Estamos disponíveis para acolher o Espírito?

Estamos disponíveis para acolher o Espírito?

Nos relatos pascais aparece sempre, em pano de fundo, a convicção profunda de que a comunidade dos discípulos nunca estará sozinha, abandonada à sua sorte: Jesus ressuscitado, Aquele que venceu a morte, a injustiça, o egoísmo, o pecado, acompanhá-la-á em cada passo do seu caminho histórico. É verdade que os discípulos de Jesus não vivem num mundo à parte, onde a fragilidade e a debilidade dos humanos não os tocam. Como os outros homens e mulheres, eles experimentam o sofrimento, o desalento, a frustração, o desânimo; têm medo quando o mundo escolhe caminhos de guerra e de violência; sofrem quando são atingidos pela injustiça, pela opressão, pelo ódio do mundo; conhecem a perseguição, a incompreensão e a morte… Mas, apesar de tudo isso, não se deixam vencer pelo pessimismo e pelo desespero, pois sabem que Jesus vai “no meio deles”, oferecendo-lhes a sua paz e apontando-lhes o horizonte da Vida definitiva. É com esta certeza que caminhamos e que enfrentamos as tempestades da vida? Os outros homens e mulheres que partilham o caminho connosco descobrem Jesus, vivo e ressuscitado, através do testemunho de esperança que damos?

O Espírito Santo é o grande dom que Jesus ressuscitado faz à comunidade dos discípulos. Ele é o sopro de Vida que nos recria e que nos transforma, a cada instante, em pessoas novas. Sem o Espírito, seremos barro inerte e não imagem viva de Deus; sem o Espírito, ficaremos paralisados pelos nossos medos e pelos nossos comodismos, incapazes de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem o Espírito, ficaremos instalados no ceticismo e na desilusão, sem a audácia profética que transforma o mundo; sem o Espírito, esconder-nos-emos atrás de leis, de rituais, de doutrinas, e não passaremos de funcionários medíocres de uma religião sem alma e sem amor; sem o Espírito recairemos continuamente nos esquemas velhos e nos hábitos velhos, incapazes de nos deixarmos questionar pelos desafios sempre novos de Deus; sem o Espírito, ficaremos cada vez mais fechados dentro das paredes dos nossos templos, incapazes de ir ao encontro do mundo e de lhe levar a proposta de Jesus… Sem o Espírito, nunca teremos a coragem para continuar no mundo a obra de Jesus. No entanto, o Espírito só atua em nós se estivermos disponíveis para o acolher. Ele não se impõe nem desrespeita a nossa liberdade. Estamos disponíveis para acolher o Espírito? O nosso coração está aberto aos desafios que o Espírito constantemente nos lança?

In site dos Dehonianos

Hoje celebra-se o Dia da Espiga

Hoje celebra-se o Dia da Espiga

Em Portugal, o Dia da Espiga (celebrado na quinta-feira da Ascensão) é uma tradição profundamente enraizada na ligação à terra e aos ciclos da natureza, especialmente nas zonas rurais. Neste dia, é costume comprar ou oferecer um ramo — o ramo da espiga — que reúne vários elementos do campo, cada um com um significado simbólico:

Espiga de trigo: simboliza o pão, o sustento e a abundância.
Malmequer: representa o ouro e a riqueza.
Papoila: evoca o amor e a vida.
Oliveira: traz a paz e a luz.
Videira: simboliza a alegria e o vinho.
Alecrim: significa saúde e força.

Este ramo, tradicionalmente, é guardado em casa até ao ano seguinte, como sinal de proteção, esperança e gratidão pela fertilidade da terra.

Independentemente das convicções religiosas, o Dia da Espiga convida à contemplação da natureza, à gratidão pelos frutos do trabalho humano e à celebração dos ciclos da vida.

Como lembra o Papa Francisco na encíclica Laudato Si’ (2015):

«A contemplação da criação permite-nos descobrir, em cada coisa, um ensinamento que Deus nos quer transmitir, porque “para o crente, contemplar o mundo é ver nele um projeto de amor que nos precede e convoca”. […] O mundo é algo mais do que um problema a resolver; é um mistério jubiloso que contemplamos com jubilosa gratidão. […] São João da Cruz ensinava que tudo o que há de bom nas criaturas e de modo particular nas belezas do mundo, é como “uma carícia de Deus”.»

Ceia Judaico-Cristã | Aconteceu a 17 de maio

Ceia Judaico-Cristã | Aconteceu a 17 de maio

Mantendo a tradição dos últimos anos, o Grupo Pedras Vivas recriou, no passado dia 17 de maio, uma ceia judaico-cristã.

Realizada no salão paroquial, a ceia decorreu com a presença de cerca de trinta convivas. Seguindo, na medida do possível, as tradições do século I, foi uma oportunidade de mergulhar na simbologia e tradições do cristianismo. O guião da ceia foi inspirado na que antecedeu a libertação do povo Judeu do Egito, que Jesus Cristo transformou no momento de excelência de partilha entre os seus discípulos.

Durante essa refeição foram os presentes convidados a partilhar as leituras, rituais e alimentos simbólicos que remetem diretamente à instituição da Eucaristia. De entre os alimentos enunciamos o cordeiro sem mancha, assado, o pão não fermentado, as ervas amargas, o vinho, componentes dessa refeição.

Cada um desses elementos tem um fundamento simbólico, histórico e espiritual que os presentes foram convidados a relembrar. Para além de reavivar a memória, foi um momento de partilha e continuidade das tradições judaica e cristã.

Não se tratou de uma encenação, mas de uma oportunidade, um convite, à reflexão sobre o Mistério da Santa Missa, comunhão na aceitação do convite de Cristo e do Seu projeto.

Por João Afonso
(texto e fotos)

Páscoa é ressurreição para a vida nova

Páscoa é ressurreição para a vida nova

A ressurreição de Jesus é a resposta de Deus aos que pretenderam, de forma injusta e criminosa, calar Jesus e banir da história o seu projeto do Reino de Deus. Deus não permitiu que o mal vencesse; Deus não permitiu que a violência, a injustiça, a maldade e a morte tivessem a última palavra; Deus não aceitou que o mundo ficasse refém daqueles que queriam continuar a viver na escuridão. Ao ressuscitar Jesus, Deus deu-Lhe razão; afirmou, alto e bom som, que o caminho proposto por Jesus – o do amor que se dá até às últimas consequências, o do serviço simples e humilde aos irmãos, o do perdão sem limites – é o caminho que leva à Vida. Neste dia de Páscoa, diante do túmulo de Jesus vazio, tenho alguma dúvida em abraçar tudo aquilo que Jesus me disse, com as suas palavras e com os seus gestos, sobre a forma de chegar à Vida definitiva, à Vida eterna?

A vitória de Jesus sobre o egoísmo, a violência, a maldade e a morte muda a nossa perspetiva sobre a forma de encarar tudo aquilo que, de forma objetiva, faz sofrer os homens e mulheres que caminham ao nosso lado. Ficar do lado dos que são magoados e crucificados, combater a injustiça e a opressão nas suas mil e uma formas, gastar a vida a servir os mais frágeis e abandonados, recusar um mundo que se constrói sobre violência e prepotência, lutar até ao dom da própria vida para vencer tudo o que gera morte não é algo absurdo. É, segundo Deus, o caminho que fará com que a nossa vida valha a pena e tenha pleno sentido. Talvez essa opção nos deixe cheios de feridas e cicatrizes; mas serão feridas e cicatrizes que Deus curará. Estamos dispostos a dar a vida para que outros tenham Vida? Estamos dispostos a correr riscos para levar a libertação ao mundo e aos nossos irmãos? Cremos firmemente, com toda a nossa alma e com todas as nossas forças, que uma vida gasta a servir não é uma vida fracassada, mas é uma vida que termina em ressurreição?

In site dos Dehonianos

O erro do copista, a viagem de caravana e a Ressurreição 

O erro do copista, a viagem de caravana e a Ressurreição 

Em plena Semana Santa, e para que este não seja mais um ano em que vivemos em modo “maratona religiosa”, quisemos refletir sobre o que é essencial na Páscoa. Claro que a Quaresma nos ajuda a mergulhar, desde logo, no mistério Pascal, mas quisemos deter-nos, sob uma perspetiva diferente, acerca do sentido da Ressurreição. Após a Vigília Pascal, por “hábito cristão”, costumamos, alegremente, proferir frases como «Aleluia! Ressuscitou!», mas… qual será o alcance que podem ter frases como esta que dizemos? O que é que significa, na concretude das nossas vidas e na vida da nossa família, ressuscitar?

Foi então que nos lembrámos de uma frase do Cardeal D. José Tolentino Mendonça¹ que tínhamos lido numa Páscoa anterior. Dizia o “padre-poeta” que: «Amar é dizer ao outro: tu não morrerás.» Achámos impressionante como é que alguém pode dizer tanto em apenas oito palavras e continuámos a ler o texto, com o objetivo de percebermos, qual pode ser, afinal, o sentido da Ressurreição. Naquele texto, relembra-nos D. José Tolentino Mendonça que uma das antífonas mais usadas no Tempo Pascal é: Resurrexit, sicut dixit. (Ressuscitou, conforme disse). Conta-nos ainda que um monge copista medieval alterou esta antífona, escrevendo: Resurrexit, sicut dilexit (Ressuscitou conforme amou). Et voilá… aqui está a chave do significado da Ressurreição: o Amor (sempre o Amor)!

A correria do dia a dia, o cansaço, a rotina, e as desventuras que vivemos fazem parte da realidade familiar, mas podem trazer à tona sentimentos como o desânimo, a desesperança, a fatalidade e a vontade de desistir. Contudo, sabemos também que a família é muito mais do que isto. Comparemo-la a uma viagem de caravana.

Uma das primeiras lições que podemos retirar desta analogia é o valor da companhia. Não vamos sozinhos. Se fossemos, chegaríamos mais depressa ao destino, mas não chegaríamos tão longe, ou seja, não teríamos um horizonte tão amplo, e que apenas conseguimos alcançar porque temos a companhia um dos outros e experimentamos a entrega, que faz tornar a viagem mais “rica”. É também importante garantir que ninguém fica para trás e, por isso, é preciso respeitar o ritmo e as necessidades de cada um dos viajantes (parar para descansar, para nos alimentarmos e para saciar a sede, por exemplo).

Nesta viagem de caravana – e também na vida familiar – há algo de dinâmico que está subjacente: a comunhão. De facto, em família, vivemos colocando tudo em comum e partilhando a vida e aquilo que somos (e isto não significa que cada um dos elementos da família não preserve a sua identidade e que não seja respeitada a sua individualidade). Esta comunhão vivida no seio familiar pode ser percebida, por outras palavras, como uma “rede de Amor”. É, de facto, uma rede que envolve sem estrangular, uma rede que ampara sem prender os movimentos. Esta rede, que é construída todos os dias sempre que decidimos (sim, o Amor é uma escolha!) que, apesar das dificuldades, não desistiremos. E esta é, para nós, a garantia dada pelo próprio Deus que diz estar connosco, para além de qualquer situação que pode ser encarada pelo “mundo” como uma derrota ou fracasso, ou seja, um qualquer tipo de morte.

E, afinal, não será esta a essência da Páscoa? Com a Sua ressurreição, Cristo mostra-nos que nunca é a morte (e não apenas a morte física) que tem a última palavra! O Amor vence, a morte não! Voltando à questão inicial, compreendemos, agora, que ressuscitar talvez não seja mais do que salvar o outro (na família ou noutra “comunidade de Amor”) da morte. É, mesmo na dificuldade, gerar vida (no sentido espiritual). É não permitir que a morte vença. É, no fundo, dizer ao outro: porque eu te amo, tu não morrerás!

Vivamos esta Páscoa na certeza de que ressuscitar não é algo sobrenatural, mas um desafio que Deus lança a cada um de nós e que está ao nosso alcance. Afinal de contas, para dar Vida, basta amar!

¹ Cardeal D. José Tolentino Mendonça, Homilia do Domingo da
Ressurreição do Senhor, 4 abril 2021. In Avennire (https://www.avvenire.it/)

Estamos disponíveis para acolher o Espírito?

Estamos disponíveis para acolher o Espírito?

O Espírito Santo é o grande dom que Jesus ressuscitado faz à comunidade dos discípulos. Ele é o sopro de Vida que nos recria e que nos transforma, a cada instante, em pessoas novas. Sem o Espírito, seremos barro inerte e não imagem viva de Deus; sem o Espírito, ficaremos paralisados pelos nossos medos e pelos nossos comodismos, incapazes
de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem o Espírito, ficaremos instalados no ceticismo e na desilusão, sem a audácia profética que transforma o mundo; sem o Espírito, esconder-nos-emos atrás de leis, de rituais, de doutrinas, e não passaremos de funcionários medíocres de uma religião sem alma e sem amor; sem o Espírito recairemos continuamente nos esquemas velhos e nos hábitos velhos, incapazes de nos deixarmos questionar pelos desafios sempre novos de Deus; sem o Espírito, ficaremos cada vez mais fechados dentro das paredes dos nossos templos, incapazes de ir ao encontro do mundo e de lhe levar a proposta de Jesus. Sem o Espírito, nunca teremos a coragem para continuar no mundo a obra de Jesus. No entanto, o Espírito só atua em nós se estivermos disponíveis para o acolher. Ele não se impõe nem desrespeita a nossa liberdade. Estamos disponíveis para acolher o Espírito? O nosso coração está aberto aos desafios que o Espírito constantemente nos lança?

In site dos Dehonianos