Microplásticos

Microplásticos

Os microplásticos tornaram-se uma preocupação crescente para a saúde pública global. Estas partículas de plástico com menos de cinco milímetros de diâmetro infiltraram-se em praticamente todos os ambientes do nosso planeta, desde as regiões mais remotas como a Antártida até aos habitats mais profundos como a Fossa das Marianas (Nihart et al., 2025).

O que são os microplásticos e que impactos têm na saúde?

Os microplásticos são gerados por diversos processos quotidianos: a fricção dos pneus no asfalto, a degradação de objetos plásticos e a lavagem de roupa feita com fibras sintéticas são algumas das fontes principais (Wright & Kelly, 2017). Estes pequenos fragmentos de plástico acabam por contaminar o ar que respiramos, a água que bebemos e os alimentos que consumimos.

Estudos recentes, como o conduzido por Haipeng Huang e a sua equipa da Universidade de Pequim, revelam mecanismos preocupantes sobre como os microplásticos afetam o organismo. Utilizando microscopia bifotónica e partículas fluorescentes de poliestireno em ratos, os investigadores observaram que as células do sistema imunitário absorvem estas partículas e, subsequentemente, formam aglomerados nas paredes dos vasos sanguíneos cerebrais (Nihart et al., 2025).

Estes aglomerados funcionam de forma semelhante a coágulos sanguíneos, reduzindo o fluxo sanguíneo e potencialmente causando obstruções vasculares. Nos roedores estudados, estas alterações manifestaram-se através da redução da memória espacial e diminuição das capacidades motoras (Nihart et al., 2025).

No corpo humano, a presença de microplásticos já foi associada a diversas condições, incluindo:

  • Doenças respiratórias crónicas (Gasperi et al., 2018)
  • Perturbações do sistema imunitário (Wright & Kelly, 2017)
  • Desequilíbrios hormonais (Rochman et al., 2014)
  • Potenciais danos neurológicos (Mattsson et al., 2017)

Um dado particularmente alarmante é que, segundo investigações recentes, a quantidade média de microplásticos acumulados no cérebro humano aumentou cerca de 50% entre 2016 e 2024 (Nihart et al., 2025), sugerindo uma exposição crescente e acumulativa.

 

Como é que nos expomos aos microplásticos?

Os microplásticos entram no nosso organismo principalmente por três vias:

  1. Ingestão: Consumo de alimentos contaminados, especialmente produtos marinhos e água potável (Carbery et al., 2018)
  2. Inalação: Respiração de partículas presentes no ar, incluindo microfibras libertadas por têxteis sintéticos (Prata, 2018)
  3. Contacto dérmico: Absorção através da pele, principalmente de microplásticos presentes em cosméticos (Hernandez et al., 2017)

 

O que posso fazer para reduzir a produção de microplásticos?

Para reduzir a produção e a exposição aos microplásticos, podemos adotar várias estratégias no nosso dia a dia:

Alimentação

© Freepik

  • Reduzir o consumo de alimentos embalados em plástico;
  • Evitar aquecer alimentos em recipientes plásticos;
  • Utilizar filtros de água que removam microplásticos (Pivokonsky et al., 2018);
  • Privilegiar alimentos frescos e locais.

Em casa

  • Optar por têxteis naturais (algodão, linho, lã) em vez de sintéticos;
  • Utilizar aspiradores com filtros HEPA para reduzir partículas no ar interior;
  • Ventilar adequadamente os espaços fechados;
  • Evitar produtos de higiene e cosméticos que contenham microesferas plásticas.

Diariamente

  • Usar garrafas reutilizáveis de vidro ou aço inoxidável;
  • Escolher produtos de limpeza naturais e sustentáveis;
  • Reduzir o uso de plásticos descartáveis;
  • Optar por transportes ativos (caminhar, andar de bicicleta) quando possível, reduzindo a exposição a partículas resultantes da fricção dos pneus.

 

Em resumo…

Os microplásticos representam um desafio complexo para a saúde pública. À medida que a investigação avança, torna-se cada vez mais evidente que estas partículas podem ter efeitos significativos no nosso organismo, particularmente no sistema nervoso central. Embora as consequências a longo prazo ainda estejam sob investigação intensiva, as evidências atuais justificam uma abordagem preventiva.

Reduzir a exposição aos microplásticos requer uma combinação de escolhas individuais conscientes e políticas públicas eficazes que limitem a produção e dispersão destas partículas no ambiente. A contaminação por microplásticos é um problema global que exige atenção imediata e ação coordenada para proteger a saúde humana e ambiental.

 

Referências consultadas para este artigo:

Carbery, M., O’Connor, W., & Palanisami, T. (2018). “Trophic transfer of microplastics and mixed contaminants in the marine food web and implications for human health.” Environment International, 115, 400-409.

Gasperi, J., Wright, S. L., Dris, R., Collard, F., Mandin, C., Guerrouache, M., & Tassin, B. (2018). “Microplastics in air: Are we breathing it in?” Current Opinion in Environmental Science & Health, 1, 1-5.

Hernandez, L. M., Yousefi, N., & Tufenkji, N. (2017). ”Are there nanoplastics in your personal care products?” Environmental Science & Technology Letters, 4(7), 280-285.

Mattsson, K., Johnson, E. V., Malmendal, A., Linse, S., Hansson, L. A., & Cedervall, T. (2017). “Brain damage and behavioural disorders in fish induced by plastic nanoparticles delivered through the food chain.” Scientific Reports, 7(1), 11452.

Nihart, A. J. et al. (2025). Nature Medicine.