hospedar-se em ti.
Depois, ouvi a voz de Deus a proclamar:
“Tu és o meu Filho muito querido. A ti expresso toda a minha ternura.”
Compreendemos o dom que recebemos no Baptismo?

P. Carlos Jorge, in VENTO NESTE CAMINHO DE PEDRAS,
de P. Carlos Jorge (textos), Carina Tavares e João Afonso (ilustrações)