CRÓNICAS & OPINIÃO

Nasceu em 1967, é mãe de uma filha, avó de três netos. Cristã na essência, católica por tradição. Desde sempre esteve ligada à Comunidade Paroquial da Amadora, dedicando-se atualmente ao serviço da pastoral juvenil, à comunicação e promoção da comunidade.

“m” de medo, e da mentira que gera medo

08/06/2025

O MEDO é uma reação natural quando sentimos uma ameaça ou perigo, seja real ou da nossa imaginação. O medo ajuda-nos a protegermo-nos, alerta-nos para evitar situações que nos possam prejudicar. É uma resposta do nosso corpo para que nos mantenhamos seguros, no entanto, em certas circunstâncias, pode ser exagerado, desnecessário ou (des)propositado.

A MENTIRA, dito de forma simples, é quando alguém diz algo que sabe que não é verdade, com intenção de enganar, de esconder algum facto ou para obter algum benefício. A mentira pode surgir para evitar problemas, para proteger alguém, ou para manipular. Podemos mentir sem perceber, devido a uma confusão ou mal-entendido, mas quando alguém sabe que o que está a dizer é falso considera-se que é uma mentira intencional, gerando desconfiança, dúvida, confusão e MEDO.

O medo é uma arma poderosa na política, é usado para influenciar e controlar. Os líderes ou grupos políticos despertam o medo na sociedade para poderem ter apoio para as suas ações ou políticas, de preferência sem serem questionados. O medo é muitas vezes utilizado para criar um sentimento de urgência ou ameaça, e isso faz com que se aceitem medidas que, de outra forma, poderiam parecer injustas ou excessivas. É uma estratégia que, quando bem aplicada, consegue mobilizar a opinião pública e consolidar o poder político.

Alguns exemplos históricos de como o medo foi usado como ferramenta política:

Joseph McCarthy, senador americano, para ganhar as eleições e seguindo a sugestão de um padre católico, lançou-se numa cruzada contra o comunismo. Entre 1950 e 1957 fez acusações sem apresentar provas concretas. A atmosfera de paranoia e medo devido às investigações, à suspeição e repressão resultou num período a que chamaram “Terror Vermelho”.

Adolf Hitler, na Alemanha Nazi, para ganhar apoio, explorou o medo devido à crise económica, ao desemprego e à ameaça comunista. Usou propaganda para criar um sentimento de ameaça constante que justificava as suas políticas autoritárias e a perseguição de minorias, tendo sido os judeus as suas principais vítimas – morreram durante o Holocausto entre cinco a seis milhões de judeus.

Estaline, na União Soviética, no período de repressão, fez reinar o medo da prisão e da morte, usando-o para poder controlar o povo. A propaganda sobre a expurga criou uma atmosfera de suspeição, em que qualquer um poderia ser considerado inimigo do Estado, fortalecendo, desta forma, o autoritarismo.

O medo do que é diferente é uma estratégia comum usada na política e na sociedade para criar divisões e consolidar o poder. Quando as pessoas têm medo do que é diferente — sejam diferenças culturais, étnicas, religiosas ou de opinião — surge o preconceito, a intolerância e a exclusão e, como consequência, cria-se um sentimento generalizado de insegurança, levando a que se apoiem medidas que reforçam a discriminação, a repressão e a violência contra grupos considerados “diferentes”.

O medo da imigração tem vindo a ser aproveitado de forma política por alguns líderes, para ganharem apoio e promoverem políticas restritivas, reforçando o nacionalismo, desviando a atenção de outros problemas para os quais não apresentam soluções viáveis. Esta estratégia aumenta a divisão social e cria uma perceção negativa sobre os imigrantes.

O medo leva ao afastamento das pessoas. Quando alguém tem medo, prefere isolar-se, evita o contacto ou afasta-se. Essa reação é uma forma de autopreservação, o que cria barreiras de convivência, dificultando o entendimento e a ligação com os outros.

Pois bem, neste tempo que estamos a viver, é importante estarmos atentos ao que se diz por aí, é preciso pensar e ter sentido critico, para não nos deixarmos manipular pelas ideias segregadoras que nos tentam impingir, temos de procurar informações fundamentadas em dados concretos e fiáveis. Lembremo-nos que o medo só pode ser superado com o diálogo, com compreensão e apoio, ajudando a fortalecer os laços e a confiança entre todos.

“O medo é a origem da escravidão, e é a origem de toda forma de ditadura, porque é sobre a exploração dos medos populares que crescem a indiferença e a violência. É uma gaiola que nos exclui da felicidade arrancando-nos ao futuro” – Papa Francisco

 

Publicado inicialmente a 28/5/2025
em https://setemargens.com