Ele está no meio de nós?

Ele está no meio de nós?

Promessas leva-as o vento, assim diz o povo, mas não as de Jesus aos Seus. Essas promessas permanecem, porque Deus é sempre fiel à Sua palavra. Uma das promessas mais bonitas que Jesus nos deixou, antes de regressar para junto do Pai, foi a certeza de que estaria sempre connosco, até ao fim dos tempos. Poderíamos dizer que isto acontece para quem tem fé: Deus está, de facto, presente no meio daqueles que n’Ele crêem, até porque, segundo as palavras de Jesus, onde dois ou três estivessem reunidos em Seu nome, Ele estaria no meio deles.

Acontece que dizer isto, por mais consolador que seja, é ainda dizer pouco — o que nos pode espantar. O que pode, afinal, ser mais maravilhoso ainda do que poder afirmar que Deus, Ele mesmo, está permanentemente presente no meio de nós? Esse é o grande mistério que a Eucaristia encerra: aí, Deus manifesta-Se estando; porém, manifesta-Se também sendo no meio de nós — e isto não é um mero trocadilho de palavras.

A presença de Deus no meio do Seu povo faz-se de muitas formas, tanto no contexto celebrativo como fora dele: na Palavra proclamada, na assembleia reunida, num encontro informal de oração, na brisa suave que passa. Em todos estes sinais reconhecemos, de alguma forma, o cumprimento da promessa de Deus, que é verdadeira e não engana.

Todavia, no centro da celebração eucarística, encontramos Deus sendo no meio de nós: o pão e o vinho consagrados, convertendo-se no Corpo e Sangue de Jesus, são a presença real de Deus no meio do Seu povo. Esta realidade, a que aludimos, não o é em detrimento das restantes formas de presença, também elas reais; porém, é excelente, pela sua plenitude, assim como sacramental.

Depreendemos, assim, que a Fé nos leva a uma visão mais profunda daquilo que nos rodeia, convidando-nos a olhar a realidade de forma nova, mais profunda e mais verdadeira. Adoramos a Deus na Eucaristia porque, pelo conhecimento trazido pela Fé, sabemos que, sob o aspecto do pão e do vinho, Se esconde o nosso Deus, real e verdadeiramente presente no meio de nós. Assim afirmou com clareza São Tomás, no conhecido hino eucarístico que a nós nos chega por meio da Tradição, segundo tradução livre em português: “Faz-se carne, realmente, o que deixa de ser pão.” Traídos pelos nossos sentidos, reconhecemos ainda os sinais do vinho e do pão como tal, apesar de, na sua essência, aquilo que lhes subjaz ser o verdadeiro Corpo e Sangue de Cristo.

A promessa de Jesus aos Seus é, assim, transportada para um significado absolutamente novo e inaudito: Deus está presente no meio de nós, mas é no meio de nós, de forma sublime, no sacramento da Eucaristia. Aí O contemplamos, O adoramos e O recebemos verdadeiramente na nossa própria vida, estabelecendo com Ele uma nova forma de comunhão, ao recebê-l’O por meio das espécies eucarísticas que comungamos.

Que a Fé nos ajude sempre a ver mais longe — essa realidade que sustenta o mundo, mas que pode passar despercebida se dermos primazia à percepção dos nossos sentidos. Como reconhecemos no mistério da Eucaristia, algo de grandioso pode verdadeiramente passar-nos ao lado, simplesmente por optarmos pelas certezas das nossas percepções, em vez de abrirmos o coração ao conhecimento que nos vem de Deus, justamente com a mesma simplicidade e candura com que o fazem os pequeninos. Na verdade, é deles que é o Reino dos Céus.

 

Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

“E eles contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho e como Jesus se lhes dera a conhecer pelo partir do pão.” (Lc 24:35).

O Senhor, após a sua Ressurreição, dá-se a conhecer aos discípulos de Emaús ao partir do pão. É como se já estivesse a antecipar esta Sua solenidade. É neste episódio sobejamente conhecido que está o fundamento teológico e litúrgico desta celebração, que em Portugal tem tanta adesão.

É nesta atualização da sua Ceia, Paixão e Ressurreição que Ele revela o seu projeto para nós – que o comamos para, assim, nos tornarmos sacrários vivos!

 

Origem

Afinal, onde teve esta celebração a sua origem? A resposta é simples, nasceu no século XIII, mais propriamente em 1265 por ordem do Papa Urbano IV de uma necessidade de reafirmar a verdadeira presença de Cristo no pão e no vinho. Esta necessidade surgiu devido a uma heresia que defendia que a consagração era apenas um ato simbólico (algo que acontece hoje também, mas já lá vamos).

No calendário litúrgico esta é uma celebração móvel, ou seja, depende das outras solenidades. Como tudo o que é data na Igreja, esta celebração está dependente da Páscoa (afinal é daí que nascemos e para lá vamos). Da Páscoa, mais propriamente da celebração que se segue ao término do Tempo Pascal – A Santíssima Trindade (que acontece 60 dias após a festa maior da nossa fé). Assim, a solenidade do Corpo de Deus, como é vulgarmente conhecida, acontece na quinta-feira a seguir à solenidade anteriormente referida.

 

Porque o celebramos?

É importante celebrar esta solenidade se, afinal, celebramos a Eucaristia todos os dias? A resposta imediata é sim!

Para isso, basta que regressemos à bula que cria esta solenidade. Nela, o Papa Urbano IV, refere que “embora a Eucaristia seja celebrada todos os dias, na nossa opinião, é justo, que, pelo menos uma vez ao ano, se lhe reserve mais honra e mais solene memória” [1]. Não que Ele precise, mas nós sim… A reforçar esta ideia temos ainda o Papa Bento XVI, de boa memória, que nos diz que o mistério eucarístico “é a doação que Jesus Cristo faz de si mesmo, revelando-nos o amor infinito de Deus por cada homem”. [2]

 

Que sinais especiais temos?

Neste dia, a Igreja recomenda que se realize uma procissão para mostrar ao mundo a face real do Amor de Deus – um pedaço de pão (sempre os sinais, estão lembrados?).

Em Lisboa, cidade em que esta devoção é ainda assinalada, realizamos a procissão do Corpo de Deus, presidida pelo Patriarca, que termina às portas da Sé com a bênção da cidade com o Santíssimo Sacramento.

Quando estas procissões não são possíveis, pelo menos, que se possa deixar o Santíssimo exposto para adoração na custódia para que nós o façamos com toda a solenidade e devoção.

 

Isto ainda faz sentido?

Diria que nunca, como hoje, fez tanto sentido celebrarmos esta solenidade e vivermos (atualizarmos até) com força o que aqui celebramos. A atestar esta necessidade está uma sondagem feita pelo Pew Forum às dioceses norte-americanas, onde se perguntava aos fiéis se a presença de Cristo na hóstia consagrada é real. A resposta foi esmagadora. Cerca de dois terços dos inquiridos diziam acreditar que o momento da consagração, nada mais é do que simbólico (volvidos mais de 700 anos da bula de Urbano IV) [3].

Ora, isto faz com que se torne necessário, diria até premente, que celebremos e vivamos, de facto, a sempiterna renovação do mistério da Eucaristia nas nossas vidas. Este mistério que se vai renovando e incitando à conversão.

Em suma, nesta celebração saibamos sempre que estamos a viver o amor Dele por nós, que nasceu na criação e se estende até hoje. Saibamos, pois, reconhecer este Amor maior, primeiro, verdadeiro e total.

[1] Bula Transiturus de hoc mundo
[2] Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis
[3] Dom Robert Barron, Isto é o meu Corpo, Ed. Paulus.

 

Dia de Corpo de Deus | Celebrações no Patriarcado

Dia de Corpo de Deus | Celebrações no Patriarcado

Na quinta-feira, Solenidade de Corpo de Deus, as cerimónias organizadas pelo Patriarcado de Lisboa seguirão os seguintes horários:

11h30 – Missa na Sé

13h-16h – Adoração do Santíssimo e Sacramento da Reconciliação

17h – Procissão Eucarística

18h30 – Bênção no Largo da Sé