“O ideal da minha vida, o voto que entre lágrimas formulava na minha juventude, era o de ser missionário e mártir”, escreveu o Padre Leão Dehon nas suas Memórias.
Ordenado sacerdote a 19 de dezembro de 1868, sonhava evangelizar o mundo da Cultura e formar sacerdotes para os novos tempos.
Em novembro de 1871, colocado como sétimo vigário em S. Quintino, na sua diocese de origem, Soissons, em França, deu-se conta da falta de formação cristã dos paroquianos e dos graves problemas sociais que afetavam os operários e as suas famílias. Empenhou-se na Catequese e, em junho de 1872, criou a Obra de S. José, com diversas valências, para apoiar as famílias e promover a formação humana e cristã das crianças, dos jovens e dos adultos, incluindo os empresários da cidade.
Em 1877, criou o Colégio São João para educar, segundo princípios cristãos, a juventude burguesa, futuros empresários.
À sombra do Colégio São João, o Padre Dehon, em 1877, iniciou a fundação de um novo Instituto religioso, a Congregação dos Oblatos-Sacerdotes do Coração de Jesus, agora chamados Dehonianos. Faz os seus primeiros votos a 28 de junho de 1878.
Os objetivos da nascente Congregação eram o espírito de amor e de reparação pela união a Cristo na sua entrega de amor (oblação) ao Pai em favor dos homens. As atividades pastorais da Congregação limitavam-se à catequese, à formação cristã dos operários e patrões, com as suas famílias, às obras sociais e à sensibilização do clero para os desafios dos novos tempos. A atividade missionária em países longínquos não fazia parte desses objetivos. Alguns dos primeiros dehonianos dedicavam-se às chamadas “Missões Populares”, nas paróquias. Parecia ao Padre Dehon que as Missões em países longínquos dispersariam os seus religiosos e os afastariam dos objetivos da Congregação. Em breve, porém, se deu conta da sua importância e fez das missões uma opção preferencial para a Congregação.

Padre Dehon na despedida de um grupo de missionários
Em 1886, escrevia: “Os nossos missionários levam às terras infiéis o amor do Coração de Jesus.” Pouco a pouco, o Padre Dehon passa das reticências iniciais ao entusiasmo pelas chamadas missões ad gentes: “A vida dos nossos missionários é uma vida de reparação e de imolação como a nossa vocação exige.” As missões tornam-se lugar privilegiado para viver o amor que se doa por inteiro (oblação de amor) até ao sacrifício e à morte (imolação), se necessário. “É evidente que o Sagrado Coração de Jesus será mais honrado, se o zelo pela sua glória se exercer em condições difíceis, como nas Missões longínquas. Faz-se assim um ato de abnegação, e dá-se uma grande prova de amor a Nosso Senhor”, escreve.
Ainda durante a vida do Padre Dehon foram abertas missões no Equador (1888), no Brasil do Norte (1892), no Congo (1897), na Finlândia (1907), nos Camarões (1912), na Indonésia e na África do Sul (1923). Atualmente os Dehonianos estão presentes em 11 países da América do Norte e da América do Sul, em 20 países da Europa, em 7 países de África e em 4 países da Ásia. E preparam novas fundações em África e na Ásia.
Os Dehonianos portugueses trabalham em África, na Europa e na América do Norte.
Em janeiro de 1925, o Padre Dehon escrevia: “A minha carreira termina; é o crepúsculo da minha vida. O ideal da minha juventude era ser missionário e mártir. Parece-me que este ideal se realizou. Sou missionário nos mais de cem missionários que tenho em todas as partes do mundo.”

P. Carlos Luís Codorniú, Superior Geral dos Dehonianos, em visita às missões da R. D. do Congo
O sonho de ser mártir também se realizou nos muitos missionários dehonianos mortos na Indonésia, no Congo, nos Camarões, no Brasil, em Espanha, na Alemanha e em Itália. Nem sempre é fácil provar o martírio desses dehonianos. O certo é que se mantiveram fiéis à missão e ao povo que serviam, mesmo quando sabiam que arriscavam a própria vida. O preço de sangue foi particularmente elevado na República Democrática do Congo, onde, em 1964, foram assassinados 29 dehonianos, entre os quais, D. José Wittebols, Bispo de Wamba e o Padre Bernardo Longo, cujos processos de beatificação estão em curso. Neste país, mais uma vez se verificou que o sangue dos mártires é semente de cristãos. O primeiro missionário dehoniano, o P. Gabriel Grison, chegou à região de Kisangani, em 1897, tornando-se, mais tarde, o primeiro bispo no Alto Congo.
Atualmente os cristãos são milhões, continuando a crescer. O clero é já quase todo autóctone. E a Congregação floresce!