No meio do Furacão
5 Abril 2014
A missão tem os seus riscos. De acordo com a agência Fides, 22 agentes pastorais, na sua maioria padres e voluntários leigos católicos, foram mortos de forma violenta em 2013, o dobro do que aconteceu em 2012. E quantos foram os sequestrados ou estão desaparecidos? É paradigmática a situação da Síria (…), onde alguns religiosos ou mesmo bispos deixaram de dar sinal de vida. Mas poderíamos dizer o mesmo da República Centro-Africana ou da República Democrática do Congo ou do Sudão do Sul, sem esquecer as situações do Iraque ou do Paquistão, onde, na crise de violência, guerra e opressão, os missionários são das poucas pessoas capazes de levar conforto e esperança.
Apesar de se terem multiplicado os raptos, a escolha dos missionários tem sido corajosa: ficar no meio do povo como última âncora de salvação. “Estas situações dramáticas não são para nós excepcionais”, explicou recentemente (…) [o] porta-voz da Conferência dos religiosos e religiosas franceses: “Quando se parte em missão pesam-se todos os riscos. Dedicamos tempo ao discernimento. Em geral a partida requer dois anos de preparação. E mesmo que a missão comece em contexto calmo, sabemos que a situação pode evoluir.”
Em casos de maior perigo, a decisão de reentrar pertence sempre ao religioso atingido. Praticamente todos optam por ficar. (…)
“Serei o último a fechar a porta, disse o jesuíta Ziad Hilal, missionário na Síria (…). Está em causa a minha fidelidade ao povo para o qual fui enviado”, disse o religioso de 40 anos, que aprendeu a lidar com as ameaças da vida quotidiana. E a razão é simples: “O mal está aí, mas eu sei que Deus não nos abandona. Estamos envolvidos numa missão que nos ultrapassa. Certamente que posso ser raptado ou morto, mas sinto-me incapaz de abandonar o povo ao seu destino.” É esta a linha geral: não se abandona o campo de trabalho. Quando se parte em missão é como desposar um país, um povo uma cultura. Fica-se para apoio e conforto de quem não tem voz e para ser instrumento de reconciliação e de paz.
Darci Vilarinho, in revista Fátima Missionária (Ano LX, Abril 2014), p. 3