A maior lição

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Estamos em pleno mês de setembro: para muitos de nós, as férias já terminaram e as rotinas – profissionais e escolares – começam, novamente, a “instalar-se”. Em princípio, a adaptação nas escolas está, por esta altura, a consolidar-se e sente-se no ar uma certa “estabilização” que nos vem dos recomeços de início de ano.

No entanto, por estes dias, surpreendeu-nos, no entanto, um post[1] que tem circulado nas redes sociais e que dá conta de um pedido – no mínimo, inusitado – de uma creche aos pais. Neste comunicado pode ler-se que os funcionários daquela creche têm verificado comportamentos da parte dos pais que, alegadamente, dificultam a adaptação ao ambiente escolar. De entre as recomendações da instituição, destaca-se o forte encorajamento para que os bebés não sejam amamentados com leite materno nem adormecidos ao colo durante o fim de semana. E tudo isto é pedido em nome de uma aparentemente mais fácil adaptação à dinâmica na escola.

Ora, neste aspeto concordamos com a psicóloga Filipa Maló Franco, que denuncia aquele pedido. Parece-nos haver alguma confusão entre o incentivo de autonomia dos bebés, por parte dos pais, e o que pode ser um corte, demasiado brusco e prematuro, daquilo que nos parece ser o aspeto mais importante no desenvolvimento de um bebé ou criança: a criação de um vínculo emocional estável. E tudo isto é feito em nome de uma “suposta” adaptação mais tranquila e efetiva ao ambiente escolar.

Vivemos na sociedade do imediato e dos resultados rápidos. De uma forma geral, queremos ver resultados e muitas vezes esquecemo-nos – ainda que inconscientemente – de respeitar o ritmo de cada bebé, criança e, no fundo, de cada pessoa.  Não nos interpretem mal: não estamos a dizer que nos devemos demitir do papel de incentivar os nossos filhos e criar oportunidades para atingirem um determinado objetivo. Apenas achamos que neste processo – que deve ser uma “dança”, um equilíbrio entre o nosso objetivo e a resposta da criança – as suas necessidades não devem ser violentadas nem o seu ritmo desrespeitado. Se conseguimos sempre fazer isto? Não. Não existem pais perfeitos! Mas tentamos, pelo menos, tê-lo presente na nossa mente.

De facto, hoje em dia, valoriza-se pouco aquilo que consideramos ser fundamental no desenvolvimento de uma criança: o processo, a experiência. Sabemos que, em qualquer escola – que tem uma variedade de crianças com características e ritmos diferentes – terá de haver pequenos “ajustes” em prol do coletivo. No entanto, estes ajustes não devem comprometer o respeito pela individualidade de cada bebé ou criança. Sabemos também que, muitas vezes, as escolas não têm incentivos nem recursos (humanos e não só) para este acolhimento e adaptação serem os mais “respeitadores” das crianças. Contudo, apenas achamos que não podemos normalizar situações como estas…

O pedido daquela creche faz-nos interrogar se este não será, de alguma forma, o reflexo de uma sociedade extremada e polarizada, onde temos de ser, taxativamente, uma coisa ou outra; uma sociedade onde parece não haver lugar para as especificidades de cada um, que são, precisamente, aquilo que nos torna únicos. Neste mundo parece não haver espaço para os inúmeros tons que levamos dentro e temos de ser todos de uma só cor. O único capaz de fazer emergir estes tons “intermédios” é o Amor.

E já que estamos a falar de escolas: talvez haja uma lição que possamos “reter” neste início de ano escolar. À semelhança do Pai Misericordioso da parábola (mais conhecida como a do “Filho Pródigo”), cremos que são a espera e a aceitação – fruto do Amor que temos pelos nossos filhos – aquilo que de mais importante nos ensinam estes pequenos “mestres da vida”. E não falamos de uma espera estéril e acomodada, mas de uma espera ativa e plena de Amor. É uma espera que, por ser motivada e alicerçada no Amor, é fecunda e cria as condições para que os nossos filhos se sintam confiantes e seguros para seguirem em frente na vida e no mundo. É esta relação emocional que mais impacto tem em cada processo de aprendizagem e adaptação. É este o Amor que os nossos filhos nos ensinam a “praticar”: aquele em que a espera é transformada em Esperança. Haverá maior lição que esta?

[1] https://www.facebook.com/share/p/1AHMhGGksv/ – Acedido a 14 de setembro de 2025

 

 

25/09/2025
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Autor

  • A Daniela é conhecida por “Dani”. É uma “miúda” de 36 anos, metódica, que gosta de ter algum controlo sobre as circunstâncias da vida (ahahah!!! – como se isso fosse possível!). Cristã “assumida” há apenas 20 anos, quando foi desafiada por aquele que viria a ser o seu animador, a “vir e ver” os encontros do grupo de jovens aos sábados à noite. Foi aqui, na paróquia, que tão bem a soube acolher, que a Dani aceitou vários desafios pastorais, todos eles relacionados com a pastoral juvenil. Muitas pessoas tratam o Nuno por "Pássaro". Tem 36 anos, gosta de simplificar conceitos científicos complexos para serem acessíveis a todos e trabalha na área da Comunicação de Ciência. É cristão desde que se lembra e isso faz parte da sua identidade. Grande parte da sua caminhada de fé foi feita na Capela de Santo António da Mina, tendo estado ligado à pastoral juvenil na nossa paróquia durante alguns anos. Para além de nenhum deles ser tratado pelo seu nome próprio, têm em comum o facto de se terem conhecido em atividades da Comunidade Juvenil da paróquia, de serem casados e pais do Guilherme, de 3 anos. De momento, estão ligados à pastoral familiar da nossa comunidade, fazendo parte do grupo de namorados TONS e sendo um dos casais dinamizadores dos Encontros de Preparação para o Batismo. Acreditam que o acolhimento é o mais importante e que o Amor, nas várias formas por que se manifesta, salva vidas!

Etiquetas: adaptação | Regresso à escola