Saltar para um novo ano escolar

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É ainda em tempo de férias que assistimos à chegada em força das campanhas de regresso às aulas nos supermercados. Independentemente da faixa etária em que estejam os nossos filhos, estas campanhas – bem como outros “sinais” na sociedade – relembram-nos que um novo ano escolar está a chegar. Ainda que não tenhamos necessariamente de comprar novo material escolar, é indubitável que se está a aproximar um novo começo.

Se este é um tempo de novidade, de novas possibilidades para os nossos filhos (e, indiretamente, para nós), e, por isso, da alegria que nos vem do seu crescimento, assalta-nos também um sentimento de alguma ansiedade. Lembramo-nos ainda do momento em que o nosso filho entrou no jardim de infância e começou uma nova fase, numa nova escola (onde não conhecia nenhum colega), com novas educadoras, rotinas, espaços e desafios. Foi o momento em que ele deixou uma realidade conhecida: a creche, onde esteve 3 anos, onde já conhecia as educadoras e os colegas. Para além de estarmos entusiasmados com as possibilidades que a nova escola lhe poderia oferecer, o nosso coração ficava também um pouco mais “apertado” por sabermos que um mundo “desconhecido” se abria à sua frente.

Será que vai sentir a falta dos antigos colegas? Será que vai estabelecer uma ligação com os novos e sentir-se bem? Conseguirá ele criar empatia com as educadoras? Dar-se-á bem com as novas rotinas?Todas estas questões invadiam – cremos que legitimamente – o nosso pensamento. No entanto, nestes momentos de mudança e, apesar, de todas estas dúvidas, quisemos acreditar que tudo seria ultrapassado, até porque, para as crianças, tudo poderá ser mais simples do que para nós, adultos, que por vezes podemos pensar demais.

Nestes momentos de mudança na vida dos nossos filhos, parece-nos que, como em muitas outras situações, o acolhimento é o mais importante. E não falamos apenas do acolhimento que possa ser feito numa nova escola, mas – e sobretudo – do acolhimento daquilo que eles próprios estão a viver.

Em primeiro lugar, é importante validar o que estão a sentir. De facto, em todas as mudanças na vida, há algo que se perde, há um ciclo que se fecha, mas isto não tem de ser necessariamente “pesado”. É imprescindível aceitar que os nossos filhos sintam que vão ter saudades dos amigos, da escola antiga, das educadoras e de tudo o mais que lá viveram. No entanto, não tem de ser dramático. Podemos validar todos esses sentimentos, mas indicar-lhes um “horizonte de esperança”. Podemos falar-lhes do quanto se vão divertir no espaço da nova escola, das coisas novas que vão aprender e dos novos amigos que vão fazer, o que pode ajudar a minimizar este efeito de perda. Motivar para o bem que está para chegar é fundamental sem, no entanto, desvalorizar aquilo que já tinham.

E eis que chega o primeiro dia na nova escola: vamos levá-lo, com algum nervosismo à mistura (talvez até mais que o nosso filho?) e ficamos um pouco mais até as educadoras nos dizerem (e nós percebermos) que ele está a ambientar-se bem e que podemos ir embora. A despedida foi rápida e teve a garantia de que voltaríamos ao fim do dia. E também aqui é importante acolher. Desta feita, acolhemos aquilo que nós próprios sentimos. Devemos aceitar que este turbilhão de sentimentos é absolutamente normal e aprender a geri-lo da melhor forma, acreditando que o nosso filho terá a capacidade de superar o “desafio”. Hoje, ao recordar, parece que, durante todo aquele dia, andámos com o “coração nas mãos”, à espera que passasse para estarmos junto do nosso filho e saber como tudo correu. “Não houve nenhum telefonema da escola? Ok, então isto pode querer dizer que está tudo bem”, pensámos. Afinal de contas: “No news, good news”!

Chegado a casa, acolhemos mais uma vez. Expectantes, ouvimos tudo o que o nosso filho tinha para nos contar sobre o primeiro dia na escola nova. E que bom foi saber que ele foi bem acolhido e o seu ritmo de adaptação foi respeitado. Que maravilhoso foi ver o brilho nos seus olhos ao falar dos novos brinquedos e dos novos espaços que tem para explorar e dos amigos com quem brincou. Sabemos que nem sempre há a sorte de o acolhimento ser tão bem feito nas escolas, mas acreditamos que, ainda assim, haverá algo positivo a retirar e podemos motivar e incentivar as crianças a acreditar que amanhã será melhor.

Naquele dia, o nosso filho Guilherme falou-nos de um elemento que ele tinha gostado particularmente na nova escola: um trampolim. Chegou, inclusivamente, a dizer que no dia seguinte queria ir novamente para a escola para voltar a saltar. E, focando-nos nesta imagem, talvez esteja aqui mesmo a “chave” para acompanharmos as mudanças na vida dos nossos filhos: enquanto pais, enquanto família, podemos ser trampolim. Seremos aqueles que “absorvem” o impacto do salto de um novo começo, acolhendo tudo aquilo que eles sentem, e, simultaneamente, seremos também nós a impulsioná-los a enfrentar os desafios com a energia de quem pula bem alto, “para o infinito e mais além”, porque acreditamos no potencial que têm e no facto de serem uma dádiva de Amor ao Mundo.

 

 

14/08/2025
De família para família

Autor

  • A Daniela é conhecida por “Dani”. É uma “miúda” de 36 anos, metódica, que gosta de ter algum controlo sobre as circunstâncias da vida (ahahah!!! – como se isso fosse possível!). Cristã “assumida” há apenas 20 anos, quando foi desafiada por aquele que viria a ser o seu animador, a “vir e ver” os encontros do grupo de jovens aos sábados à noite. Foi aqui, na paróquia, que tão bem a soube acolher, que a Dani aceitou vários desafios pastorais, todos eles relacionados com a pastoral juvenil. Muitas pessoas tratam o Nuno por "Pássaro". Tem 36 anos, gosta de simplificar conceitos científicos complexos para serem acessíveis a todos e trabalha na área da Comunicação de Ciência. É cristão desde que se lembra e isso faz parte da sua identidade. Grande parte da sua caminhada de fé foi feita na Capela de Santo António da Mina, tendo estado ligado à pastoral juvenil na nossa paróquia durante alguns anos. Para além de nenhum deles ser tratado pelo seu nome próprio, têm em comum o facto de se terem conhecido em atividades da Comunidade Juvenil da paróquia, de serem casados e pais do Guilherme, de 3 anos. De momento, estão ligados à pastoral familiar da nossa comunidade, fazendo parte do grupo de namorados TONS e sendo um dos casais dinamizadores dos Encontros de Preparação para o Batismo. Acreditam que o acolhimento é o mais importante e que o Amor, nas várias formas por que se manifesta, salva vidas!

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