Uma desconfortável inquietação abalroou-me:
então, Jesus, não vai ter em conta o facto de eu ser cristão e, até, padre,
o curso de Teologia, as horas de estudo e de trabalhos, as Eucaristias que celebro,
os tempos de oração, as reuniões sem conta, as peregrinações em que participo,
os retiros que oriento, as andanças daqui para ali?
Para receber o Reino, não é necessário e suficiente tudo aquilo?
“Sempre que tu deste de comer e de beber a um precisado, vestiste o desnudado,
acolheste o forasteiro, visitaste o doente e o cativo, foi a mim que o fizeste.”
A grelha de leitura de Jesus sobre a nossa vida tem, apenas, um item: amar.
Deus não se agrilhoa a invólucros religiosos ou vestiduras espirituais.
Nem a termos, como: crente, praticante, não praticante, agnóstico, ateu.
O seu Sonho é que cuidemos uns dos outros. Com gestos concretos.
Entendemos?
P. Carlos Jorge, in VENTO NESTE CAMINHO DE PEDRAS,
de P. Carlos Jorge (textos), Carina Tavares e João Afonso (ilustrações)
2021