Chegámos a França, mais concretamente a Paris, em setembro de 2023, depois de um ano muito intenso com a preparação da JMJ e a ida do Grupo Pioneiro do nosso Agrupamento 55 a Kandersteg na Suíça. Eu comecei a desempenhar funções numa instituição europeia, em outubro, e os nossos filhos iniciaram o ano letivo na Secção Inglesa da Escola Europeia. Este pequeno texto retrata como vivemos a nossa fé longe de casa e como esta é também uma história de encontros entre pessoas e Comunidades.
Existe quem diga, em tom de brincadeira, que “Paris é a segunda capital mais populosa de Portugal”. Efetivamente, vivem mais de 200.000 portugueses em Paris e isso nota-se. Quando andamos por Paris ou outras cidades francesas, ouvimos quase sempre alguém falar português ou alguém que nos diz que é descendente de portugueses. Além disso, como o estilo da Baixa Pombalina é próximo dos boulevards franceses, quando caminhamos na cidade quase nos esquecemos que não estamos em Lisboa. Logo, não temos como não nos sentir em casa.
Aqui em Paris inscrevemos os nossos filhos na catequese em português e participamos nas celebrações da Igreja de Notre-Dame de Fátima Marie-Médiatrice. O nosso Santuário foi construído para agradecer à Virgem Maria a proteção da cidade de Paris durante a ocupação alemã e foi confiado à Comunidade Portuguesa de Paris. A catequese é em português, aos domingos de manhã, e a celebração da eucaristia dominical das 11h é também em português. Nos últimos dois anos é aqui que temos feito o nosso caminho de fé com os nossos filhos.
No ano passado, o nosso filho participou no FRAT, encontro de jovens cristãos da região de d’Île-de-France, em Jambville, e no fim do ano catequético fizeram uma visita à cidade medieval de Provins, onde se divertiram a fazer jogos e a conhecer a cidade. Pelo caminho houve ainda tempo para uma celebração especial, após a reabertura da Catedral de Notre Dame, com os jovens da Diocese de Paris. Este ano o Grupo de Jovens da Paróquia prepara a sua participação no Jubileu dos Jovens, em Roma, e os nossos filhos preparam-se para a sua Confirmação e Primeira-Comunhão.
Enquanto pais acompanhamos e apoiamos, de perto, o crescimento na fé dos nossos filhos e mantemo-nos ao serviço da nossa Comunidade para aquilo que esta necessita.
Sempre que estamos em Portugal, tentamos ir à Paróquia da Amadora para participar na celebração da Eucaristia e dar um abraço ao nosso querido Padre Carlos, que tanto gostamos de rever.
Como dizia o nosso Pároco, o Padre Nuno, aqui em Paris, esta manhã na celebração do Domingo de Pentecostes, o “Espírito Santo ajuda-nos a criar Unidade na Diversidade, e a construir uma Comunidade que se enriquece com essa diversidade”, mas para isso, acrescentaríamos, temos de estar dispostos a sair do “sepulcro” e abrirmo-nos aos outros, porque, como escreveu Santa Teresa de Lisieux, “Quem ama faz sempre comunidade, não fica nunca sozinho”.
A vida fora de Portugal tem sido bastante agradável, já que eu consegui adaptar-me muito bem às diversas adversidades que normalmente se encontram quando se está fora do país. Pessoalmente, tenho facilidade em integrar-me em grande parte das sociedades e desta vez não foi exceção. O Canadá é um país muito inclusivo, com uma diversidade cultural vasta e que aceita todo o tipo de culturas. São poucas as vezes que se encontra alguém nativo de cá, pelo menos na cidade onde resido, e isso demonstra quão diferente a sociedade é.
No que toca na vivência da fé, confesso que foi muito difícil vivê-la, já que muitas das vezes caía no esquecimento de rezar ou mesmo pensar em algo relacionado com a religião. No entanto, todas as semanas pensava para mim mesmo, “estou mesmo a viver um sonho, algo que sempre quis fazer e que muita gente adoraria fazer. Resta-me agradecer a toda a gente que me apoiou e me ajudou a realizar este meu objetivo, pois somos todos dependentes um dos outros e sem ajuda externa não conseguimos alcançar o que quer que seja. O facto de estar aqui deve-se a ajuda de toda a gente que acreditou em mim e no meu potencial e agradeço do fundo do coração a todas essas pessoas”. Considero que estes pensamentos que tenho de vez em quando se podem considerar orações, pois são conversas que temos com Deus.
Quanto ao que tenho mais saudades, certamente diria a comida, os amigos e a família. Dos últimos dois diria que é possível colmatar a saudade, porém, no que toca à comida, é muito mais difícil matar as saudades. No início, uma pessoa estranha o desconhecido, mas, ao mesmo tempo, tem coragem de ir descobrir o que não conhece. Depois de se habituar à diversidade de comida existente torna-se tudo mais fácil. Só não há é nada que iguale ou supere aquilo a que mais estamos habituados: a nossa casa. No fim, acaba tudo por ser algo que gira em torno da adaptação. Pode-se estar longe de casa, mas nada nem ninguém impede que se construa uma nova com a ajuda de pessoas que vêm de diferentes partes do mundo. Por se partilhar essa diferença, tornamo-nos todos iguais e essa união faz de nós família.
Em vésperas do Dia de Portugal, que anualmente assinalamos a 10 de junho, a Agência Ecclesia entrevistou o constitucionalista Jorge Bacelar Gouveia para falar sobre o Portugal atual e os desafios humanos que se lhe colocam.
A entrevista a Jorge Bacelar Gouveia foi emitida no programa 70×7 deste Domingo, 8 de junho, tendo ficado disponível no canal YouTube da Agência ECCLESIA.
Abaixo deixamos a transcrição do resumo da entrevista (publicada no site da agência dia 7 de junho) e deixamos-lhe o vídeo do programa.
Não perca nos próximos dias os testemunhos de paroquianos que vão viver o próximo dia de Portugal longe do País.
Transcrição do resumo da entrevista da Agência Ecclesia
O constitucionalista Jorge Bacelar Gouveia afirmou que as elites da sociedade portuguesa “estão bastante corrompidas”, disse que a imigração “de questão se tornou um problema” e que as Igrejas se deviam “sentir mais no espaço público”.
“Às vezes sinto que há uma certa contenção, há uma certa inibição do discurso das Igrejas, em particular da Igreja Católica, acho que se devia sentir mais no espaço público”, afirmou o professor de Direito em entrevista à Agência ECCLESIA.
Referindo-se ao discurso religioso na sociedade, Jorge Bacelar Gouveia referiu que “ou esse discurso existe, mas não é ouvido pela opinião pública, o que é mau, ou então ele não existe com a força e com a habilidade que devia ter”.
Talvez seja mais esta a segunda opção… E, portanto, penso que é necessário que a Igreja procure essa maior intervenção social, digamos aqui numa evangelização da opinião pública, ou de uma re-evangelização da opinião pública”.
Jorge Bacelar Gouveia lembra que a intervenção na sociedade “é um dever muito importante”, mas “não é fácil” porque “pressupõem dirigentes eclesiásticos com capacidade de comunicação, com carisma”
“Sabemos que as pessoas com carisma não abundam, mas é uma necessidade! E é necessário procurar os vários mercados da opinião pública para chegar lá com as várias mensagens boas que têm, que a doutrina católica pode dar às pessoas”, acrescentou.
Para o constitucionalista, que há cerca de um ano publicou a obra “Direito da Religião – Laicidade, Pluralismo e Cooperação nas relações Igreja-Estado”, é “sempre mal” quando um partido usa a religião “para fazer prevalecer os seus interesses ou para fazer captar o voto dos eleitores”.
“Não há um voto religioso, mas há um voto que deve considerar elementos de natureza religiosa”, indicou.
“A religião não pode ser usada como um fator para polarizar e instrumentalizar o voto. Mas ao mesmo tempo digo que as religiões têm a obrigação, têm o dever moral e até religioso de intervir na discussão política, têm todo o direito e até o dever de esclarecer os cidadãos sobre aquilo que os programas de partidos apresentam, e não digo dar instruções, mas dar conselhos aos seus fiéis sobre quais são os partidos que melhor correspondam aos seus programas”.
A entrevista a Jorge Bacelar Gouveia, que vai ser emitida este domingo no programa 70×7 (na RTP2, desta vez às 7h30), acontece no contexto do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que se assinala a 10 de junho, e foi uma ocasião para o constitucionalista recordar os valores da portugalidade.
“Uma certa suavidade no trato, o acolhimento entre as pessoas, a pessoa sentir-se bem neste país, sentirmos que é a nossa casa, não sermos um país de ruturas, nem de conflitos, nem de graves contradições”, afirmou o professor de Direito sobre os valores que caraterizam a sociedade portuguesa.
O constitucionalista lembrou ainda que a identidade portuguesa “também se baseia no cristianismo”, que faz parte da “matriz de fundação do país”, com a consequente “absorção dos valores cristãos, no que respeita, por exemplo, ao casamento, no que respeita aquilo que é a família”.
Bacelar Gouveia disse que a imigração “é o tema da atualidade”, que “de questão se tornou um problema”, avaliado entre as limitações de Portugal nos seus recursos e a necessidade de “pessoas que venham de fora para ajudar o desenvolvimento”.
Para o professor de Direito, que considera um “erro enorme” a extinção do SEF, Portugal tem de “defender da predação e da escravatura” os imigrantes, muitas vezes sujeitos a “crimes de imigração”, como as redes de tráfico, acrescentando que quem chega a um país tem de “se conformar com os deveres de integração na própria sociedade e os deveres de não pôr em causa os valores coletivos que são aquela identidade que caracteriza Portugal”.
Na entrevista à Agência ECCLESIA, o professor catedrático referiu-se ainda às elites da sociedade portuguesa, “quer na política, quer na justiça, quer nas universidades”, considerando que “estão bastante corrompidas”.
Há uma grande mediocridade que eu sinto em muitas decisões profundamente ilegais, grosseiras, e essas pessoas não têm qualquer problema em praticar os atos mais ilegais que se possa imaginar, e isso é uma coisa que me choca”.
A respeito do ensino universitário, Jorge Bacelar Gouveia denunciou “uma progressiva fragilização da autoridade científica dos docentes e das elites, que estão a pensar sobretudo em ganhar mais alguns tostões, em ganhar mais alguns concursos na Fundação para a Ciência e a Tecnologia, ou viver a vida toda de subsídios internacionais, mas não estão muito preocupados em produzir valor”.
É já amanhã, 14 de junho, que se realiza a Caminhada Missionária do Patriarcado de Lisboa 2025. Este ano, o valor das inscrições de todos os que participarem reverterá para a Paróquia da Sagrada Família, em Gaza, onde estão refugiadas cerca de 500 pessoas.
A inscrição tem o valor de 10 euros, sendo o montante angariado entregue à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, que por sua vez o fará chegar à Paróquia de Gaza
Quem quiser participar na caminhada (ou simplesmente fazer o seu donativo) deve registar-se através do formulário disponível no site do Patriarcado de Lisboa.
O MEDO é uma reação natural quando sentimos uma ameaça ou perigo, seja real ou da nossa imaginação. O medo ajuda-nos a protegermo-nos, alerta-nos para evitar situações que nos possam prejudicar. É uma resposta do nosso corpo para que nos mantenhamos seguros, no entanto, em certas circunstâncias, pode ser exagerado, desnecessário ou (des)propositado.
A MENTIRA, dito de forma simples, é quando alguém diz algo que sabe que não é verdade, com intenção de enganar, de esconder algum facto ou para obter algum benefício. A mentira pode surgir para evitar problemas, para proteger alguém, ou para manipular. Podemos mentir sem perceber, devido a uma confusão ou mal-entendido, mas quando alguém sabe que o que está a dizer é falso considera-se que é uma mentira intencional, gerando desconfiança, dúvida, confusão e MEDO.
O medo é uma arma poderosa na política, é usado para influenciar e controlar. Os líderes ou grupos políticos despertam o medo na sociedade para poderem ter apoio para as suas ações ou políticas, de preferência sem serem questionados. O medo é muitas vezes utilizado para criar um sentimento de urgência ou ameaça, e isso faz com que se aceitem medidas que, de outra forma, poderiam parecer injustas ou excessivas. É uma estratégia que, quando bem aplicada, consegue mobilizar a opinião pública e consolidar o poder político.
Alguns exemplos históricos de como o medo foi usado como ferramenta política:
– Joseph McCarthy, senador americano, para ganhar as eleições e seguindo a sugestão de um padre católico, lançou-se numa cruzada contra o comunismo. Entre 1950 e 1957 fez acusações sem apresentar provas concretas. A atmosfera de paranoia e medo devido às investigações, à suspeição e repressão resultou num período a que chamaram “Terror Vermelho”.
– Adolf Hitler, na Alemanha Nazi, para ganhar apoio, explorou o medo devido à crise económica, ao desemprego e à ameaça comunista. Usou propaganda para criar um sentimento de ameaça constante que justificava as suas políticas autoritárias e a perseguição de minorias, tendo sido os judeus as suas principais vítimas – morreram durante o Holocausto entre cinco a seis milhões de judeus.
– Estaline, na União Soviética, no período de repressão, fez reinar o medo da prisão e da morte, usando-o para poder controlar o povo. A propaganda sobre a expurga criou uma atmosfera de suspeição, em que qualquer um poderia ser considerado inimigo do Estado, fortalecendo, desta forma, o autoritarismo.
O medo do que é diferente é uma estratégia comum usada na política e na sociedade para criar divisões e consolidar o poder. Quando as pessoas têm medo do que é diferente — sejam diferenças culturais, étnicas, religiosas ou de opinião — surge o preconceito, a intolerância e a exclusão e, como consequência, cria-se um sentimento generalizado de insegurança, levando a que se apoiem medidas que reforçam a discriminação, a repressão e a violência contra grupos considerados “diferentes”.
O medo da imigração tem vindo a ser aproveitado de forma política por alguns líderes, para ganharem apoio e promoverem políticas restritivas, reforçando o nacionalismo, desviando a atenção de outros problemas para os quais não apresentam soluções viáveis. Esta estratégia aumenta a divisão social e cria uma perceção negativa sobre os imigrantes.
O medo leva ao afastamento das pessoas. Quando alguém tem medo, prefere isolar-se, evita o contacto ou afasta-se. Essa reação é uma forma de autopreservação, o que cria barreiras de convivência, dificultando o entendimento e a ligação com os outros.
Pois bem, neste tempo que estamos a viver, é importante estarmos atentos ao que se diz por aí, é preciso pensar e ter sentido critico, para não nos deixarmos manipular pelas ideias segregadoras que nos tentam impingir, temos de procurar informações fundamentadas em dados concretos e fiáveis. Lembremo-nos que o medo só pode ser superado com o diálogo, com compreensão e apoio, ajudando a fortalecer os laços e a confiança entre todos.
“O medo é a origem da escravidão, e é a origem de toda forma de ditadura, porque é sobre a exploração dos medos populares que crescem a indiferença e a violência. É uma gaiola que nos exclui da felicidade arrancando-nos ao futuro” – Papa Francisco