És cristão porque…

És cristão porque…

Quando ouvimos alguém dizer que faz parte de algo, ou de alguma coisa – de um clube, de uma associação, de uma empresa, de um projeto, de uma família, de um partido político –, partimos do princípio de que há algo que une aquela pessoa às restantes e que, juntas, partilham uma identidade que se denominará, consoante a circunstância, por um apelido de família, o nome do fundador e/ou da obra, atividade ou propósito pretendido.

O ser humano jamais viveu só, porque só o pode ser, humano, na relação com os outros. É o que se passa com os cristãos: fazem parte de uma grande família, formam um corpo cujos membros permanecem unidos através do Amor, esta espécie de cola, que une Deus Pai e Deus Filho. Vivem em pequenas comunidades com vista a poderem, juntos, levar a mensagem de Cristo a todos os homens e mulheres, não através de palavras, mas pelo exemplo e pelo testemunho que dão através do modo como se relacionam.

– Sim, faço parte de uma comunidade cristã, mas será isso suficiente para que eu me considere cristão?

Recordemos, através de Lucas, no livro dos Actos dos apóstolos (2, 44-47), como era a Igreja primitiva, como viviam os cristãos naquela que definimos como uma comunidade-modelo.

“Os crentes viviam unidos e punham em comum tudo o que possuíam. Vendiam as suas propriedades assim como outros bens e dividiam o dinheiro entre todos, de acordo com as necessidades de cada um. Reuniam-se diariamente no templo. Partiam o pão ora numa casa, ora noutra, comendo juntos com alegria e simplicidade de coração. Davam louvores a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. Cada dia que passava, o Senhor aumentava o número dos que recebiam a salvação.”

Apesar de tudo o que é relatado ser perfeito, o que é facto é que, nos primeiros dois ou três séculos, os cristãos foram perseguidos, torturados e mortos porque não aceitavam honrar outros deuses ou adorar o imperador; eram vistos como uma seita e foram excluídos do âmbito de influência e de negócios, sendo considerados uma perigosa ameaça à ordem social. Então, com todas estas condicionantes, por que razão alguém se tornava cristão?

Porque o cristianismo era um “projeto social” singular. Tratava-se de ser parte de uma comunidade que vivia em “contracultura”, em que a religião era uma escolha e não uma imposição e em que, independentemente da classe social, da origem e do género, fossem escravos ou livres, ricos ou pobres, na relação com Cristo tudo isso era secundário, eram todos iguais. A Igreja primitiva e as comunidades-modelo foram, para a época, um desafio radical.

– Sim, fazes parte de uma comunidade cristã, mas és cristão porquê?…

O cristão vive na base do perdão e da reconciliação, não provoca, não é preconceituoso, nem é violento. O cristão protege os mais frágeis, cuida dos que sofrem. Visita o velho, o doente e o moribundo. Acolhe o pobre, a vítima da guerra, das catástrofes, do tráfico humano, da escravatura, da prostituição, da fome. O cristão é o colo das crianças desejadas e indesejadas, é o abraço à mulher que abortou e à que escolhe ser mãe. O cristão visita o preso, o que violou, matou e roubou sem fazer julgamentos e falsos moralismos. O cristão alimenta e leva o cobertor ao sem-abrigo. O cristão não marginaliza, não divide, nem separa por cores, não pede documentos, não pergunta de onde vem nem qual é o saldo da conta bancária. Para o cristão não há fronteiras, muros e barreiras, não há país, nem continente, porque para o cristão só há o Mundo e a Humanidade. Um cristão pensa por si próprio e ouve uma só voz que lhe fala dentro do coração e lhe diz baixinho: “Vem e segue-me!”

 

 

És cristão porque…

“m” de medo, e da mentira que gera medo

O MEDO é uma reação natural quando sentimos uma ameaça ou perigo, seja real ou da nossa imaginação. O medo ajuda-nos a protegermo-nos, alerta-nos para evitar situações que nos possam prejudicar. É uma resposta do nosso corpo para que nos mantenhamos seguros, no entanto, em certas circunstâncias, pode ser exagerado, desnecessário ou (des)propositado.

A MENTIRA, dito de forma simples, é quando alguém diz algo que sabe que não é verdade, com intenção de enganar, de esconder algum facto ou para obter algum benefício. A mentira pode surgir para evitar problemas, para proteger alguém, ou para manipular. Podemos mentir sem perceber, devido a uma confusão ou mal-entendido, mas quando alguém sabe que o que está a dizer é falso considera-se que é uma mentira intencional, gerando desconfiança, dúvida, confusão e MEDO.

O medo é uma arma poderosa na política, é usado para influenciar e controlar. Os líderes ou grupos políticos despertam o medo na sociedade para poderem ter apoio para as suas ações ou políticas, de preferência sem serem questionados. O medo é muitas vezes utilizado para criar um sentimento de urgência ou ameaça, e isso faz com que se aceitem medidas que, de outra forma, poderiam parecer injustas ou excessivas. É uma estratégia que, quando bem aplicada, consegue mobilizar a opinião pública e consolidar o poder político.

Alguns exemplos históricos de como o medo foi usado como ferramenta política:

Joseph McCarthy, senador americano, para ganhar as eleições e seguindo a sugestão de um padre católico, lançou-se numa cruzada contra o comunismo. Entre 1950 e 1957 fez acusações sem apresentar provas concretas. A atmosfera de paranoia e medo devido às investigações, à suspeição e repressão resultou num período a que chamaram “Terror Vermelho”.

Adolf Hitler, na Alemanha Nazi, para ganhar apoio, explorou o medo devido à crise económica, ao desemprego e à ameaça comunista. Usou propaganda para criar um sentimento de ameaça constante que justificava as suas políticas autoritárias e a perseguição de minorias, tendo sido os judeus as suas principais vítimas – morreram durante o Holocausto entre cinco a seis milhões de judeus.

Estaline, na União Soviética, no período de repressão, fez reinar o medo da prisão e da morte, usando-o para poder controlar o povo. A propaganda sobre a expurga criou uma atmosfera de suspeição, em que qualquer um poderia ser considerado inimigo do Estado, fortalecendo, desta forma, o autoritarismo.

O medo do que é diferente é uma estratégia comum usada na política e na sociedade para criar divisões e consolidar o poder. Quando as pessoas têm medo do que é diferente — sejam diferenças culturais, étnicas, religiosas ou de opinião — surge o preconceito, a intolerância e a exclusão e, como consequência, cria-se um sentimento generalizado de insegurança, levando a que se apoiem medidas que reforçam a discriminação, a repressão e a violência contra grupos considerados “diferentes”.

O medo da imigração tem vindo a ser aproveitado de forma política por alguns líderes, para ganharem apoio e promoverem políticas restritivas, reforçando o nacionalismo, desviando a atenção de outros problemas para os quais não apresentam soluções viáveis. Esta estratégia aumenta a divisão social e cria uma perceção negativa sobre os imigrantes.

O medo leva ao afastamento das pessoas. Quando alguém tem medo, prefere isolar-se, evita o contacto ou afasta-se. Essa reação é uma forma de autopreservação, o que cria barreiras de convivência, dificultando o entendimento e a ligação com os outros.

Pois bem, neste tempo que estamos a viver, é importante estarmos atentos ao que se diz por aí, é preciso pensar e ter sentido critico, para não nos deixarmos manipular pelas ideias segregadoras que nos tentam impingir, temos de procurar informações fundamentadas em dados concretos e fiáveis. Lembremo-nos que o medo só pode ser superado com o diálogo, com compreensão e apoio, ajudando a fortalecer os laços e a confiança entre todos.

“O medo é a origem da escravidão, e é a origem de toda forma de ditadura, porque é sobre a exploração dos medos populares que crescem a indiferença e a violência. É uma gaiola que nos exclui da felicidade arrancando-nos ao futuro” – Papa Francisco

 

Publicado inicialmente a 28/5/2025
em https://setemargens.com