CRÓNICAS & OPINIÃO

Nasceu em Lisboa, a 27 de janeiro de 1957, sendo o mais velho de cinco irmãos. Frequentou, durante 6 anos, o Curso de Engenharia Eletrotécnica no Instituto Superior Técnico. Entrou no Seminário em 1985, tendo sido ordenado Presbítero a 7 de julho de 1991. Além de ser pároco da Amadora, atualmente é também Conselheiro Espiritual de quatro Equipas de Casais de Nossa Senhora (ENS).

Quando se enfrentam desafios, geram-se tumultos na alma

19/08/2025

Jacob tendo ficado só, alguém lutou com ele até ao romper da aurora. Vendo que não podia vencer Jacob, bateu-lhe na coxa, e a coxa de Jacob deslocou-se, quando lutava com ele. E disse-lhe: «Deixa-me partir, porque já rompe a aurora.» Jacob respondeu: «Não te deixarei partir enquanto não me abençoares.» Perguntou-lhe então: «Qual é o teu nome?» Ao que ele respondeu: «Jacob.» E o outro continuou: «O teu nome não será mais Jacob, mas Israel; porque combateste contra Deus e contra os homens e conseguiste resistir.» Jacob interrogou-o, dizendo: «Peço-te que me digas o teu nome.» «Porque me perguntas o meu nome?» – respondeu ele. E então abençoou-o. | Gn 32, 25-30

 

Este episódio tem tanto de fascinante como de enigmático.
Deixemo-nos envolver pelo tom misterioso, pela movimentação,
pelos enunciados concisos, pelos silêncios, pelas alusões…
Jacob luta com ‘alguém’, que se lhe interpõe no caminho:
principia na escuridão, franqueia a aurora, termina de dia.
Há múltiplas leituras e interpretações para este relato.
Uma delas, talvez a mais relevante, relaciona-se com a luta.
Quando se enfrentam desafios, geram-se tumultos dentro da alma,
batalhas internas a travar, trânsito de um ‘antes’ para um ‘depois’.
Para um crente, a relação com Deus pode tomar a forma de ‘duelo’,
quase como um combate corpo-a-corpo,
um confronto entre o que aquele é e quer, e o que Deus É e quer.
Após a refrega, que pode durar ‘toda a noite’,
Deus inventa um empate: não se deixa derrubar nem dominar,
mas não permite, também, que Jacob prove o amargo da derrota.
Ganham ambas as partes. Uma vitória repartida. A única que vale.
Aquele que não desiste d’Ele, que ‘não O quer deixar partir’,
o que ‘luta contra Deus e contra os homens, e consegue resistir’,
recebe um nome novo. Torna-se cidadão da Vida.
E, no final, Deus abençoa-o, ou seja, fala bem dele, aplaude-o.
Que ninguém tenha receio de ter Deus como adversário.
No final de cada ‘combate’ não haverá vencidos. Só vencedores.

In Palavra de Deus, Palavras do homem
(adaptado)