Queriam saber quem eras tu, João. És a Luz? És Elias? O Profeta? O Messias? Seria fácil e prazenteiro, para ti, afirmares que sim. Poucos iriam contestar. Não sou – foi a tua resposta às interrogações. A verdade sempre se manteve acampada no teu coração. Mantiveste-te determinado e inteiro. Comprometido com a missão. Fiel a Deus. Eles viam-te como um sol. Tu consideravas-te uma modesta candeia. Eles supunham que fosses Elias. Tu sabias que eras pó da terra e João era o teu nome. Eles tinham-te como um iluminado. Tu reconhecias-te como um arado que lavra o solo da alma. Eles julgavam que serias o Messias, o Ungido. Tu achavas-te inferior a um escravo. Tu, indiferente às catalogações, permanecias nas margens do rio, mergulhando nas águas os que te procuravam, a fim de renascerem para uma vida nova. Não permitiste que a sugação da vaidade te arrebatasse do contacto com o chão da humildade. Assumias, isso sim, ser uma voz. Proclamavas, com pujante sonoridade, os comunicados de Deus. Enquanto a multidão se focava em ti, tu apontavas para Aquele que havia de vir depois de ti. Assim que Jesus chegou, anunciaste-O no meio de todos. Não hesitaste. Era o tempo d’Ele. Com muitos a disputarem sofregamente a conquista dos primeiros lugares, tu dizes-nos que não te importaste de ocupar o último. Com tantos adictos das louvações e dos aplausos, tu dizes-nos que almejavas o balsâmico silêncio. Com inúmeros acometidos pela febre de estarem permanentemente ‘nas bocas do mundo’, tu dizes-nos que somente desejaste estar no coração de Deus.