Os Dehonianos no Patriarcado de Lisboa

Os Dehonianos no Patriarcado de Lisboa

Os primeiros Dehonianos, vindos da Itália, chegaram a Portugal em finais de 1946, e estabeleceram-se na Ilha da Madeira, por indicação do madeirense D. Teodósio Clemente de Gouveia, então Arcebispo de Lourenço Marques. A Congregação recebera uma missão em Moçambique e, segundo as disposições da Concordata e do Acordo Missionário, entre a Santa Sé e a República Portuguesa, de 1940, devia abrir seminários em Portugal para a formação de missionários para as Colónias.

Em outubro de 1947, os Dehonianos abriram um seminário no Funchal. Foi o primeiro de outros depois abertos em Coimbra, Aveiro, Porto e Loures, que deram várias dezenas de religiosos e sacerdotes à Igreja em Portugal e às missões em Moçambique, Madagáscar, Índia, Angola, França, Canadá e Estados Unidos da América.

Igreja do Loreto, Lisboa

Ainda em 1947, os Dehonianos estabeleceram-se em Lisboa, primeiro no Bairro da Serafina e, em 1951, na Igreja do Loreto, ao Chiado, para servir a comunidade italiana residente em Lisboa. Desde o princípio, os Dehonianos do Loreto dispuseram-se a atender de confissão e direção espiritual as pessoas que frequentavam a igreja. Notabilizou-se o Padre Ângelo Favero que, durante mais de 60 anos, exerceu esse ministério, com grande apreço dos fiéis que o procuravam.

Em 1969, depois de dois anos, no Prior Velho, Sacavém, os Dehonianos estabeleceram-se em Alfragide, onde inauguraram o Seminário Nossa Senhora de Fátima e assumiram a pastoral da povoação. No mesmo ano, assumiram a responsabilidade da paróquia de Carnaxide. Graças ao trabalho de vários Dehonianos, surgiram as paróquias de Alfragide, Linda a Velha, Queijas, Outurela e Bairro da Boavista.

Residência paroquial da Rocha, Carnaxide

Em 1960, os Dehonianos abriram, em Loures, uma casa para a formação de irmãos religiosos, e assumiram o cuidado das Paróquias de Santo Antão do Tojal, S. Julião do Tojal, Fanhões e Vialonga. Mais tarde, deixando a responsabilidade dessas paróquias, assumiram as da Póvoa de Santa Iria e do Forte da Casa, onde se mantêm.

Atualmente têm uma comunidade paroquial no Santuário da Rocha e outra no Forte da Casa, a partir das quais servem as paróquias vizinhas.

Além destes serviços, do ministério na Igreja do Loreto e do Centro de Espiritualidade de Alfragide, os Dehonianos têm a sua Casa Provincial em Olivais-Sul, a partir da qual servem algumas comunidades religiosas e colaboram com diversos párocos, conforme o espírito de disponibilidade que os carateriza.

Além destes serviços, no Patriarcado de Lisboa, dois dehonianos exercem a missão de capelães hospitalares.

Ainda na região da Grande Lisboa, mas já na diocese de Setúbal, os Dehonianos têm ao seu cuidado as paróquias de Santo André, no Barreiro, de S. Lourenço, em Alhos Vedros e de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Moita.

A exemplo do Padre Leão Dehon, em sintonia com os sinais dos tempos e em comunhão com a vida da Igreja, os Dehonianos, no Patriarcado de Lisboa, como noutras Igrejas, querem contribuir para a instauração do Reino da justiça e da caridade cristã no mundo, o Reino do Coração de Jesus.

 

 

Os Dehonianos no Patriarcado de Lisboa

Centro de Espiritualidade de Alfragide

O Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Alfragide, inaugurado a 29 de novembro de 1969, pertence à Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos). A sua principal missão era a formação de religiosos e sacerdotes para o serviço da Igreja, segundo um estilo específico, inspirado no Padre Leão Dehon, fundador da Congregação. Em 2022, os formandos passaram para a Casa Provincial, em Olivais-Sul.

Seminário/Centro de Espiritualidade de Alfragide

Atualmente, o Seminário de Nossa Senhora de Fátima, totalmente remodelado em 2007, funciona como Centro de Espiritualidade, que, para além de acolher grupos e diversas ações formativas, promove encontros pastorais para bem servir a sociedade e a Igreja, segundo o carisma dehoniano.
O Centro de Espiritualidade oferece um amplo reportório de iniciativas que contemplam: a oração, a celebração, a vida espiritual, a devoção, a peregrinação, a formação, o estudo, a ação social e o voluntariado.

Destacamos iniciativas como retiros nos tempos fortes para leigos e consagrados (Advento, Quaresma e Coração de Jesus); retiros de dois dias; retiros para consagrados; acompanhamento e direção espiritual; confissões; jornadas de estudo sobre o Padre Dehon e o Coração de Jesus; divulgação do carisma dehoniano; formação para agentes pastorais; devoção das Primeiras Sextas-feiras e dos Primeiros Sábados; encontros vocacionais; formação para acólitos e crismandos; vigílias de oração; missa dominical, de setembro a maio; Lectio divina durante os tempos de advento e quaresma; visita aos sem-abrigo; festa das missões, jornada dehoniana, festa dos benfeitores; peregrinação a Fátima; voluntariado missionário (ALVD); conferências temáticas e publicações.

Aceitamos a orientação de retiros para Leigos, religiosos e sacerdotes nas nossas instalações e nas paróquias, dioceses ou noutros institutos religiosos.
Apoiamos Comunidades Neocatecumenais, Grupos de Peregrinos, Iniciativas pastorais das paróquias e dos Colégios Católicos…
Publicamos diariamente, no Facebook, o Evangelho do dia, com um breve comentário, uma brevíssima oração e um pensamento do Venerável Padre Dehon.
Ainda no Facebook, publicamos, com frequência, pequenos textos sobre o Padre Dehon, a nossa História e a nossa Espiritualidade.

O caráter dehoniano do Centro de Espiritualidade revela-se na presença assídua de religiosos dehonianos nas iniciativas desenvolvidas, nos conteúdos refletidos nas diversas iniciativas, na divulgação e promoção da identidade dehoniana, dos escritos do Fundador, da devoção ao Sagrado Coração de Jesus e a Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, de iniciativas de caráter formativo e social, de amor à Igreja e de envolvimento dos leigos na vida e na pastoral eclesial.

Os desafios atuais do Centro de Espiritualidade são: continuar a ação pastoral que tem desenvolvido; desenvolver um estilo de exercícios espirituais em consonância com a espiritualidade dehoniana; ampliar o público alvo com interesse pelas inquietações da humanidade de hoje, pela espiritualidade e pelo carisma dehoniano; aproveitar melhor os impulsos atuais da Igreja numa perspetiva dehoniana (sinodalidade, ecologia integral, Igreja em saída, atenção aos pobres e emigrantes); continuar a divulgação da espiritualidade dehoniana através de traduções e de estudos a publicar nos meios de comunicação social; promover um programa adequado aos jovens.

O acolhimento de pessoas e de grupos, nomeadamente trabalhadores, alunos de escolas e movimentos eclesiais, é outra importante função do nosso Centro. Para isso, dispomos de capelas, quartos, salas, refeitórios e outros espaços, como um auditório que pode acolher 250 pessoas sentadas, com adequadas instalações para tradução simultânea, iluminação, som e projeção de filmes.

A todos queremos acolher e servir com a cordialidade que, desejamos, nos caraterize, de acordo com a espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus, que procuramos viver e promover entre o Povo de Deus.

 

 

 

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A devoção ao Coração de Jesus

Em junho, ocorre normalmente a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus e, por tradição, todo o mês lhe é dedicado.

Imagem da capela do Seminário de Alfragide

A devoção ao Coração de Jesus, tão querida do nosso povo cristão, tem as suas raízes na Sagrada Escritura, particularmente nos escritos de São João Evangelista e nas Cartas de São Paulo. Os Padres da Igreja deram grande atenção ao mistério do Lado aberto do Salvador. Os monges e monjas medievais, ao contemplarem as Santas Chagas do Crucificado, detiveram-se particularmente na do Lado e penetraram até ao Coração do Senhor. A devoção, inicialmente de elites espirituais, popularizou-se depois das aparições a Santa Margarida Maria Alacoque, iniciadas em 1673.

O Papa Francisco dedicou a sua última encíclica, a Dilexit nos [1](Amou-nos), ao Sagrado Coração de Jesus. É uma fonte de inspiração para quem se propõe conduzir uma vida cristã cordial, centrada em Cristo e atenta aos irmãos. Francisco retoma a tradição e a atualidade do pensamento da Igreja “sobre o amor humano e divino do coração de Jesus Cristo”, convidando-nos a renovar a nossa devoção para não esquecermos a ternura da fé, a alegria de nos colocarmos ao serviço e para nos animarmos a um novo impulso missionário. No Coração de Cristo, “reconhecemo-nos e aprendemos a amar”, tornamo-nos “capazes de tecer laços fraternos, de reconhecer a dignidade de cada ser humano e de cuidar juntos da nossa casa comum”, de avançarmos na experiência espiritual pessoal do Senhor e no compromisso comunitário e missionário. Francisco acredita que o nosso mundo, graças à devoção ao Coração de Jesus, “possa recuperar o que é mais importante e necessário: o coração”. O amor de Deus revelado em Jesus Cristo é fonte que nos impulsiona a amar os outros, a mudar a sociedade e a construir a paz através do diálogo e do respeito pelo próximo.

A encíclica Dilexit nos foi um precioso legado que o saudoso Papa Francisco deixou à Igreja. Nós, Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos, recolhemo-lo com muita gratidão. A encíclica anima-nos na vivência da nossa vocação e missão, porque nela encontramos elementos fundamentais do nosso carisma: a importância dada ao Lado aberto e ao Coração trespassado do Salvador, máxima expressão do seu amor divino e humano; a espiritualidade oblativa que nos inspira a unir-nos a Cristo no seu amor ao Pai e aos homens; a indicação do valor a dar ao coração e à cordialidade, estilo de presença e de ação que procuramos cultivar; a proposta de uma espiritualidade que nos abre à missão e ao serviço dos irmãos. Para Francisco, como para o Padre Dehon, a contemplação do Lado aberto e do Coração trespassado de Cristo impele-nos a corresponder ao seu amor, a inserir-nos no movimento redentor que Ele iniciou no mundo, e a doar-nos aos irmãos com e como Ele. A nossa adesão cordial a Cristo empenha-nos no apostolado e no serviço das pessoas.

Fundador com as Constituições da Congregação (Regra de Vida) e a imagem do Sagrado Coração de Jesus

Uma das dimensões da devoção ao Coração de Jesus é a reparação. Francisco aponta-a como “unir o amor filial para com Deus ao amor do próximo”. E acrescenta: “É essa a verdadeira reparação pedida pelo Coração do Salvador… com Cristo, somos chamados a construir uma nova civilização do amor. “Isto é reparar conforme o que o Coração de Cristo espera de nós…” Ele “quis precisar da nossa colaboração para reconstruir a bondade e a beleza”.

Estas perspetivas constam nas Constituições da Congregação, que apresentam a reparação como “acolhimento do Espírito”, “resposta ao amor de Cristo por nós”, “comunhão no seu amor ao Pai”, “cooperação na sua obra redentora no coração do mundo”. Esta cooperação inclui o anúncio da Boa Nova e a promoção dos pobres e pequenos. Foi esse o modo como Leão Dehon entendeu e viveu a devoção ao Coração de Jesus e a reparação.

As práticas tradicionais de devoção: Primeiras sextas-feiras, Missa e Comunhão reparadoras, Adoração eucarística e Hora Santa, recitação das Ladainhas e festa do Sagrado Coração de Jesus, oferta das obras do dia e Ato de desagravo continuam válidas para alimentar a devoção. Sem elas, corremos o risco de esquecer a própria devoção. Mas o culto ao Coração de Jesus, como Francisco ensina, leva necessariamente a procurar “o crescimento das pessoas na sua dignidade humana e como filhos e filhas de Deus, com base no Evangelho e nas suas exigências de amor, perdão, justiça e solidariedade”.

 

[1] https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/20241024-enciclica-dilexit-nos.html

 

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Leão Dehon

O Padre Leão Dehon, fundador da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos, nasceu a 14 de março de 1843, em La Capelle, diocese de Soissons, em França.

 

A família e os estudos e a vocação

Filho de uma família burguesa rural, recebeu uma boa educação. A mãe, Estefânia Vandelet, mulher piedosa, formou-o na fé e transmitiu-lhe a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. O pai, Júlio Dehon, homem bom, não frequentava a igreja. Aos 14 anos de idade, Leão sentiu o apelo de Deus para se tornar sacerdote. O pai opôs-se. Tinha outros sonhos para o filho. Assim, quando concluiu os estudos liceais, Leão matriculou-se em Direito, na Sorbonne.

@ Dehonianos

Doutor em Direito

O jovem estudante encontrou em Paris bons sacerdotes que o ajudaram a crescer na fé e a dar resposta à sua vocação. Todas as manhãs, antes de sair para as aulas, com o amigo Leão Palustre, estudante de História e Arqueologia, rezava, lia e meditava a Sagrada Escritura. Os dois jovens empenharam-se também na catequese das crianças, na Conferência de São Vicente de Paulo, e frequentavam os grupos de estudantes que debatiam questões políticas, sociais e religiosas da atualidade.

Aos 21 anos, Leão Dehon alcançou o grau de doutor em Direito Civil. Regressou à sua terra e, em casa, informou os pais de que estava decidido a cumprir o sonho de ser sacerdote. Gerou-se grande tensão na família. O pai continuava a opor-se. A mãe chorava. Interveio o amigo Leão Palustre, que o acompanhara, propondo ao Sr. Júlio Dehon que deixasse o filho acompanhá-lo numa viagem pelos Balcãs, Grécia, Egito e Médio Oriente. Júlio Dehon aceitou a proposta, na esperança de que a viagem fizesse esquecer ao filho a vocação.

@ Dehonianos

Peregrino no Médio Oriente

Os dois amigos partiram para uma longa viagem de nove meses. O interesse pela arte, pela história e pela arqueologia dominou-lhes o espírito até chegarem a Jerusalém. Ali, como recorda Leão Dehon, a viagem tornou-se fervorosa peregrinação, até porque chegaram em plena Semana Santa. O jovem doutor mais se firmou no propósito de se tornar sacerdote.

 

Em Roma

No regresso, ao chegarem à Áustria, Leão Palustre prosseguiu a viagem para França, enquanto Leão Dehon seguiu para Roma. Ali conseguiu uma audiência com o Papa Pio IX, a quem expôs o seu projeto vocacional. O Papa aconselhou-o a matricular-se no seminário francês junto ao Panteão. Dehon foi a França despedir-se da família e regressou a Roma para iniciar a sua formação com vista ao sacerdócio.

Na Cidade Eterna, Leão Dehon doutorou-se em Filosofia, Teologia e Direito Canónico. Participou como estenógrafo no Concílio Vaticano I, facto que lhe deu uma excelente experiência e visão da Igreja. Foi ordenado sacerdote a 19 de dezembro de 1868, celebrando missa nova no dia seguinte. Os pais participaram nas celebrações. O Sr. Júlio Dehon, finalmente rendido, voltou à prática religiosa.

@ Dehonianos

Na fundação da Congregação

Em novembro de 1871, o jovem sacerdote tornou-se sétimo vigário na Basílica de S. Quintino, na sua diocese, Soissons. Preocupado com a situação religiosa e social da paróquia, iniciou uma série de atividades que culminaram na Obra de São José, verdadeiro centro paroquial com diversas valências para apoio de crianças, adolescentes, jovens, adultos e famílias. Ali era dada a todos boa formação cristã, cívica e social. Havia uma caixa de poupança para os operários e uma cooperativa para construção de casas. Círculos, ou grupos de estudo, procuravam dar formação adequada a operários e patrões. Para a Juventude, Dehon criou o Colégio São João. Para divulgar a doutrina social da Igreja, organizou congressos, criou um jornal, escreveu em revistas e publicou diversos livros que tiveram grande sucesso.

Em 1878, o Padre Dehon emitiu os seus votos religiosos diante de uma bela imagem de Nossa Senhora do Sagrado Coração, que lhe fora oferecida por Pio IX. Assim deu início à Congregação dos Sacerdotes do Coração do Jesus, ou Dehonianos, que vivem da sua inspiração evangélica e continuam a sua missão na Igreja e no mundo.

Depois de uma vida longa e intensa, ao serviço do Reino do Coração de Jesus, o Padre Dehon faleceu santamente a 12 de agosto de 1925, em Bruxelas. Celebra-se este ano o centenário da sua morte e inicia-se um período de preparação para o jubileu dos 150 da fundação da Congregação, em 2028.

Com o seu grande amor ao Coração de Jesus, o Padre Dehon cultivava uma especial devoção ao Coração Imaculado de Maria e a Nossa Senhora do Sagrado Coração… Escolheu como saudação habitual entre os seus religiosos a expressão: “Viva o Coração de Jesus; por meio do Coração de Maria”. A seu exemplo, os Dehonianos prestam particular amor ao Coração de Jesus, na sua disponibilidade para cumprir a vontade de Deus Pai — Eis-me aqui! — e grande devoção a Maria, também ela disponível para os projetos de Deus Pai: eis a serva do Senhor!