by Paroquia da Amadora | Ago 17, 2025
Desde muito cedo Jesus soube que o Pai lhe tinha confiado uma missão. Essa missão passava por dar testemunho do amor de Deus e propor aos homens um mundo novo, um mundo construído sobre os valores de Deus. Jesus abraçou essa missão com todas as forças do seu coração. Numa imagem bastante expressiva, Jesus dizia-se animado pelo “fogo” de Deus. A sua paixão por Deus e pelo Reino brilhava em cada palavra que Ele dizia ou em cada gesto que ele fazia. Essa paixão contagiava todos aqueles que com Ele se cruzavam e trazia uma esperança nova a todos aqueles que viviam afogados nas sombras da morte: os pobres da Galileia que não tinham pão para dar aos filhos, os doentes desalentados e sem perspetivas, os pecadores condenados pela sociedade e pela religião do Templo, os crentes sinceros que não se reviam numa religião vazia e estéril… Os donos do mundo tentaram apagar o “fogo” de Jesus, mergulhando-O na morte e atirando-O para o silêncio de um sepulcro; mas Jesus voltou a aparecer vivo aos seus discípulos, derramou sobre eles o “fogo” do Espírito e enviou-os pelo mundo a dar testemunho do que tinham visto e escutado. Assim, o “fogo” de Jesus atravessou o tempo e a história e chegou até nós. Vivemos contagiados pelo “fogo” de Jesus, pela sua paixão por Deus e pelo Reino?
O “fogo” que Jesus trouxe à terra é também um “fogo” purificador, que se propõe “queimar” o lixo que suja o mundo e que estraga a vida dos homens: o egoísmo, a injustiça, a escravidão, a opressão, a autossuficiência, a prepotência, a ambição, a ganância, a violência, a mentira, o medo, o conformismo, a indiferença, a maldade nas suas mil e uma formas. Jesus queria que das cinzas desse mundo velho, destruído pelo “fogo” purificador da sua proposta, emergisse o Reino de Deus: um mundo de amor, de justiça, de paz, de reconciliação, de fraternidade, de solidariedade, de respeito pela dignidade de cada ser humano e da criação. Sentimo-nos “habitados” pelo “fogo” de Jesus e, como Ele, estamos disponíveis para combater tudo aquilo que estraga o nosso mundo e que traz sofrimento aos homens? Haverá na nossa vida pessoal algum “lixo” que necessita de ser queimado para que surja em nós o Homem Novo?
Jesus disse estar ansioso por receber “um batismo” que o levou a mergulhar na morte para emergir para a vida nova da ressurreição. No dia do nosso batismo nós também fomos mergulhados na água e emergimos como pessoas novas, comprometidas com Jesus e com o seu projeto. Morremos para a vida velha do pecado e ressuscitamos para a vida nova. Depois, fomos fazendo caminho, no meio das consolações de Deus e das vicissitudes da vida. No entanto, com o passar do tempo, a rotina, o cansaço, a monotonia, a habituação, a banalização da existência, foram apagando o “fogo de Deus” que ardia em nós e que nos tinha sido dado no dia do nosso batismo. Acomodamo-nos na vivência de uma fé rotineira, feita de ritos externos, de tradições velhas, de palavras ocas, de uma “doutrina” que passa ao lado das exigências da vida. Instalados, acomodados, arrefecidos, vamos atravessando a vida sem chama, apegados a valores efémeros, navegando à vista de terra, sem nos arriscarmos e sem nos empenharmos verdadeiramente na construção de um mundo segundo Deus. O que podemos fazer para reavivar em nós o “fogo de Deus” que recebemos no dia do nosso compromisso batismal?
In site dos Dehonianos
by Paroquia da Amadora | Ago 10, 2025
Vivemos numa época da história particularmente exigente. Sombras escuras pairam no horizonte e ameaçam o futuro do nosso mundo: as guerras, as injustiças, a crise climática, o atropelo dos mais elementares direitos humanos, as políticas que ignoram as necessidades dos mais desfavorecidos, a indiferença face ao sofrimento das pessoas abandonadas nas bermas da sociedade, a desumanização dos homens transformados em simples máquinas de produção ao serviço dos interesses materialistas dos senhores do mundo, o desencanto de tantos homens e mulheres que não encontram sentido para as suas vidas… Poderemos cruzar os braços, assumir uma atitude de resignação e de passividade e deixar que o mundo continue a ser construído sobre injustiças e sofrimentos? Jesus convida os seus discípulos a estar preparados, a cada instante, para fazer aquilo que Deus lhes pede para fazer. É hora de viver com responsabilidade e lucidez, sentindo-nos construtores de uma nova história e imprimindo ao nosso mundo um dinamismo de amor, de vida nova, de misericórdia, de compaixão. Como vivemos? Adormecidos e despreocupados, comodamente instalados no nosso conforto e segurança, ou como servidores humildes, atentos e comprometidos do Reino de Deus e da sua justiça?
Também na forma de viver a fé pode haver passividade, resignação, superficialidade. Podemos instalar-nos numa fé rotineira, que nos leva a repetir sempre os mesmos gestos, as mesmas orações, os mesmos ritos, as mesmas tradições, mas que não tem qualquer impacto na nossa vida e no nosso compromisso com a construção do Reino de Deus; podemos andar tão ocupados com os nossos trabalhos que não consigamos encontrar tempo para escutar Deus, para dialogar com Ele, para tentar perceber os projetos que Ele tem para nós e para o mundo; podemos instalar-nos comodamente numa prática religiosa “morna” e de “meias tintas”, que nos tranquiliza a consciência e nos faz sentir “em regra” com Deus, mas não nos leva a “sujar as mãos” com os nossos irmãos que necessitam do nosso cuidado, da nossa compaixão, do nosso amor. A nossa forma de viver a fé é marcada pela passividade e pelo conformismo, ou pelo compromisso com Deus e com os irmãos? Vivemos a nossa adesão a Cristo e à Igreja de forma ativa, lúcida e responsável? Somos meros “consumidores” de atos de culto, ou discípulos comprometidos com a construção de uma Igreja viva, missionária, fraterna, acolhedora, sinal e anúncio do amor de Deus no mundo?
In site dos Dehonianos
by Paroquia da Amadora | Jul 27, 2025
Lucas faz questão de nos dizer que Jesus manteve, ao longo de toda a sua vida, um constante diálogo com o Pai. Depois de cada jornada gasta a percorrer as aldeias da Galileia, a curar as feridas dos homens, a contar parábolas que anunciavam a chegada iminente de um mundo novo, a experimentar a oposição dos líderes judaicos, a constatar a falta de fé dos habitantes das cidades do lago, a verificar a dificuldade dos discípulos em aceitar os valores do Reino, Jesus sentia necessidade de se afastar para um sítio isolado para passar tempo de qualidade com o Pai. Era nesse tempo que Ele contava ao Pai o que lhe ia no coração, experimentava a ternura do Pai, procurava discernir os projetos do Pai, recebia do Pai a força para enfrentar as oposições e servir o Reino de Deus. E nós, formados na “escola de Jesus”, também procuramos encontrar espaço, no final de cada dia, para dialogar com Deus? No meio da agitação e dos problemas que todos os dias nos visitam, encontramos tempo para “sentirmos o pulso” de Deus, para contarmos a Deus as nossas dúvidas e inquietações, para tentarmos perceber o projeto de Deus tem para nós e para o mundo?
Jesus sentia Deus como um pai bom, que acolhe com ternura e bondade os seus filhos, que os escuta interessadamente, que partilha com eles os seus projetos, que os apoia e abraça, que lhes dá a força necessária para enfrentarem os ventos e marés da vida e da história. Quando se experimenta Deus desse jeito, sentimo-nos bem a dialogar com Deus, a contar-lhe o que nos vai no coração, a procurar discernir o que Ele quer de nós, a fazer a sua vontade. Ele é para nós, como o era para Jesus, o “papá” a quem amamos e por quem nos sentimos amados, em quem confiamos incondicionalmente, a quem recorremos confiadamente, com quem partilhamos tudo o que nos acontece, ou é o Deus distante, inacessível, indiferente, que facilmente deixamos de lado porque não tem qualquer lugar especial no nosso projeto de vida?
In site dos Dehonianos
by Paroquia da Amadora | Jul 19, 2025
Os nossos dias vivem-se a um ritmo sufocante. A sobrecarga de trabalho, a pressão para corresponder às expetativas, a obrigação de fazer tudo para ontem, o cumprimento dos objetivos que nos impõem, obrigam-nos a uma correria sem fim. Dizemos estupidamente que “tempo é dinheiro” e procuramos aproveitar avidamente cada instante, não percebendo que a vida nos vai escapando por entre as mãos e que nos vamos desumanizando sempre mais. Mudamos de fila no trânsito da manhã vezes incontáveis para ganhar uns metros, arriscamos a vida passando semáforos vermelhos, comemos de pé ao lado de pessoas para quem nem sequer olhamos, chegamos a casa tarde, extenuados, enervados, vencidos pelo cansaço e pelo stress, sem tempo e sem vontade de brincar com os filhos ou de lhes ler uma história e dormimos algumas horas com a consciência de que o dia a seguir vai ser exatamente igual… Temos ótimas desculpas: são as exigências da vida moderna; temos de viver a este ritmo para não ficar para trás; não podemos perder a batalha diária pela existência. Contudo, mesmo que tudo isso seja verdade, acabamos por transigir com o sistema e por prescindir de coisas essenciais. Que espaço fica para nos encontrarmos com Deus? Que tempo fica para nos encontrarmos com Jesus, para O escutarmos, para acolhermos as suas propostas? Que tempo e que espaço ficam para a família, para os amigos, para tudo isso que torna a nossa vida mais humana e mais feliz?
Marta e Maria, respetivamente a discípula que vive para servir e a discípula que se senta aos pés de Jesus para escutar a Palavra, não representam duas realidades opostas; mas representam duas facetas que, no conjunto, “compõem” a figura do verdadeiro discípulo. Viver como discípulo de Jesus não se resume simplesmente em “fazer coisas”, ainda que boas e úteis; um ativismo que não parte do encontro com Jesus e da escuta da Palavra de Jesus, acaba a médio prazo por se tornar um “cumprir calendário” sem sentido e sem objetivo. Por outro lado, viver como discípulo de Jesus também não é ficar simplesmente sentado a “olhar para o céu”, desligado das realidades da terra, alheio às necessidades, aos sofrimentos e às alegrias dos homens. O discípulo de Jesus senta-se primeiro aos pés de Jesus, como Maria, a fim de escutar as indicações de Jesus e receber as indicações que Ele dá; depois, como Marta, dispõe-se a servir os irmãos, com dedicação e generosidade. É desta forma que procuramos viver o nosso seguimento de Jesus? Nas nossas comunidades cristãs, onde há sempre tanta coisa a fazer, a ação é sempre precedida da escuta de Jesus?
In site dos Dehonianos
by Paroquia da Amadora | Jul 5, 2025
Jesus define pormenorizadamente a forma como os discípulos devem atuar, enquanto estão em missão: não devem levar consigo nem bolsa, nem alforge, nem sandálias; não devem deter-se a saudar ninguém pelo caminho; não devem saltar de casa em casa. As indicações de não levar nada para o caminho sugerem que a força do Evangelho não reside nos meios materiais, mas na força libertadora da Palavra; a indicação de não saudar ninguém pelo caminho indica a urgência da missão (que não permite deter-se nas intermináveis saudações típicas da cortesia oriental, sob pena de o essencial – o anúncio do Reino – ser continuamente adiado); a indicação de que não devem saltar de casa em casa sugere que a preocupação fundamental dos discípulos deve ser a dedicação total à missão e não o encontrar uma hospitalidade mais confortável. Despojados dos bens materiais, sem preocupações com o bem-estar ou com a própria segurança, libertos da ansiedade sobre a forma como vão ser acolhidos, os enviados de Jesus estão completamente disponíveis para servir o Reino de Deus. Essa será a preocupação suprema que os move.
In site dos Dehonianos
by Paroquia da Amadora | Jun 21, 2025
“E vós, quem dizeis que Eu sou?” – perguntou Jesus diretamente aos seus discípulos nos arredores de Cesareia de Filipe. É uma pergunta decisiva, que deve ecoar, de forma constante, nos ouvidos e no coração dos discípulos de Jesus de todas as épocas. A nossa resposta a esta questão não pode ficar-se pela repetição papagueada de velhas fórmulas que aprendemos na catequese, ou pela reprodução impessoal de uma definição tirada de um qualquer tratado de teologia. A questão vai dirigida ao âmago do nosso ser e exige uma tomada de posição pessoal, um pronunciamento sincero, sobre a forma como Jesus toca a nossa vida. A resposta a esta questão é o passo mais importante e decisivo na vida de cada cristão. Quem é Jesus para nós? Que lugar ocupa Ele na nossa existência? Que valor damos às suas propostas? Que importância assumem os seus valores nas nossas opções de vida? Jesus é, para nós, a grande referência, o vetor à volta do qual o nosso mundo se constrói? Ele é para nós, de facto, “caminho, verdade e vida”?
In site dos Dehonianos