Fazer parte sem ser protagonista: a história de uma sogra

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Hoje quero falar-vos em nome próprio. Para aqueles que não me conhecem, sou a Daniela, Dani para os amigos, e sou uma menina de 37 anos, casada com o Nuno, também conhecido como Pássaro, e temos em comum não só o facto de gostarmos muito um do outro, mas também um filho, chamado Guilherme, Gui como carinhosamente é tratado por todos aqueles que o amam.

Não vou falar de mim, vou apenas falar de uma figura tão carismática e tantas vezes “tomada de ponta” pelas noras: as famosas sogras. Quem é mulher e está casada, sabe que aos olhos das nossas sogras, os filhos delas (nossos maridos), são quase sempre os “meninos da mamã” (sem nenhum julgamento pejorativo, até porque sou mãe de um rapaz e bem sei o mimo que temos pelos nossos meninos). E ninguém compete com o amor de uma mãe por um menino. No entanto, trago-vos este tema para tentar que este papel (o de sogra) não seja tão demonizado como atualmente é.

Hoje quero falar-vos da minha sogra, de seu nome Isabel, mas tão carinhosamente apelidada de Dona Cremosa, por todos os amigos do Nuno que tiveram a oportunidade de almoçar ou jantar lá em casa, quando ainda era solteiro. Mulher que cedo se casou, e veio da Benedita (uma vila perto de Alcobaça), para viver na Amadora. Tem 2 filhos, a Sandra e o Nuno, com uma diferença de 10 anos, uma vez que não tinha qualquer rede de apoio familiar perto. Trabalhou durante muitos anos no antigo Banco Pinto e Sotto Mayor, como administrativa. Quis a vida que, aos 38 anos fosse diagnosticada com um cancro de mama agressivo. Recordo-vos que a Sandra tinha 14 anos e o Nuno apenas 4 anos. Mas como mulher corajosa que é, arregaçou as mangas e lutou para ultrapassar este desafio. Poderia ser uma mulher rancorosa com a vida, mas não. Trata-se de uma mulher alegre, grata a Jesus pela segunda oportunidade que a vida lhe ofereceu.

Trabalhou durante mais alguns anos, e reformou-se cedo, com 48 anos, porque surgiu a oportunidade de reforma antecipada devido a uma reestruturação interna no banco. Portanto, ficou como dona de casa, a tratar da casa e da vida familiar, mais cedo do que seria expectável. Toda esta conjetura de vida poderia ter levado a minha sogra, a Isabelinha, a ser uma pessoa demasiado protetora dos filhos, possessiva até, como vemos tantas sogras a serem, poderia ter levado a minha sogra a querer controlar a vida dos filhos e até a educação que eu e o Nuno, estamos a tentar dar ao “nosso” Gui.

Mas nada disto acontece. A minha sogra é uma pessoa que sabe o lugar que ocupa, um lugar tantas vezes desvalorizado por quem a acompanha, o lugar do silêncio, o lugar do incentivo, da ajuda, mas sem nunca cobrar nada por tanta ajuda que nos dá. E fá-lo porque acredita que não é a personagem principal desta história, apesar de ter um papel bastante ativo nela. Fá-lo porque sabe o verdadeiro significado da entrega e da doação, porque reconhece que nada é dela (no sentido da posse) e isso fá-la viver em liberdade, na liberdade de quem dá tudo o que tem e confia. A minha sogra segue a máxima de Santo Inácio: “Trabalha como se tudo dependesse de ti e confia como se tudo dependesse de Deus.

Um dia, a Isabelinha, disse a uma grande amiga minha, que a Dani era como se fosse uma filha, e mesmo que ela nunca me tivesse dito a mim, eu sabia-o, no meu íntimo.

Quando estive grávida do “meu” Gui, foi ela que me ajudou a limpar a box do poliban. Quando o Gui nasceu foi ela que me veio socorrer uns 10 minutos para ficar com ele, enquanto eu tomava um banho. Quando acordei com uma dor num pé, foi ela que me levou ao hospital para fazer um raio X. É ela que me engoma a roupa, porque sabe que é uma das tarefas que eu mais detesto fazer. É ela que todos os dias vai buscar o “Guizão” à escola as 16h20, impreterivelmente, e lhe faz o melhor sumo de laranja.

Por todas estas coisas e por outras tantas, como podem ver, tenho a melhor sogra do mundo. Na realidade, em jeito de brincadeira, muitas vezes costumo dizer que primeiro escolhi a sogra… e só depois me apaixonei pelo Nuno =D

Se este testemunho servir para que as relações entre sogras e noras possam ser melhores, então já cumpri o meu objetivo.

Que possamos olhar as nossas relações com o olhar misericordioso de Jesus.

 

                                                                                                          Dani & Pássaro

 

 

23/10/2025
De família para família

Autor

  • A Daniela é conhecida por “Dani”. É uma “miúda” de 36 anos, metódica, que gosta de ter algum controlo sobre as circunstâncias da vida (ahahah!!! – como se isso fosse possível!). Cristã “assumida” há apenas 20 anos, quando foi desafiada por aquele que viria a ser o seu animador, a “vir e ver” os encontros do grupo de jovens aos sábados à noite. Foi aqui, na paróquia, que tão bem a soube acolher, que a Dani aceitou vários desafios pastorais, todos eles relacionados com a pastoral juvenil.

    Muitas pessoas tratam o Nuno por "Pássaro". Tem 36 anos, gosta de simplificar conceitos científicos complexos para serem acessíveis a todos e trabalha na área da Comunicação de Ciência. É cristão desde que se lembra e isso faz parte da sua identidade. Grande parte da sua caminhada de fé foi feita na Capela de Santo António da Mina, tendo estado ligado à pastoral juvenil na nossa paróquia durante alguns anos.

    Para além de nenhum deles ser tratado pelo seu nome próprio, têm em comum o facto de se terem conhecido em atividades da Comunidade Juvenil da paróquia, de serem casados e pais do Guilherme, de 3 anos. De momento, estão ligados à pastoral familiar da nossa comunidade, fazendo parte do grupo de namorados TONS e sendo um dos casais dinamizadores dos Encontros de Preparação para o Batismo. Acreditam que o acolhimento é o mais importante e que o Amor, nas várias formas por que se manifesta, salva vidas!

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