CRÓNICAS & OPINIÃO

Nasceu em Lisboa, a 27 de janeiro de 1957, sendo o mais velho de cinco irmãos. Frequentou, durante 6 anos, o Curso de Engenharia Eletrotécnica no Instituto Superior Técnico. Entrou no Seminário em 1985, tendo sido ordenado Presbítero a 7 de julho de 1991. Além de ser pároco da Amadora, atualmente é também Conselheiro Espiritual de quatro Equipas de Casais de Nossa Senhora (ENS).

Um Deus que dança

17/06/2025

Quantos exploradores, ao longo dos tempos, se lançaram na fascinante aventura
de alcançarem e embrenharem-se na intelecção da Santíssima Trindade!
No decorrer do percurso acamparam aqui e ali. Em cada paragem, novas perquirições.
E partiam. Mais enriquecidos. Mas sempre incompletos.
No fim do itinerário nenhum deles conseguiu atingir o objectivo.
Devemos ficar surpreendidos?
Escreve Santo Agostinho nas linhas finais da sua obra De Trinitate (Sobre a Trindade):
“Um sábio, no livro que é conhecido com o nome de Eclesiástico, disse ao falar de Ti:
Dizemos muitas coisas e não chegamos, e toda a consumação das palavras é Ele.’
Quando, pois, chegamos a Ti,
cessarão estas muitas palavras que dizemos e não chegamos.”
Sim, tal como Agostinho e todos os outros, por mais que avancemos, não chegamos.
“Falamos de Deus. Qual a admiração se não compreendes?” (Santo Agostinho).
Somos buscadores de Deus. Vamos chegando. E zarpando. Mas não desistimos.
Adentramo-nos no Mistério, que não é algo que não se compreende,
mas algo que nunca acaba de se ir compreendendo. Há sempre mais estrada.
Jesus falou-nos d’Ele, do Pai e do Espírito.
O Pai que ama o Filho. O Filho que ama o Pai. O Amor entre o Pai e o Filho.
Num único Amor, Três: o Amante, o Amado, o Amor entre os dois.
Ou seja: 1 + 1 + 1 = 1. A matemática de Deus é diferente da nossa.
Gregório de Nazianzo “baptizou” a ligação e interpenetração das Três Pessoas,
com o termo
pericorese, que vem do grego antigo perichōrēsis:
peri (ao redor) e chōreō (dar espaço, mover-se).
Pericorese é o nome de uma dança infantil tradicional.
As crianças, de mãos dadas, bailam num padrão circular.
Uma criança fica no meio, cantando, enquanto as outras giram ao seu redor.
Em certo momento, a criança que está no meio troca com uma da roda.
Deus: Três Pessoas que dançam em volta de si mesmas.
É uma representação metafórica. Mas não é um belo ícone da Santíssima Trindade?
Tudo lá está: comunhão, unidade, cumplicidade, ternura, alegria, liberdade, paz.
E este Deus, Uno e Trino, convida-nos para a sua Dança.
Convoca-nos para viver n’Ele e como Ele.
Rejubila quando conseguimos reproduzir os ritmos da sua coreografia.
O filósofo alemão, Friedrich Nietzsche, escreveu na obra Assim falou Zaratrusta:
“Eu só acreditaria num Deus que soubesse dançar.”
O meu Deus Dança.
Quem quer juntar-se ao Baile?

PCJ
13/6/25