by Joaquim Franco | Jul 14, 2025
A liberdade de abril não teve apenas peso político. Nascida das entranhas de uma guerra insustentável, com graves consequências culturais, sentidas ainda hoje, 50 anos depois do fim de um regime opressor, esta liberdade, sob o eixo da democracia constitucional, mexeu com todas as dinâmicas da vida, incluindo a vida religiosa. Mas há uma revolução que está ainda por fazer em Portugal: a forma de ver a religião e o fenómeno religioso. Cinco décadas depois, permanecem clichés, preconceitos e intransigências. A sociedade secularizada afastou-se da instituição religiosa e a Igreja católica, nomeadamente, carece ainda de redefinição no espaço e no tempo – a dinâmica de uma sinodalidade transversal, lançada pelo Papa Francisco, pode dar um grande contributo diante de paradoxos canónicos, hesitações pastorais, desafios doutrinários de corresponsabilidade, transparência e acolhimento nas diferenças.
50 anos depois, ainda há um grande caminho a percorrer para contrariar desconfianças mútuas. No espaço mediático, o fenómeno religioso é entendido entre dois polos: a visão meramente confessional ou a abordagem crítica. Muitas lideranças religiosas veem os jornalistas como potenciais inimigos.
Já na dinâmica académica, não faltam interessantes experiências que rompem este dualismo minimalista. Após processo lento e difícil, ainda em curso e atualmente sob ameaça, a liberdade de abril trouxe também a liberdade religiosa e, com a liberdade religiosa, a oportunidade de reforçar a autonomia do estudo e da reflexão sobre o fenómeno religioso e a religião, porque o fenómeno religioso e os dinamismos de crença/fé são inquestionáveis.
A constituição de uma Ciência, ou de Ciências, das Religiões resulta da laicização da sociedade e entra, livremente, no diálogo cultural, das ciências sociais e humanas, como esforço racional de entendimentos.
A velha perspetiva religiosa exclusivista deu lugar à liberdade de pensamento, à autonomia de abordagens, ao sentido do “indivíduo” como nova conquista que reorganiza e reconstrói estruturas, das comunidades mais vastas à célula das relações familiares. O fenómeno religioso requer por isso a atenção de pensadores transversais, multidisciplinares, sob o risco de se diluírem, de forma irrefletida e imprevisível, tradições de identidade e compreensão comunitária.
Se a religião pode ser impulsionadora da convivialidade, do sentimento de pertença comunitária e reciprocidade, exercendo o papel de refúgio derradeiro perante dificuldades ou reveses de esperança, a sociedade depende da coesão social, mas a coesão social deixou de ter, em tempos de crise, o azimute da prática religião. Vão valendo as plataformas de solidariedade direta ou indiretamente ligadas a grupos religiosos, da Igreja católica em especial. Não se estranhe, por isso, a proliferação de vivências satélite de proximidade, superstição e crença, promotoras de uma certa alienação, ou de devoções quentes, por vezes exacerbadas, muito focadas em experiências pontuais. Embora menos presente na sociedade secularizada, quem procura a dinâmica religiosa encontra sempre caminhos alternativos, uns menos desejáveis que outros.
Este contexto abre um vasto território de diálogo com distanciamento crítico, capaz de influenciar positivamente o próprio pensamento religioso. Sem amarras confessionais, aberto a outras disciplinas, da sociologia à ética, da antropologia à psicologia, o estudo do fenómeno religioso é particularmente importante para a paz social. Entre a filosofia e a história, a cidadania e a cultura, seria interessante, por exemplo, dar à Ciência das Religiões a dignidade de disciplina complementar, opcional e autónoma no ensino secundário. Ideia revolucionária? Esta é uma revolução por fazer. A religião não é só um assunto para religiosos, e o diálogo, com e entre religiões, acompanha a história das civilizações. Se cada um acredita apenas naquilo que julga saber, acaba por acreditar em pouco e pouco saber de si mesmo.
In Com Franqueza…, Paulinas Editora, 2015
(adaptado do texto originalmente escrito em 28/4/2013)
by Padre Miguel Romão Rodrigues | Mai 6, 2025
Creio que todos encontramos esse desejo, quase primário em nós, de nos sentirmos olhados, de que reparem em nós. Particularmente, no que diz respeito àqueles por quem temos maior admiração. Mas este não é um texto sobre nós, é um texto sobre Francisco, sucessor de Pedro, e uma tentativa (espero que não simplista) de procurar ilustrar, de alguma forma, o dom que a sua vida entregue foi para cada um de nós, para a Igreja e para o mundo.
De facto, havia no Papa Francisco essa predileção por nós (por este jardim da Europa à beira-mar plantado, nas palavras de Tomás Ribeiro) que eventualmente há de ter começado na desarmante visita a Fátima, aquando do Centenário das Aparições, em 2017. O mar de luz ali congregado arrebatou o coração do Pontífice, deixando-nos as marcantes palavras ainda hoje impressas no coração e na oração de muitos: “Temos Mãe.”
Essa visita, de forma especial, mas todo o seu pontificado até então, foi preparando o coração de todos para o seu aguardado regresso a terras lusas em agosto de 2023. Preparação essa que se distendeu no tempo, porém sempre marcada pela pressa salutar de receber a Jornada na nossa casa, o que significava acolher o sucessor de Pedro, que novamente se demoraria nesta nossa querida terra. A sua passagem foi pensada ao pormenor, e os locais escolhidos de forma quase cirúrgica, como quem executa um plano bem traçado, previamente esboçado no coração. Muito nos foi deixado, qual legado que não pode ficar esquecido. As palavras foram claras, e ficaram, de alguma forma, marcadas nas nossas vidas. Vidas gastas e entregues na preparação do evento que tocou o coração de muitos, até dos mais descrentes. Discursos vivos, brotantes do seu coração de pastor atento, por vezes improvisados, mas que revelaram a todos a sua profunda sabedoria, radicada no amor por Jesus Cristo e pelo Seu Evangelho, assim como a sua paternidade, exercida com a autoridade própria da missão que o nosso Bom Deus houve por bem confiar-lhe, confirmando o que já íamos intuindo a partir do exercício do seu ministério petrino, sempre próximo e tão humano.
Passou muito perto de todos nós, suscitando (eventualmente sem o saber) muitos movimentos e iniciativas, particularmente no interior dos corações, o que se manifestou num sem-número de ações absolutamente inesperadas, provindas dos mais surpreendentes quadrantes. Somos-lhe gratos, sem dúvida, pela disponibilidade que lhe reconhecemos à vontade de Deus, e pela abertura de coração às moções que o Evangelho foi sulcando no seu íntimo, ao longo dos anos, que se revelou para toda a Igreja e para o mundo como voz profética para este tempo que atravessamos. Foi justamente isso que permitiu trazer ao de cima o melhor de todos, particularmente na circunstância que nos coube, mas que se estendeu, em muitas ocasiões, a um movimento quase universal.
O desafio agiganta-se agora diante de nós: somos herdeiros deste legado que nos deixou. Legado esse que se distende desde a misericórdia infinita de Deus, convidada a ser traduzida em gestos quotidianos concretos, passando pela alegria como marca distintiva de quem procura viver em Cristo e segundo o Seu Evangelho, destacando a fraternidade universal a que somos chamados, bem como a dignidade infinita de cada pessoa humana, sem exceção, culminando na Esperança como caminho rasgado no hoje da história, como possibilidade de antevisão de um horizonte há muito esquecido ou tido como inalcançável, por um mundo cada vez mais ensimesmado e desiludido face à possibilidade de um caminho que conduza a algum lugar.
A memória do Papa Francisco ficará gravada nos corações, tanto quanto vemos e sabemos, mas isso apenas será relevante na medida em que ousarmos abraçar os sonhos que nos propôs sonhar. Essa medida, vivida pelo próprio na primeira pessoa, a medida do sonho, necessita de pautar os nossos gestos e decisões, a fim continuarmos com coragem o caminho que diante de nós não temeu abrir.
Francisco, Papa Francisco, esperamos verdadeiramente que estejas em Deus, a Quem procuraste servir e amar, na simplicidade da tua vida entregue. Como sempre fizeste, ajuda-nos a pôr os olhos n’Aquele a Quem seguiste e para Quem sempre apontaste, para que nos anime o mesmo sonho que te conduzia, que não começando nem acabando em ti, procuraste realizar, na parte que te cabia.
by Júlia Costa | Abr 23, 2025
Assinalar este dia é destacar a importância dos livros na educação e no progresso de uma sociedade. Porquê esta data, dia 23 de abril? Porque é Dia de São Jorge e neste dia – por adaptação de uma lenda de São Jorge e o Dragão, em honra a uma tradição antiga da Catalunha –, os cavaleiros ofereciam às suas damas uma rosa vermelha de São Jorge para, em troca, receberem um livro com o testemunho das aventuras do heroico cavaleiro São Jorge.

© JCosta
Pois bem, o meu heroico cavaleiro, de seu nome Papa Francisco, não me ofereceu uma rosa vermelha, fez o contrário, ofereceu-se-me em livro: Esperança – A Autobiografia, livro esse que se encontrava pousado em cima de um móvel lá de casa, numa espécie de fila de espera até que chegasse a vez de eu embarcar naquela viagem.
Ao chegar a casa no dia 21 de abril, depois do carrossel de emoções que fui vivendo e sentindo, após a notícia da sua partida, olhei para a capa do livro, vi o meu heroico cavaleiro a sorrir, como quem me chamava para se oferecer a que o lesse: não resisti àquele sorriso, ninguém consegue resistir-lhe.
A autobiografia do Papa Francisco revela-nos a sua trajetória de vida, as suas experiências, os desafios e a sua visão de esperança para o mundo. Nele partilha momentos importantes da infância na Argentina, do chamamento para a vida religiosa, do trabalho na Igreja e dos valores que o guiaram ao longo do caminho que foi percorrendo. Esta obra, tão oportuna, e tão deliciosa de ler porque está cheia de fotografias e de relatos em que utiliza os termos mamã e papá para falar carinhosamente da sua família, vem sussurrar-nos ao ouvido qual é a importância da esperança, do amor e da misericórdia na construção de uma sociedade mais justa e solidária. É uma leitura inspiradora que convida à reflexão sobre a fé e a esperança em tempos difíceis, num relato feito na primeira pessoa. Depois de o ler poderei emprestá-lo a quem o quiser ler e não o consiga comprar, basta que façam chegar email a pic.amadora@gmail.com, com nome e contacto.
by Júlia Costa | Abr 22, 2025
“É muito nobre assumir o dever de cuidar da criação com pequenas ações diárias, e é maravilhoso que a educação seja capaz de motivar para elas até dar forma a um estilo de vida. A educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência direta e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias… Tudo isto faz parte duma criatividade generosa e dignificante, que põe a descoberto o melhor do ser humano.”
“É necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena ser bons e honestos. Vivemos já muito tempo na degradação moral, baldando-nos à ética, à bondade, à fé, à honestidade; chegou o momento de reconhecer que esta alegre superficialidade de pouco nos serviu. Uma tal destruição de todo o fundamento da vida social acaba por colocar-nos uns contra os outros na defesa dos próprios interesses, provoca o despertar de novas formas de violência e crueldade e impede o desenvolvimento duma verdadeira cultura do cuidado do meio ambiente.”
Papa Francisco
In Laudato Si
by Paróquia da Amadora | Mar 1, 2025

Pelo Papa Francisco, sucessor de Pedro,
para que o mistério da cruz o fortaleça,
o alivie,
o reanime
e lhe dê esperança.
by Paróquia da Amadora | Fev 16, 2025
O texto das Bem-aventuranças iluminou a vida dos crentes, e também de não crentes. É difícil não se comover com estas palavras de Jesus, e é justo o desejo de as compreender e acolher cada vez mais plenamente. As Bem-aventuranças contêm o “bilhete de identidade” do cristão – este é o nosso bilhete de identidade – porque delineiam o rosto do próprio Jesus, o seu estilo de vida.
Papa Francisco