Ser dador de sangue

Ser dador de sangue

Ser dador de sangue… bem, começou numa tarde após uma aula na universidade, quando a caminho do metro, um dos meus colegas de curso disse: “Vão andando, que eu vou ali dar sangue à biblioteca.” Ao que respondi: “Ah! Boa ideia, também vou.”

Não fazia grande ideia do que me esperava e não esperava o enorme (mas essencial!) questionário inicial, nem o tamanho da agulha que finalmente me espetaram no braço. Agulha essa que me disseram que era melhor olhar para o lado enquanto ma espetavam, mas que fiz questão de assistir com muita atenção, para garantir que não havia falhas. Depois foi só relaxar deitado numa maca e esperar 10 minutos.

Correu bem, não desmaiei, o lanche é sempre um bónus simpático e sei lá, posso estar a salvar a vida de alguém num futuro próximo.

Mais tarde, com o meu melhor amigo, tentei criar um movimento “Levar amigos a dar sangue”. O movimento consistia em convidar/incentivar/“coagir” outros amigos nossos a vir dar sangue quando se aproximava a nossa altura de poder voltar a dar sangue. Tenho tido um azar fenomenal, pois todos os que consegui convencer até hoje e que vão comigo, nunca chegam a poder dar sangue.

Até hoje, dezenas de dádivas depois, acho que nunca tive uma má experiência, fui sempre muito bem recebido e tratado.

Continuo a ter de olhar com muita atenção para a agulha, não vá a enfermeira espetar a agulha no sítio errado, embora receba sempre este comentário ligeiramente assustador, mas que claramente é dito como elogio, de que as minhas veias são muito fáceis de encontrar.

Para terminar, deixo o convite a todos os que possam dar sangue, que o façam!

Se estão com medo de falhar ou das agulhas, acreditem e desafiem os vossos medos!

Aos que vão adiando, marquem já!

Não nos custa nada e podemos estar a salvar uma vida, que amanhã pode ser a nossa e vamos gostar que alguém tenha tido a nossa coragem.

Por Gonçalo Matos

Testemunho | Dizer “Não” Pode Ser o Maior “Sim” da Tua Vida

Testemunho | Dizer “Não” Pode Ser o Maior “Sim” da Tua Vida

Comecei a fumar por volta dos 13 ou 14 anos. Partilhava o maço com os amigos — era quase um ritual entre nós. Naquela altura, já se sabia que fazia mal, mas não se falava tanto disso. Não havia a informação, a consciência nem os alertas que existem hoje. Fumar era visto como algo normal, até com algum ar de “estilo” ou maturidade.

O que começou por curiosidade e convivência, transformou-se num vício sério. Com o tempo, passei a fumar um maço por dia, e em dias de festa ultrapassava isso com facilidade.

Fumei durante 20 anos. Fiz duas tentativas sérias para deixar o tabaco. Na primeira, consegui aguentar três meses — até ao dia em que, numa festa, decidi acender “só um”. Foi o suficiente. Voltei ao ponto de partida como se nunca tivesse parado. Percebi que, no meu caso, não há espaço para “só um”.

Na segunda tentativa, estava grávida e deixei de fumar logo que soube. Tinha a motivação, o foco e o amor a crescer dentro de mim. Sentia-me determinada e confiante de que, daquela vez, ia ser de vez. Infelizmente, às 12 semanas, tive um aborto espontâneo. O vício encontrou ali uma brecha e instalou-se novamente.

Mais tarde, engravidei novamente. Nessa altura, segui a recomendação da médica: não parar de forma brusca, mas reduzir progressivamente. O corpo, habituado à nicotina durante tantos anos, podia ressentir-se. Passei, então, a fumar 2 ou 3 cigarros por dia — um esforço enorme, mas possível com foco.

Na véspera de largar o tabaco de vez, tive uma ânsia tão forte que fumei um maço inteiro. Foi como se não houvesse amanhã. Os meus amigos ficaram preocupados — sabiam o quanto me tinha esforçado até ali. Parecia que ia tudo por água abaixo. No entanto, no dia seguinte, não toquei num cigarro. E, surpreendentemente, nem me apetecia. Os dias foram passando, e esse momento ficou para trás. Nunca mais voltei a fumar.

Desde 25 de Fevereiro de 2005 que celebro esse dia como um verdadeiro renascimento. Uma vitória sobre a dependência. Um passo decisivo que mudou a minha vida — para melhor.

Claro que houve dias difíceis. A tentação apareceu em festas, em momentos de stresse, em alturas em que “só um” parecia inofensivo, mas resisti. E continuo a resistir. Hoje, olho para trás e reconheço que deixar de fumar foi uma das decisões mais difíceis da minha vida e também uma das mais importantes.

Ganhei muito com essa escolha: recuperei o paladar, o olfato, voltei a respirar melhor, a ter mais energia. As pequenas coisas — como saborear uma refeição, subir escadas sem ficar ofegante, ou simplesmente sentir o cheiro da terra molhada — tornaram-se dádivas.

Mais importante ainda, recuperei a liberdade. A liberdade de não depender de um cigarro para lidar com emoções, rotinas ou pressões, e acima de tudo, a liberdade de viver melhor.

Hoje sei, sem sombra de dúvida, que não posso voltar a fumar. Se pegar num cigarro, sei que vou regressar ao mesmo vício, ao mesmo ciclo. Por isso, não arrisco. Aquilo que ganhei é muito mais valioso do que qualquer cigarro.

Se estás a pensar em deixar de fumar, acredita: é possível. E não precisas de fazer tudo de uma só vez. Cada tentativa é válida. Mesmo quando parece que se falhou, está-se a aprender, a preparar o caminho. Há sempre uma nova oportunidade de recomeçar. Não te rendas.

E se nunca começaste, melhor ainda. Fica longe. Não vás por aí. Como qualquer vício, é muito fácil começar, mas muito difícil parar. O que parece inofensivo ao início, pode transformar-se num peso enorme. E ninguém precisa disso para ser aceite, ter estilo ou fazer parte.

Com persistência, apoio e fé, é possível vencer o que parece impossível. Quando damos esse passo, não estamos só a deixar um vício. Estamos a escolher a vida que Deus nos dá, um presente precioso que merece ser cuidado e valorizado todos os dias. Dar esse passo é um acto de coragem e de amor — por nós, pelos que nos rodeiam, e pela vida que Ele nos confiou.

Ana Freire Fura