Após o convite da equipa PIC, é com muita alegria que regresso ao vosso contacto.
O feriado do 10 de Junho celebra três evocações.
PORTUGAL
Nobre nação e valente gente, à beira-mar plantada, com cerca de 900 anos de história e hoje membro de uma realidade bem maior – a União Europeia.
Faço parte da geração que viu, em 1986, Portugal entrar na dita união com perspetivas de desenvolvimento e de construção de um espaço comum.
LUÍS VAZ DE CAMÕES
Grande poeta português que enalteceu Portugal e as suas gentes na sua obra.
Recordo aqui parte de um dos seus poemas:
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança. Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo na esperança…”[1]
COMUNIDADES PORTUGUESAS
São as comunidades de portugueses que emigraram e estão, hoje, espalhados pelos quatros cantos do mundo.
Muitos mudaram à procura de um trabalho mais bem remunerado que proporcionasse, a si e aos seus, uma vida estável.
Vim para a França no fim de 2017. Entendo que o meu caso foi um pouco diferente, pois o motivo da minha mudança foi abraçar um novo projeto familiar e, por conseguinte, um novo trabalho.
Foi um grande desafio, mas foi uma mudança com confiança.
Contrariamente a outros, talvez porque fui vivendo com a realidade da UE, não senti que vinha para um país estranho, mas para um país irmão. Diferente, é certo, no clima, na extensão e na língua.
Para esta mudança com confiança contribuiu muito ter tido quem me acolhia e ter obtido trabalho no imediato.
Rapidamente criei laços com os familiares e amigos da minha esposa e também com os colegas do trabalho.
Em 2019 fomos abençoados com a novidade do nascimento de um filho, no meu caso o segundo. Sonho desejado e realizado.
Aqui onde habito, nos arredores de Paris, à beira da Euro Disney, e nas vilas próximas residem muitos emigrantes portugueses. Na semana passada, numa grande festa portuguesa aqui bem perto, esteve presente o Tony Carreira. Imaginem o mar de gente para o ver!
Em Portugal estava rodeado de cristãos católicos. Aqui tenho amigos cristãos protestantes e muçulmanos com quem tenho partilhado bons momentos de diálogo inter-religioso.
Embora haja missas em português, não muitas, sempre fiz questão de marcar presença nas missas em francês… confesso que ainda não domino todo o ritual.
Estamos bem… mas por vezes bate a saudade.
Longe na distância, mas perto do coração, aqui vos deixo um forte abraço.
Sempre disse que queria sair de Portugal. Para mim era pequeno. O canto mais pequenino da Europa que me fazia ter a vontade de sair e ver o mundo. Tanta era a vontade e o desejo de ir que numa manhã fria de dezembro acordei para ir sem saber se ia voltar. A vida que tentei enfiar em quatro malas acompanhou-me silenciosa até ao aeroporto onde por entre lágrimas disse o meu primeiro adeus. Acho que nunca tinha percebido o significado da palavra adeus até ir. Mascarei o adeus de “até já” para diminuir a dor de ver ficar para trás os que amo, mas nem assim se acalmou o coração que entre batimentos chorosos tentava ser forte para acalmar o coração da mãe que ficava a um continente de distância.
Depois de quatro longas horas aterrei pela primeira vez em “casa”. “Senhoras e senhores passageiros, sejam bem-vindos” a Oslo, capital da Noruega, casa dos vikings. Para alguém que nunca tinha visto neve aterrar na capital nevada com menos 16º Celsius no termómetro teve algo de mágico. O povo frio deixou a desejar, mas também nunca fui de primeiras impressões.
Três anos se passaram desde aquele dia. Hoje a vida é passada entre videochamadas e abraços virtuais.
A cultura norueguesa cresceu em mim e ajudou-me a ser mais descontraída e relaxada, uma cultura em que os acontecimentos sociais se passam em casa porque sair de casa é caro, a sauna é uma palavra normal no vocabulário e não algo fino, comer tacos todas as semanas é tradição e a hora de ponta acontece entre as 15h30 e as 16h. Acho que aqui existe um maior equilíbrio entre o trabalho e a vida social e isso agrada-me muito.
A língua norueguesa é no mínimo confusa. Oiço-os sempre a cantar a toda a hora. Acentuações diferentes e com diferentes dialetos por cada cidade. Trocando isto por miúdos, cada cidade tem a sua forma de dizer as mesmas palavras com fonéticas diferentes o que, como devem calcular, torna o norueguês muito fácil de aprender. Já mencionei que existem dois tipos de norueguês? O “Antigo Norueguês” (que na realidade se chama “Novo Norueguês” quando traduzido diretamente de norueguês para português) e o real “Novo Norueguês”. Uma vez mais, nada confuso…
Os hábitos e as rotinas mudaram. O pequeno-almoço é tardio, o almoço é pão ou fruta e o jantar acontece entre as 17h e as 19h. É normal ver pessoas a correr por desporto na neve e nem vou começar a falar sobre a época das rodinhas (também conhecida como época das bicicletas e trotinetes) que constituem um perigo real para a sociedade entre maio e outubro. É estranho o verão. O sol nasce às 3h e põe-se às 23h e o calor vem de repente indo embora com a mesma rapidez.
A rotina com Deus também mudou. Em Portugal visitava-o todos os Domingos, mas aqui não tive outra escolha se não estar com Ele todos os dias. Acho que estar longe aprofundou a minha relação com Ele. Dava por mim a falar com Ele todos os dias nos mais diversos momentos e, pela primeira vez em muito tempo, deixei-me escutar. Hoje escuto mais do que falo. Existe algo reconfortante em deixar Deus falar e tentar escutar, a solidão torna-se pequenina e o propósito com que foste torna-se de novo reluzente. Atrevo-me mesmo a dizer que escutar Deus tornou a minha “aventura desconfortável” quase poética.
Não podia terminar este meu relato sem falar dos abraços virtuais brevemente mencionados uns parágrafos acima. Ir não é difícil só para quem vai, mas também para quem fica. Aprendi que, quando vais, só vai contigo quem te ama. Às vezes, para quem fica, a dor de te ver voar é tão grande que é mais fácil deixar-te ir do que permanecer contigo e, deixem-me que vos diga, está tudo bem! Não é por mal, é por amor. Os que permanecem, e que também te amam tanto, tornam o teu histórico de chamadas os abraços, os cafés, os jantares e as festas que ficaram por acontecer palpáveis. São a casa a que anseio voltar uma e outra vez. São cada letra da palavra “SAUDADE” que tatuo no meu corpo uma e outra vez quando saio de “casa” para ir para “casa”. Onde quer que esteja serão sempre parte de mim e eu parte deles.
Hoje o canto mais pequenino da Europa parece-me tão imenso. Orgulhosamente berço. Vemo-nos em breve “casa”, “olha à janela que eu estou a chegar”.
Chegámos a França, mais concretamente a Paris, em setembro de 2023, depois de um ano muito intenso com a preparação da JMJ e a ida do Grupo Pioneiro do nosso Agrupamento 55 a Kandersteg na Suíça. Eu comecei a desempenhar funções numa instituição europeia, em outubro, e os nossos filhos iniciaram o ano letivo na Secção Inglesa da Escola Europeia. Este pequeno texto retrata como vivemos a nossa fé longe de casa e como esta é também uma história de encontros entre pessoas e Comunidades.
Existe quem diga, em tom de brincadeira, que “Paris é a segunda capital mais populosa de Portugal”. Efetivamente, vivem mais de 200.000 portugueses em Paris e isso nota-se. Quando andamos por Paris ou outras cidades francesas, ouvimos quase sempre alguém falar português ou alguém que nos diz que é descendente de portugueses. Além disso, como o estilo da Baixa Pombalina é próximo dos boulevards franceses, quando caminhamos na cidade quase nos esquecemos que não estamos em Lisboa. Logo, não temos como não nos sentir em casa.
Aqui em Paris inscrevemos os nossos filhos na catequese em português e participamos nas celebrações da Igreja de Notre-Dame de Fátima Marie-Médiatrice. O nosso Santuário foi construído para agradecer à Virgem Maria a proteção da cidade de Paris durante a ocupação alemã e foi confiado à Comunidade Portuguesa de Paris. A catequese é em português, aos domingos de manhã, e a celebração da eucaristia dominical das 11h é também em português. Nos últimos dois anos é aqui que temos feito o nosso caminho de fé com os nossos filhos.
No ano passado, o nosso filho participou no FRAT, encontro de jovens cristãos da região de d’Île-de-France, em Jambville, e no fim do ano catequético fizeram uma visita à cidade medieval de Provins, onde se divertiram a fazer jogos e a conhecer a cidade. Pelo caminho houve ainda tempo para uma celebração especial, após a reabertura da Catedral de Notre Dame, com os jovens da Diocese de Paris. Este ano o Grupo de Jovens da Paróquia prepara a sua participação no Jubileu dos Jovens, em Roma, e os nossos filhos preparam-se para a sua Confirmação e Primeira-Comunhão.
Enquanto pais acompanhamos e apoiamos, de perto, o crescimento na fé dos nossos filhos e mantemo-nos ao serviço da nossa Comunidade para aquilo que esta necessita.
Sempre que estamos em Portugal, tentamos ir à Paróquia da Amadora para participar na celebração da Eucaristia e dar um abraço ao nosso querido Padre Carlos, que tanto gostamos de rever.
Como dizia o nosso Pároco, o Padre Nuno, aqui em Paris, esta manhã na celebração do Domingo de Pentecostes, o “Espírito Santo ajuda-nos a criar Unidade na Diversidade, e a construir uma Comunidade que se enriquece com essa diversidade”, mas para isso, acrescentaríamos, temos de estar dispostos a sair do “sepulcro” e abrirmo-nos aos outros, porque, como escreveu Santa Teresa de Lisieux, “Quem ama faz sempre comunidade, não fica nunca sozinho”.
A vida fora de Portugal tem sido bastante agradável, já que eu consegui adaptar-me muito bem às diversas adversidades que normalmente se encontram quando se está fora do país. Pessoalmente, tenho facilidade em integrar-me em grande parte das sociedades e desta vez não foi exceção. O Canadá é um país muito inclusivo, com uma diversidade cultural vasta e que aceita todo o tipo de culturas. São poucas as vezes que se encontra alguém nativo de cá, pelo menos na cidade onde resido, e isso demonstra quão diferente a sociedade é.
No que toca na vivência da fé, confesso que foi muito difícil vivê-la, já que muitas das vezes caía no esquecimento de rezar ou mesmo pensar em algo relacionado com a religião. No entanto, todas as semanas pensava para mim mesmo, “estou mesmo a viver um sonho, algo que sempre quis fazer e que muita gente adoraria fazer. Resta-me agradecer a toda a gente que me apoiou e me ajudou a realizar este meu objetivo, pois somos todos dependentes um dos outros e sem ajuda externa não conseguimos alcançar o que quer que seja. O facto de estar aqui deve-se a ajuda de toda a gente que acreditou em mim e no meu potencial e agradeço do fundo do coração a todas essas pessoas”. Considero que estes pensamentos que tenho de vez em quando se podem considerar orações, pois são conversas que temos com Deus.
Quanto ao que tenho mais saudades, certamente diria a comida, os amigos e a família. Dos últimos dois diria que é possível colmatar a saudade, porém, no que toca à comida, é muito mais difícil matar as saudades. No início, uma pessoa estranha o desconhecido, mas, ao mesmo tempo, tem coragem de ir descobrir o que não conhece. Depois de se habituar à diversidade de comida existente torna-se tudo mais fácil. Só não há é nada que iguale ou supere aquilo a que mais estamos habituados: a nossa casa. No fim, acaba tudo por ser algo que gira em torno da adaptação. Pode-se estar longe de casa, mas nada nem ninguém impede que se construa uma nova com a ajuda de pessoas que vêm de diferentes partes do mundo. Por se partilhar essa diferença, tornamo-nos todos iguais e essa união faz de nós família.
Em vésperas do Dia de Portugal, que anualmente assinalamos a 10 de junho, a Agência Ecclesia entrevistou o constitucionalista Jorge Bacelar Gouveia para falar sobre o Portugal atual e os desafios humanos que se lhe colocam.
A entrevista a Jorge Bacelar Gouveia foi emitida no programa 70×7 deste Domingo, 8 de junho, tendo ficado disponível no canal YouTube da Agência ECCLESIA.
Abaixo deixamos a transcrição do resumo da entrevista (publicada no site da agência dia 7 de junho) e deixamos-lhe o vídeo do programa.
Não perca nos próximos dias os testemunhos de paroquianos que vão viver o próximo dia de Portugal longe do País.
Transcrição do resumo da entrevista da Agência Ecclesia
O constitucionalista Jorge Bacelar Gouveia afirmou que as elites da sociedade portuguesa “estão bastante corrompidas”, disse que a imigração “de questão se tornou um problema” e que as Igrejas se deviam “sentir mais no espaço público”.
“Às vezes sinto que há uma certa contenção, há uma certa inibição do discurso das Igrejas, em particular da Igreja Católica, acho que se devia sentir mais no espaço público”, afirmou o professor de Direito em entrevista à Agência ECCLESIA.
Referindo-se ao discurso religioso na sociedade, Jorge Bacelar Gouveia referiu que “ou esse discurso existe, mas não é ouvido pela opinião pública, o que é mau, ou então ele não existe com a força e com a habilidade que devia ter”.
Talvez seja mais esta a segunda opção… E, portanto, penso que é necessário que a Igreja procure essa maior intervenção social, digamos aqui numa evangelização da opinião pública, ou de uma re-evangelização da opinião pública”.
Jorge Bacelar Gouveia lembra que a intervenção na sociedade “é um dever muito importante”, mas “não é fácil” porque “pressupõem dirigentes eclesiásticos com capacidade de comunicação, com carisma”
“Sabemos que as pessoas com carisma não abundam, mas é uma necessidade! E é necessário procurar os vários mercados da opinião pública para chegar lá com as várias mensagens boas que têm, que a doutrina católica pode dar às pessoas”, acrescentou.
Para o constitucionalista, que há cerca de um ano publicou a obra “Direito da Religião – Laicidade, Pluralismo e Cooperação nas relações Igreja-Estado”, é “sempre mal” quando um partido usa a religião “para fazer prevalecer os seus interesses ou para fazer captar o voto dos eleitores”.
“Não há um voto religioso, mas há um voto que deve considerar elementos de natureza religiosa”, indicou.
“A religião não pode ser usada como um fator para polarizar e instrumentalizar o voto. Mas ao mesmo tempo digo que as religiões têm a obrigação, têm o dever moral e até religioso de intervir na discussão política, têm todo o direito e até o dever de esclarecer os cidadãos sobre aquilo que os programas de partidos apresentam, e não digo dar instruções, mas dar conselhos aos seus fiéis sobre quais são os partidos que melhor correspondam aos seus programas”.
A entrevista a Jorge Bacelar Gouveia, que vai ser emitida este domingo no programa 70×7 (na RTP2, desta vez às 7h30), acontece no contexto do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que se assinala a 10 de junho, e foi uma ocasião para o constitucionalista recordar os valores da portugalidade.
“Uma certa suavidade no trato, o acolhimento entre as pessoas, a pessoa sentir-se bem neste país, sentirmos que é a nossa casa, não sermos um país de ruturas, nem de conflitos, nem de graves contradições”, afirmou o professor de Direito sobre os valores que caraterizam a sociedade portuguesa.
O constitucionalista lembrou ainda que a identidade portuguesa “também se baseia no cristianismo”, que faz parte da “matriz de fundação do país”, com a consequente “absorção dos valores cristãos, no que respeita, por exemplo, ao casamento, no que respeita aquilo que é a família”.
Bacelar Gouveia disse que a imigração “é o tema da atualidade”, que “de questão se tornou um problema”, avaliado entre as limitações de Portugal nos seus recursos e a necessidade de “pessoas que venham de fora para ajudar o desenvolvimento”.
Para o professor de Direito, que considera um “erro enorme” a extinção do SEF, Portugal tem de “defender da predação e da escravatura” os imigrantes, muitas vezes sujeitos a “crimes de imigração”, como as redes de tráfico, acrescentando que quem chega a um país tem de “se conformar com os deveres de integração na própria sociedade e os deveres de não pôr em causa os valores coletivos que são aquela identidade que caracteriza Portugal”.
Na entrevista à Agência ECCLESIA, o professor catedrático referiu-se ainda às elites da sociedade portuguesa, “quer na política, quer na justiça, quer nas universidades”, considerando que “estão bastante corrompidas”.
Há uma grande mediocridade que eu sinto em muitas decisões profundamente ilegais, grosseiras, e essas pessoas não têm qualquer problema em praticar os atos mais ilegais que se possa imaginar, e isso é uma coisa que me choca”.
A respeito do ensino universitário, Jorge Bacelar Gouveia denunciou “uma progressiva fragilização da autoridade científica dos docentes e das elites, que estão a pensar sobretudo em ganhar mais alguns tostões, em ganhar mais alguns concursos na Fundação para a Ciência e a Tecnologia, ou viver a vida toda de subsídios internacionais, mas não estão muito preocupados em produzir valor”.