Vivemos comodamente instalados ou estamos abertos à comunhão com os que caminham ao nosso lado?

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Naquela refeição de sábado, “em casa de um dos principais fariseus”, Jesus viu os convidados disputarem os lugares mais honrosos da mesa. Aquela cena pode ser encarada como uma parábola do nosso mundo contemporâneo: somos desafiados, desde muito cedo, a lutar pelos primeiros lugares, a conquistar e a defender o nosso espaço, a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para ter sucesso. Tornamo-nos competitivos, para não ficarmos para trás e para correspondermos àquilo que a sociedade espera de nós. Na verdade, a competitividade é um fator fundamental no progresso e no desenvolvimento das sociedades, impulsionando a inovação, a eficiência, a busca por melhores resultados, o avanço civilizacional; mas pode também, quando toma conta de nós, ter efeitos perversos. Torna-nos ambiciosos, agressivos, egoístas, prepotentes, vaidosos; faz-nos querer triunfar a todo o custo, independentemente dos meios que temos de utilizar e das pessoas que temos de pisar; ensina-nos a ver no “outro”, não um irmão, mas um concorrente que ameaça o nosso êxito… Além disso, a competitividade deixa frequentemente abandonados na berma dos caminhos da história os “perdedores”, os “fracassados”, os menos preparados, os que não foram talhados para a luta, para o confronto, para a competição. Como vemos tudo isto? Um mundo alicerçado sobre estes valores é uma inevitabilidade? Sentimo-nos bem num mundo que funciona assim?

Jesus considera que a conquista dos primeiros lugares, o sucesso, as glórias humanas, os triunfos, podem não significar a construção de uma vida com sentido. Convencido de que “quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado”, Jesus parece considerar que os “primeiros lugares”, os êxitos humanos, as honras e títulos de glória, são valores efémeros, com prazo curto de validade, que não podem servir de suporte à construção de uma vida com sentido. Por isso, Ele convida os seus discípulos a construírem as suas vidas numa lógica de simplicidade e de humildade, sem terem medo dos “últimos lugares”. Para Jesus, o amor gratuito e desinteressado, a preocupação com o bem dos irmãos, o cuidado dos mais frágeis e pequenos, a alegria que brota das coisas simples, a capacidade de olhar o “outro” com um olhar fraterno, a bondade e a misericórdia, são bem mais importantes do que os triunfos e as glórias humanas. O que pensamos da “linha” de Jesus? O que Ele propõe é ingénuo e impraticável, ou é uma forma de tornar o nosso mundo mais humano e mais feliz? À luz da compreensão da vida que Jesus propõe, que sentido é que faz a nossa apetência pelas honras, pelos títulos, pelos lugares de destaque?

No final daquela refeição de sábado “em casa de um dos principais fariseus”, Jesus desafiou o seu anfitrião a não ficar refém de um círculo de relações marcado por interesses de classe, por redes de conveniências, por privilégios de castas. Rodearmo-nos apenas daqueles com quem temos afinidade ou com quem partilhamos determinados interesses, construir à nossa volta “muros sanitários” que nos protejam dos “indesejáveis” e dos “diferentes”, pode ser cómodo e conveniente; mas impedir-nos-á, por outro lado, de descobrir uma maneira mais humana e mais misericordiosa de viver. Por isso, Jesus pede àquele fariseu que, quando oferecer um banquete, convide para sua casa os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos: isso fá-lo-á descobrir horizontes novos e bem mais desafiantes. Ganharemos infinitamente mais se abrirmos o coração a todos, do que se nos encerrarmos num pequeno círculo de interesses, de favoritismos e de cumplicidades. Vivemos comodamente instalados num círculo restrito de pessoas com quem partilhamos alguns interesses e afinidades, ou estamos abertos à universalidade, à fraternidade, à comunhão com todos aqueles que caminham ao nosso lado?

In site dos Dehonianos