Quem disse que o presépio não deve ter burrinho e vaquinha?!
29 Dezembro 2012
[Maria colocou o Menino recém-nascido numa manjedoura e envolveu-O em panos (cf. Lucas 2, 7)]. Como se disse, a manjedoura faz pensar nos animais que encontram nela o seu alimento. Aqui, no Evangelho, não se fala de animais; mas a meditação, guiada pela fé, lendo o Antigo e o Novo Testamentos correlacionados, não tardou a preencher esta lacuna, reportando‑se a Isaías 1, 3: “O boi conhece o seu dono, e o jumento o estábulo do seu senhor; mas Israel, meu povo, nada entende.”
Peter Stuhlmacher observa que provavelmente teve influência também a versão grega de Habacuc 3, 2: “No meio de dois seres vivos (…) tu serás conhecido; quando vier o tempo, tu aparecerás” (…). Aqui, com os dois seres vivos, entende-se evidentemente os dois querubins que, segundo Êxodo 25, 18-20, estavam colocados sobre a cobertura da Arca da Aliança, indicando e simultaneamente escondendo, a presença misteriosa de Deus. Assim a manjedoura tornar-se-ia, de certo modo, a Arca da Aliança, na qual Deus, misteriosamente guardado, está no meio dos homens e à vista da qual chegou para o “boi e o burro”, para a humanidade formada por judeus e gentios, a hora do conhecimento de Deus.
Portanto, na singular conexão entre Isaías 1, 3; Habacuc 3,2, Êxodo 25, 18-20 e a manjedoura, aparecem os dois animais como representação da humanidade, por si mesma desprovida de compreensão, que diante do Menino, diante da aparição humilde de Deus no estábulo, chega ao conhecimento e, na pobreza de tal nascimento, recebe a epifania que agora a todos ensina a ver. Bem depressa a iconografia cristã individuou este motivo. Nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento.
Bento XVI, Jesus de Nazaré, Prólogo – A Infância de Jesus (Principia Editora, 2012) pp. 61-62.