CRÓNICAS & OPINIÃO

Nasceu em 1967, é mãe de uma filha, avó de três netos. Cristã na essência, católica por tradição. Desde sempre esteve ligada à Comunidade Paroquial da Amadora, dedicando-se atualmente ao serviço da pastoral juvenil, à comunicação e promoção da comunidade.

És cristão porque…

25/08/2025

Quando ouvimos alguém dizer que faz parte de algo, ou de alguma coisa – de um clube, de uma associação, de uma empresa, de um projeto, de uma família, de um partido político –, partimos do princípio de que há algo que une aquela pessoa às restantes e que, juntas, partilham uma identidade que se denominará, consoante a circunstância, por um apelido de família, o nome do fundador e/ou da obra, atividade ou propósito pretendido.

O ser humano jamais viveu só, porque só o pode ser, humano, na relação com os outros. É o que se passa com os cristãos: fazem parte de uma grande família, formam um corpo cujos membros permanecem unidos através do Amor, esta espécie de cola, que une Deus Pai e Deus Filho. Vivem em pequenas comunidades com vista a poderem, juntos, levar a mensagem de Cristo a todos os homens e mulheres, não através de palavras, mas pelo exemplo e pelo testemunho que dão através do modo como se relacionam.

– Sim, faço parte de uma comunidade cristã, mas será isso suficiente para que eu me considere cristão?

Recordemos, através de Lucas, no livro dos Actos dos apóstolos (2, 44-47), como era a Igreja primitiva, como viviam os cristãos naquela que definimos como uma comunidade-modelo.

“Os crentes viviam unidos e punham em comum tudo o que possuíam. Vendiam as suas propriedades assim como outros bens e dividiam o dinheiro entre todos, de acordo com as necessidades de cada um. Reuniam-se diariamente no templo. Partiam o pão ora numa casa, ora noutra, comendo juntos com alegria e simplicidade de coração. Davam louvores a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. Cada dia que passava, o Senhor aumentava o número dos que recebiam a salvação.”

Apesar de tudo o que é relatado ser perfeito, o que é facto é que, nos primeiros dois ou três séculos, os cristãos foram perseguidos, torturados e mortos porque não aceitavam honrar outros deuses ou adorar o imperador; eram vistos como uma seita e foram excluídos do âmbito de influência e de negócios, sendo considerados uma perigosa ameaça à ordem social. Então, com todas estas condicionantes, por que razão alguém se tornava cristão?

Porque o cristianismo era um “projeto social” singular. Tratava-se de ser parte de uma comunidade que vivia em “contracultura”, em que a religião era uma escolha e não uma imposição e em que, independentemente da classe social, da origem e do género, fossem escravos ou livres, ricos ou pobres, na relação com Cristo tudo isso era secundário, eram todos iguais. A Igreja primitiva e as comunidades-modelo foram, para a época, um desafio radical.

– Sim, fazes parte de uma comunidade cristã, mas és cristão porquê?…

O cristão vive na base do perdão e da reconciliação, não provoca, não é preconceituoso, nem é violento. O cristão protege os mais frágeis, cuida dos que sofrem. Visita o velho, o doente e o moribundo. Acolhe o pobre, a vítima da guerra, das catástrofes, do tráfico humano, da escravatura, da prostituição, da fome. O cristão é o colo das crianças desejadas e indesejadas, é o abraço à mulher que abortou e à que escolhe ser mãe. O cristão visita o preso, o que violou, matou e roubou sem fazer julgamentos e falsos moralismos. O cristão alimenta e leva o cobertor ao sem-abrigo. O cristão não marginaliza, não divide, nem separa por cores, não pede documentos, não pergunta de onde vem nem qual é o saldo da conta bancária. Para o cristão não há fronteiras, muros e barreiras, não há país, nem continente, porque para o cristão só há o Mundo e a Humanidade. Um cristão pensa por si próprio e ouve uma só voz que lhe fala dentro do coração e lhe diz baixinho: “Vem e segue-me!”