by Paroquia da Amadora | Set 7, 2025
Talvez o mais impressionante neste texto seja a absoluta primazia que, na perspetiva de Jesus, o Reino deve assumir na vida dos discípulos. Ser discípulo de Jesus é ir atrás d’Ele no caminho do Reino, sem desculpas, sem cedências, sem condicionantes, sem transigências, sem meias tintas, sem “paninhos quentes”, sem acomodações fáceis. O Reino de Deus deve ser, para os discípulos de Jesus, a prioridade máxima, a pérola mais preciosa, o “tesouro escondido” pelo qual vale a pena deixar tudo o resto. É possível que esta radicalidade nos faça hesitar. Nós não estamos habituados a tal exigência, nem gostamos que nos coloquem sobre os ombros tanta pressão. Gostamos de caminhos que não exijam muito de nós, de soluções de compromisso, de propostas que não ponham em causa o nosso bem-estar, de indicações que não nos tirem da nossa zona de conforto, de direções que não nos obriguem a passar pela cruz. Como nos situamos face a tudo isto? Estamos, apesar de tudo, decididos a apostar em Jesus e na sua proposta? Sentimo-nos discípulos que caminham incondicionalmente atrás de Jesus? Que lugar ocupa o Reino de Deus e a sua justiça na nossa lista de prioridades?
Tudo isto nos faz pensar na forma como, no dia a dia, os cristãos vivem a sua fé e como, nas nossas comunidades cristãs, se faz pastoral. Talvez o nosso exercício pastoral esteja, muitas vezes, mais direcionado para congregar grandes massas, do que para fazer discípulos de Jesus. Entusiasmamo-nos com acontecimentos religiosos que reúnem grandes multidões; ficamos orgulhosos quando podemos apresentar números elevados de batismos, de comunhões, de casamentos, de crismas, de confissões; sentimo-nos felizes com o número de pessoas que enchem as ruas das nossas cidades quando organizamos solenes procissões… Tudo isso tem, sem dúvida, o seu lugar nas nossas concretizações pastorais; mas a nossa preocupação primordial não deveria ser ajudar as pessoas a encontrar-se com Jesus, a conhecê-l’O, a segui-l’O, a colaborar com Ele na construção do Reino de Deus? Quando alguém se apresenta num dos nossos cartórios paroquiais para “marcar” um batizado ou um casamento, temos o cuidado de a ajudar a perceber que a receção do sacramento só faz sentido se ela está disposta a comprometer-se no seguimento de Jesus?
In site dos Dehonianos
by Paroquia da Amadora | Ago 31, 2025
Naquela refeição de sábado, “em casa de um dos principais fariseus”, Jesus viu os convidados disputarem os lugares mais honrosos da mesa. Aquela cena pode ser encarada como uma parábola do nosso mundo contemporâneo: somos desafiados, desde muito cedo, a lutar pelos primeiros lugares, a conquistar e a defender o nosso espaço, a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para ter sucesso. Tornamo-nos competitivos, para não ficarmos para trás e para correspondermos àquilo que a sociedade espera de nós. Na verdade, a competitividade é um fator fundamental no progresso e no desenvolvimento das sociedades, impulsionando a inovação, a eficiência, a busca por melhores resultados, o avanço civilizacional; mas pode também, quando toma conta de nós, ter efeitos perversos. Torna-nos ambiciosos, agressivos, egoístas, prepotentes, vaidosos; faz-nos querer triunfar a todo o custo, independentemente dos meios que temos de utilizar e das pessoas que temos de pisar; ensina-nos a ver no “outro”, não um irmão, mas um concorrente que ameaça o nosso êxito… Além disso, a competitividade deixa frequentemente abandonados na berma dos caminhos da história os “perdedores”, os “fracassados”, os menos preparados, os que não foram talhados para a luta, para o confronto, para a competição. Como vemos tudo isto? Um mundo alicerçado sobre estes valores é uma inevitabilidade? Sentimo-nos bem num mundo que funciona assim?
Jesus considera que a conquista dos primeiros lugares, o sucesso, as glórias humanas, os triunfos, podem não significar a construção de uma vida com sentido. Convencido de que “quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado”, Jesus parece considerar que os “primeiros lugares”, os êxitos humanos, as honras e títulos de glória, são valores efémeros, com prazo curto de validade, que não podem servir de suporte à construção de uma vida com sentido. Por isso, Ele convida os seus discípulos a construírem as suas vidas numa lógica de simplicidade e de humildade, sem terem medo dos “últimos lugares”. Para Jesus, o amor gratuito e desinteressado, a preocupação com o bem dos irmãos, o cuidado dos mais frágeis e pequenos, a alegria que brota das coisas simples, a capacidade de olhar o “outro” com um olhar fraterno, a bondade e a misericórdia, são bem mais importantes do que os triunfos e as glórias humanas. O que pensamos da “linha” de Jesus? O que Ele propõe é ingénuo e impraticável, ou é uma forma de tornar o nosso mundo mais humano e mais feliz? À luz da compreensão da vida que Jesus propõe, que sentido é que faz a nossa apetência pelas honras, pelos títulos, pelos lugares de destaque?
No final daquela refeição de sábado “em casa de um dos principais fariseus”, Jesus desafiou o seu anfitrião a não ficar refém de um círculo de relações marcado por interesses de classe, por redes de conveniências, por privilégios de castas. Rodearmo-nos apenas daqueles com quem temos afinidade ou com quem partilhamos determinados interesses, construir à nossa volta “muros sanitários” que nos protejam dos “indesejáveis” e dos “diferentes”, pode ser cómodo e conveniente; mas impedir-nos-á, por outro lado, de descobrir uma maneira mais humana e mais misericordiosa de viver. Por isso, Jesus pede àquele fariseu que, quando oferecer um banquete, convide para sua casa os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos: isso fá-lo-á descobrir horizontes novos e bem mais desafiantes. Ganharemos infinitamente mais se abrirmos o coração a todos, do que se nos encerrarmos num pequeno círculo de interesses, de favoritismos e de cumplicidades. Vivemos comodamente instalados num círculo restrito de pessoas com quem partilhamos alguns interesses e afinidades, ou estamos abertos à universalidade, à fraternidade, à comunhão com todos aqueles que caminham ao nosso lado?
In site dos Dehonianos
by Paroquia da Amadora | Ago 24, 2025
Como devemos viver para que a nossa vida não seja perdida? No caminho para Jerusalém, Jesus deixa a sua resposta: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita”. Talvez esta frase dita assim, sem explicações, nos pareça estranha e enigmática. Contudo, o Evangelho de Jesus, no seu conjunto, explica-a bastante bem: “entrar pela porta estreita” é não viver de forma irresponsável, sem agarrar a vida e sem se comprometer; é recusar a mediocridade, a acomodação, a alienação; é não ceder ao facilitismo, à tentação do bem-estar, aos valores que não têm qualquer valor; é não viver exclusivamente voltado para os próprios interesses pessoais, alheado dos problemas do mundo e da sorte dos irmãos; é não se conformar com uma vida oca, de meias tintas, indolor, sem metas elevadas; é não confiar em falsas seguranças vindas do dinheiro ou de uma religião vazia e ritualista; é fazer-se pequeno, simples, humilde, servo, capaz de amar até ao dom total de si próprio… Como é que estamos a construir a nossa vida? Confundimos “felicidade” com “facilidade”? Apostamos na “porta estreita”, que implica esforço, renúncia, sacrifício, coerência, risco, luta, compromisso, ou procuramos a “porta larga” da facilidade, da superficialidade, do bem-estar, da popularidade, do êxito efémero, de tudo aquilo que não exige muito mas também não sacia a nossa fome e a nossa sede de vida verdadeira?
A parábola do banquete em que a porta se fechou, impedindo a entrada daqueles que chegaram tarde e a más horas, não é sobre a intransigência de Deus para com os seus filhos que às vezes se equivocam na escolha das prioridades; mas é um veemente apelo a que não nos deixemos adormecer numa vida fácil e acomodada, negligenciando as oportunidades que nos são dadas para construirmos uma vida com sentido. A nossa passagem pela terra é efémera. Tem um tempo que rapidamente se esgota. Se, no tempo que nos é dado, formos apostando tudo em coisas rasteiras e fúteis, não conseguiremos ter espaço para as coisas decisivas, as que dão sentido a tudo. Sem darmos conta, o tempo que temos à nossa disposição esvazia-se, a porta fecha-se e acabamos por não viver verdadeiramente. Como gastamos o tempo que Deus nos concede? Apostamos em escolhas que nos realizam? Procuramos a cada instante encher de sentido a nossa vida, esforçando-nos por concretizar o projeto que Deus tem para nós?
In site dos Dehonianos
by Paroquia da Amadora | Ago 17, 2025
Desde muito cedo Jesus soube que o Pai lhe tinha confiado uma missão. Essa missão passava por dar testemunho do amor de Deus e propor aos homens um mundo novo, um mundo construído sobre os valores de Deus. Jesus abraçou essa missão com todas as forças do seu coração. Numa imagem bastante expressiva, Jesus dizia-se animado pelo “fogo” de Deus. A sua paixão por Deus e pelo Reino brilhava em cada palavra que Ele dizia ou em cada gesto que ele fazia. Essa paixão contagiava todos aqueles que com Ele se cruzavam e trazia uma esperança nova a todos aqueles que viviam afogados nas sombras da morte: os pobres da Galileia que não tinham pão para dar aos filhos, os doentes desalentados e sem perspetivas, os pecadores condenados pela sociedade e pela religião do Templo, os crentes sinceros que não se reviam numa religião vazia e estéril… Os donos do mundo tentaram apagar o “fogo” de Jesus, mergulhando-O na morte e atirando-O para o silêncio de um sepulcro; mas Jesus voltou a aparecer vivo aos seus discípulos, derramou sobre eles o “fogo” do Espírito e enviou-os pelo mundo a dar testemunho do que tinham visto e escutado. Assim, o “fogo” de Jesus atravessou o tempo e a história e chegou até nós. Vivemos contagiados pelo “fogo” de Jesus, pela sua paixão por Deus e pelo Reino?
O “fogo” que Jesus trouxe à terra é também um “fogo” purificador, que se propõe “queimar” o lixo que suja o mundo e que estraga a vida dos homens: o egoísmo, a injustiça, a escravidão, a opressão, a autossuficiência, a prepotência, a ambição, a ganância, a violência, a mentira, o medo, o conformismo, a indiferença, a maldade nas suas mil e uma formas. Jesus queria que das cinzas desse mundo velho, destruído pelo “fogo” purificador da sua proposta, emergisse o Reino de Deus: um mundo de amor, de justiça, de paz, de reconciliação, de fraternidade, de solidariedade, de respeito pela dignidade de cada ser humano e da criação. Sentimo-nos “habitados” pelo “fogo” de Jesus e, como Ele, estamos disponíveis para combater tudo aquilo que estraga o nosso mundo e que traz sofrimento aos homens? Haverá na nossa vida pessoal algum “lixo” que necessita de ser queimado para que surja em nós o Homem Novo?
Jesus disse estar ansioso por receber “um batismo” que o levou a mergulhar na morte para emergir para a vida nova da ressurreição. No dia do nosso batismo nós também fomos mergulhados na água e emergimos como pessoas novas, comprometidas com Jesus e com o seu projeto. Morremos para a vida velha do pecado e ressuscitamos para a vida nova. Depois, fomos fazendo caminho, no meio das consolações de Deus e das vicissitudes da vida. No entanto, com o passar do tempo, a rotina, o cansaço, a monotonia, a habituação, a banalização da existência, foram apagando o “fogo de Deus” que ardia em nós e que nos tinha sido dado no dia do nosso batismo. Acomodamo-nos na vivência de uma fé rotineira, feita de ritos externos, de tradições velhas, de palavras ocas, de uma “doutrina” que passa ao lado das exigências da vida. Instalados, acomodados, arrefecidos, vamos atravessando a vida sem chama, apegados a valores efémeros, navegando à vista de terra, sem nos arriscarmos e sem nos empenharmos verdadeiramente na construção de um mundo segundo Deus. O que podemos fazer para reavivar em nós o “fogo de Deus” que recebemos no dia do nosso compromisso batismal?
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by Paroquia da Amadora | Ago 15, 2025
Rezar por Maria.
Frequentemente, ouvimos a expressão: “rezar à Virgem Maria”… Esta maneira de falar não é absolutamente exata, porque a oração cristã dirige-se a Deus, ao Pai, ao Filho e ao Espírito: só Deus atende a oração. Os nossos irmãos protestantes que, contrariamente ao que se pretende, por vezes têm a mesma fé que os católicos e os ortodoxos na Virgem Maria Mãe de Deus, recordam-nos que Maria é e se diz ela própria a Serva do Senhor.
Rezar por Maria é pedir que ela reze por nós: “Rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte!” A sua intervenção maternal em Caná resume bem a sua intercessão em nosso favor. Ela é nossa “advogada” e diz-nos: “Fazei tudo o que Ele vos disser!”
Rezar com Maria.
Ela está ao nosso lado para nos levar na oração, como uma mãe sustenta a palavra balbuciante do seu filho. Na glória de Deus, na qual nós a honramos hoje, ela prossegue a missão que Jesus lhe confiou sobre a Cruz: “Eis o teu Filho!” Rezar com Maria, mais que nos ajoelharmos diante dela, é ajoelhar-se ao seu lado para nos juntarmos à sua oração. Ela acompanha-nos e guia-nos na nossa caminhada junto de Deus.
Rezar como Maria.
Aprendemos junto de Maria os caminhos da oração. Na escola daquela que “guardava e meditava no seu coração” os acontecimentos do nascimento e da infância de Jesus, nós meditamos o Evangelho e, à luz do Espírito Santo, avançamos nos caminhos da verdade. A nossa oração torna-se ação de graças no eco ao Magnificat. Pomos os nossos passos nos passos de Maria para dizer com ela na confiança: “que tudo seja feito segundo a tua Palavra, Senhor!”
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by Paroquia da Amadora | Ago 10, 2025
Vivemos numa época da história particularmente exigente. Sombras escuras pairam no horizonte e ameaçam o futuro do nosso mundo: as guerras, as injustiças, a crise climática, o atropelo dos mais elementares direitos humanos, as políticas que ignoram as necessidades dos mais desfavorecidos, a indiferença face ao sofrimento das pessoas abandonadas nas bermas da sociedade, a desumanização dos homens transformados em simples máquinas de produção ao serviço dos interesses materialistas dos senhores do mundo, o desencanto de tantos homens e mulheres que não encontram sentido para as suas vidas… Poderemos cruzar os braços, assumir uma atitude de resignação e de passividade e deixar que o mundo continue a ser construído sobre injustiças e sofrimentos? Jesus convida os seus discípulos a estar preparados, a cada instante, para fazer aquilo que Deus lhes pede para fazer. É hora de viver com responsabilidade e lucidez, sentindo-nos construtores de uma nova história e imprimindo ao nosso mundo um dinamismo de amor, de vida nova, de misericórdia, de compaixão. Como vivemos? Adormecidos e despreocupados, comodamente instalados no nosso conforto e segurança, ou como servidores humildes, atentos e comprometidos do Reino de Deus e da sua justiça?
Também na forma de viver a fé pode haver passividade, resignação, superficialidade. Podemos instalar-nos numa fé rotineira, que nos leva a repetir sempre os mesmos gestos, as mesmas orações, os mesmos ritos, as mesmas tradições, mas que não tem qualquer impacto na nossa vida e no nosso compromisso com a construção do Reino de Deus; podemos andar tão ocupados com os nossos trabalhos que não consigamos encontrar tempo para escutar Deus, para dialogar com Ele, para tentar perceber os projetos que Ele tem para nós e para o mundo; podemos instalar-nos comodamente numa prática religiosa “morna” e de “meias tintas”, que nos tranquiliza a consciência e nos faz sentir “em regra” com Deus, mas não nos leva a “sujar as mãos” com os nossos irmãos que necessitam do nosso cuidado, da nossa compaixão, do nosso amor. A nossa forma de viver a fé é marcada pela passividade e pelo conformismo, ou pelo compromisso com Deus e com os irmãos? Vivemos a nossa adesão a Cristo e à Igreja de forma ativa, lúcida e responsável? Somos meros “consumidores” de atos de culto, ou discípulos comprometidos com a construção de uma Igreja viva, missionária, fraterna, acolhedora, sinal e anúncio do amor de Deus no mundo?
In site dos Dehonianos