Os nossos dias vivem-se a um ritmo sufocante. A sobrecarga de trabalho, a pressão para corresponder às expetativas, a obrigação de fazer tudo para ontem, o cumprimento dos objetivos que nos impõem, obrigam-nos a uma correria sem fim. Dizemos estupidamente que “tempo é dinheiro” e procuramos aproveitar avidamente cada instante, não percebendo que a vida nos vai escapando por entre as mãos e que nos vamos desumanizando sempre mais. Mudamos de fila no trânsito da manhã vezes incontáveis para ganhar uns metros, arriscamos a vida passando semáforos vermelhos, comemos de pé ao lado de pessoas para quem nem sequer olhamos, chegamos a casa tarde, extenuados, enervados, vencidos pelo cansaço e pelo stress, sem tempo e sem vontade de brincar com os filhos ou de lhes ler uma história e dormimos algumas horas com a consciência de que o dia a seguir vai ser exatamente igual… Temos ótimas desculpas: são as exigências da vida moderna; temos de viver a este ritmo para não ficar para trás; não podemos perder a batalha diária pela existência. Contudo, mesmo que tudo isso seja verdade, acabamos por transigir com o sistema e por prescindir de coisas essenciais. Que espaço fica para nos encontrarmos com Deus? Que tempo fica para nos encontrarmos com Jesus, para O escutarmos, para acolhermos as suas propostas? Que tempo e que espaço ficam para a família, para os amigos, para tudo isso que torna a nossa vida mais humana e mais feliz?
Marta e Maria, respetivamente a discípula que vive para servir e a discípula que se senta aos pés de Jesus para escutar a Palavra, não representam duas realidades opostas; mas representam duas facetas que, no conjunto, “compõem” a figura do verdadeiro discípulo. Viver como discípulo de Jesus não se resume simplesmente em “fazer coisas”, ainda que boas e úteis; um ativismo que não parte do encontro com Jesus e da escuta da Palavra de Jesus, acaba a médio prazo por se tornar um “cumprir calendário” sem sentido e sem objetivo. Por outro lado, viver como discípulo de Jesus também não é ficar simplesmente sentado a “olhar para o céu”, desligado das realidades da terra, alheio às necessidades, aos sofrimentos e às alegrias dos homens. O discípulo de Jesus senta-se primeiro aos pés de Jesus, como Maria, a fim de escutar as indicações de Jesus e receber as indicações que Ele dá; depois, como Marta, dispõe-se a servir os irmãos, com dedicação e generosidade. É desta forma que procuramos viver o nosso seguimento de Jesus? Nas nossas comunidades cristãs, onde há sempre tanta coisa a fazer, a ação é sempre precedida da escuta de Jesus?
In site dos Dehonianos