O mártir São Vicente
21 Janeiro 2017
Apesar de ser o santo patrono da diocese de Lisboa, O MÁRTIR SÃO VICENTE vive na sombra do mais popular Santo António. A devoção das gentes da península ibérica a São Vicente é muito antiga. O mártir era originário de Saragoça, onde foi ordenado diácono no século III. Numa das perseguições aos cristãos, tão habituais nessa altura, foi aprisionado e sujeito a terríveis torturas, resistindo sempre com grandes demonstrações de fé. A ligação aos corvos, ainda um elemento sempre presente na iconografia, começa com a sua morte, no ano 304, às mãos do governador Daciano, na era do imperador Diocleciano. Lançado aos abutres, o seu cadáver foi protegido por um corvo. Então Daciano mandou lançá-lo ao mar, mas as marés trouxeram-no de volta e uma viúva piedosa sepultou-o junto aos muros da cidade de Valência.
Mas o que liga intrinsecamente Lisboa a São Vicente é a chegada das suas relíquias ocorrida em 1173. Conta a “Crónica de Al-Razi”, composta no século X, que, durante a perseguição de Abderramán I, o corpo de São Vicente fora levado de Valência, onde estaria na antiga igreja sob sua invocação, para o Promontório Sacro, hoje Cabo de S. Vicente, em Sagres. Em 1173, de acordo com um texto de finais do século XII ou XIII um anónimo alerta para a existência do corpo do mártir na ponta do Algarve, em mãos dos infiéis. No dia 15 de Setembro, as relíquias chegam a Lisboa, ficando na igreja de Santa Justa, antes de se recolherem no dia seguinte na Sé. O mártir de Valência tornou-se assim o padroeiro de Lisboa, sendo o dia da chegada do seu corpo celebrado na liturgia e em animadas festas populares (15 de Setembro). E este dia, que no século XIX mudou para 16 de Setembro,
foi comemorado até recentemente.
A memória de São Vicente é evocada pela Igreja a 22 de Janeiro. Neste dia, no ano 2000, o actual patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, recebeu a ordenação episcopal.