Quando pensamos ir de férias em família, sobretudo com crianças, o primeiro pensamento que nos ocorre talvez seja o de um automóvel “atolado” de malas (como é que é que possível termos tanta coisa para levar?), brinquedos, toalhas de praia, chapéus de sol e outras “tralhas”. Por muito mais práticos e eficazes que possamos ser, parece que, por um qualquer mistério, acabamos por ter mais bagagem do que aquela que imaginámos. Seremos os únicos? 😊
Muito bem: agora que temos tudo “empacotado” no carro, podemos arrancar e seguir viagem. Não tardará muito e vamos chegar ao destino pelo qual ansiamos. Quando lá chegarmos vamos poder, enfim, descansar. Mas, de repente, ouvimos uma “pequena voz” que nos pergunta: “Porque estamos a demorar tanto? Porque é tão longe?” E apressamo-nos a confortar o nosso filho dizendo que já não falta muito e que precisamos apenas de ter um pouco de paciência e não tarda estaremos a aproveitar o merecido descanso e relembramos o quanto nos vamos divertir.
Chegados ao destino: tudo é novidade e incita à descoberta. Há todo um mundo novo que se abre aos nossos olhos e aos dos nossos filhos e, eles, naturalmente querem explorá-lo! No entanto, e, apesar de em férias estarmos mais relaxados e darmos espaço a que as rotinas sejam adaptadas, há determinadas tarefas às quais não podemos escapar, o que, pode ser desafiante num ambiente não habitual, e que vai exigir de nós.
Talvez estas sejam as primeiras imagens que nos ocorrem, em primeiro lugar, quando pensamos em férias em família: toda uma logística a pensar e adaptar! Mas podemos “olhar” para lá destes pensamentos mais imediatos.
Bom, se estamos a pensar que o descanso que temos é ficar de apenas “papo para o ar”, deixando que o tempo passe por nós enquanto aproveitamos a leve brisa do verão, é também pouco provável que aconteça. Haverá sempre refeições para preparar, protetor solar para colocar, ajudar a vestir e o número de tarefas continua…. No entanto, se a nossa “lente” para olhar o descanso for valorizar o tempo de qualidade que estamos juntos, então, será tudo mais do que apenas uma “trabalheira”.
Nas férias, se conseguirmos deixar a pressa de lado, estaremos mais atentos e conseguiremos perceber o quanto os nossos filhos crescem e se desenvolvem. Dizia o Pe. Vasco Pinto de Magalhães, numa entrevista[1], que:
“Muitas vezes não se descansa nada nas férias porque se está cheio de pressa de fazer coisas e depois é um engano, porque a pressa e o medo ou a ansiedade tiram-nos qualquer descanso!”
Nestes momentos, se prestarmos bem atenção, conseguimos deliciar-nos com a maravilha que é vê-los “florescer”. E, como com qualquer flor que desabroche, este processo precisa do seu tempo.
É em tempo de férias que conseguimos uma “proeza” que devíamos tentar mais vezes mesmo na “correria” do quotidiano (e contra nós falamos, naturalmente) que é estarmos presentes, inteiros no momento que estamos a viver. As solicitações do dia a dia levam-nos a estar sempre “ligados” e por vezes não nos conseguimos “ligar” a quem está no mesmo espaço que nós. Em férias será mais fácil estarmos apenas e aproveitar a companhia uns dos outros. E todos nós sabemos que o melhor que podemos dar a uma criança é estarmos verdadeiramente presentes.
Pedindo – novamente – emprestadas as palavras ao Pe. Vasco Pinto de Magalhães:
“Acredito que aquilo que mais nos descansa é uma relação saudável com outra pessoa, o sentir-se amado (…)”,
talvez tenhamos chegado ao cerne de tudo isto. Na verdade, este é o mais reparador descanso das férias em família: repousarmos uns nos outros e no Amor que nos une e nos constrói. E por falar em construção, este é um tempo propício para criarmos memórias que farão parte do “património familiar”, aquela herança que guardamos e que são os valores e as experiências que nos constroem.
Quem nunca sentiu o seu ânimo renovado depois de uma conversa, uma gargalhada bem dada, de um passeio ou simplesmente estar com alguém que se ama? Pois bem, para além da logística exigente ou de algumas discussões e impaciências que possam acontecer durante as férias em família e, mesmo que não possamos ficar apenas de “papo para o ar”, é a presença, sem pressa e completa, na vida uns dos outros que nos faz descansar verdadeiramente e ganharmos ânimo para a vida. Como diz o Pe. Vasco Pinto de Magalhães no título de um livro que escreveu: “Só avança quem descansa” e a família é precisamente o lugar onde podemos fazê-lo.
[1] https://agencia.ecclesia.pt/portal/trabalhar-para-descansar/, acedido a 17 de julho de 2025