A caravela!

A caravela!

Estava esta tarde na praia a admirar a sua cor.
Uma das primeiras tardes de verão do ano.
O ruído das ondas, pequenas, misturado com o dos veraneantes, criava um som de fundo indistinto.
No horizonte a réplica de uma caravela seguia lentamente em direcção ao alto mar.
Subitamente o riso de duas crianças trouxe-me de volta à realidade.
Rodeadas de centenas de outras pessoas, indiferentes, estes petizes desceram, qual Alice pela toca do coelho, ao seu mundo escondido de aventuras.
Perante o cenário do mar imenso, descobriram, num canto da praia, um pequeno córrego de água doce cristalina.
O ribeiro, permitam-me este exagero literário, não era nem longo nem fundo.
Três ou quatro metros de córrego que, saindo de umas rochas, rapidamente desaparecia no areal.
No entanto, as crianças não de detiveram a questionar nem a origem, nem a pequenez, nem o destino.
Simplesmente desfrutaram daquela água que lhes era oferecida pela natureza.
Tal a força da alegria da sua descoberta que em breve outras crianças se lhes juntaram.
Ao fim de poucos minutos uma pandilha de quase uma dezena deles ficaram a pular, a rebolar e a rir naquele cantinho da praia.
Os primeiros não questionaram a presença dos recém-chegados.
Uns maiores, outros menores.
Uns mais velhinhos, outros recém-saídos do colo.
Ninguém se arrogou o direito da descoberta.
Ninguém usou a sua maior força ou capacidade para obter um mililitro de água adicional.
A água, que não era de ninguém, por todos foi usada livremente, a todos serviu e a nenhum faltou.
Não foram precisos outros brinquedos, bolas, pás e ancinhos ou bóias.
Todos esses acessórios ficaram perdidos no areal.
Inúteis.
Era água, simples água.
Eram crianças, simples crianças.
Quem precisa de mais para ser feliz?
Um pai mais temeroso recomendava ao seu filho que não bebesse daquela água. Cumpridor, o malandreco, limitava-se a encher a boca para a transportar para onde aquela fazia falta à aventura.
Perante esta cena o mar perdeu a sua grandiosidade.
Ali, naquele momento, se explicou, caso disso houvesse necessidade, a opção de Cristo pelas crianças.
Reconhecem, aceitam e partilham.
Não complicam.
Não acumulam.
Não escondem.
Ah se a Boa Nova tivesse sido mantida apenas na mão das crianças…
Entretanto a caravela já tinha desaparecido.
Que tenha tido uma boa viagem!

 

 

A vida fora de Portugal… nos arredores de Paris

A vida fora de Portugal… nos arredores de Paris

Queridos Paroquianos,

Após o convite da equipa PIC, é com muita alegria que regresso ao vosso contacto.
O feriado do 10 de Junho celebra três evocações.

 

PORTUGAL

Nobre nação e valente gente, à beira-mar plantada, com cerca de 900 anos de história e hoje membro de uma realidade bem maior – a União Europeia.
Faço parte da geração que viu, em 1986, Portugal entrar na dita união com perspetivas de desenvolvimento e de construção de um espaço comum.

 

LUÍS VAZ DE CAMÕES

Grande poeta português que enalteceu Portugal e as suas gentes na sua obra.
Recordo aqui parte de um dos seus poemas:

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança.
Todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo na esperança…”[1]

 

COMUNIDADES PORTUGUESAS

São as comunidades de portugueses que emigraram e estão, hoje, espalhados pelos quatros cantos do mundo.
Muitos mudaram à procura de um trabalho mais bem remunerado que proporcionasse, a si e aos seus, uma vida estável.

Vim para a França no fim de 2017. Entendo que o meu caso foi um pouco diferente, pois o motivo da minha mudança foi abraçar um novo projeto familiar e, por conseguinte, um novo trabalho.
Foi um grande desafio, mas foi uma mudança com confiança.

Contrariamente a outros, talvez porque fui vivendo com a realidade da UE, não senti que vinha para um país estranho, mas para um país irmão. Diferente, é certo, no clima, na extensão e na língua.
Para esta mudança com confiança contribuiu muito ter tido quem me acolhia e ter obtido trabalho no imediato.
Rapidamente criei laços com os familiares e amigos da minha esposa e também com os colegas do trabalho.
Em 2019 fomos abençoados com a novidade do nascimento de um filho, no meu caso o segundo. Sonho desejado e realizado.

Aqui onde habito, nos arredores de Paris, à beira da Euro Disney, e nas vilas próximas residem muitos emigrantes portugueses. Na semana passada, numa grande festa portuguesa aqui bem perto, esteve presente o Tony Carreira. Imaginem o mar de gente para o ver!

Em Portugal estava rodeado de cristãos católicos. Aqui tenho amigos cristãos protestantes e muçulmanos com quem tenho partilhado bons momentos de diálogo inter-religioso.
Embora haja missas em português, não muitas, sempre fiz questão de marcar presença nas missas em francês… confesso que ainda não domino todo o ritual.

Estamos bem… mas por vezes bate a saudade.
Longe na distância, mas perto do coração, aqui vos deixo um forte abraço.

Carlos Feio

[1] Luís Vaz de Camões, in Sonetos

 

Ser dador de sangue

Ser dador de sangue

Ser dador de sangue… bem, começou numa tarde após uma aula na universidade, quando a caminho do metro, um dos meus colegas de curso disse: “Vão andando, que eu vou ali dar sangue à biblioteca.” Ao que respondi: “Ah! Boa ideia, também vou.”

Não fazia grande ideia do que me esperava e não esperava o enorme (mas essencial!) questionário inicial, nem o tamanho da agulha que finalmente me espetaram no braço. Agulha essa que me disseram que era melhor olhar para o lado enquanto ma espetavam, mas que fiz questão de assistir com muita atenção, para garantir que não havia falhas. Depois foi só relaxar deitado numa maca e esperar 10 minutos.

Correu bem, não desmaiei, o lanche é sempre um bónus simpático e sei lá, posso estar a salvar a vida de alguém num futuro próximo.

Mais tarde, com o meu melhor amigo, tentei criar um movimento “Levar amigos a dar sangue”. O movimento consistia em convidar/incentivar/“coagir” outros amigos nossos a vir dar sangue quando se aproximava a nossa altura de poder voltar a dar sangue. Tenho tido um azar fenomenal, pois todos os que consegui convencer até hoje e que vão comigo, nunca chegam a poder dar sangue.

Até hoje, dezenas de dádivas depois, acho que nunca tive uma má experiência, fui sempre muito bem recebido e tratado.

Continuo a ter de olhar com muita atenção para a agulha, não vá a enfermeira espetar a agulha no sítio errado, embora receba sempre este comentário ligeiramente assustador, mas que claramente é dito como elogio, de que as minhas veias são muito fáceis de encontrar.

Para terminar, deixo o convite a todos os que possam dar sangue, que o façam!

Se estão com medo de falhar ou das agulhas, acreditem e desafiem os vossos medos!

Aos que vão adiando, marquem já!

Não nos custa nada e podemos estar a salvar uma vida, que amanhã pode ser a nossa e vamos gostar que alguém tenha tido a nossa coragem.

Por Gonçalo Matos

A vida fora de Portugal… em Timor

A vida fora de Portugal… em Timor

Iniciei o meu percurso na Paróquia da Amadora com 10 aninhos na catequese, vinda de uma infância na Reboleira. Fiz o Crisma e pertenci ao grupo de leitores da missa das 10h. Mais tarde, tornei-me catequista, passei a coordenar o grupo de leitores a que pertencia e integrei o grupo bíblico. Sentava-me muitas vezes sozinha em frente à imagem de Nossa Senhora da Conceição para conversar com ela.

Quando terminei o curso e me tornei professora, não foi diferente. Eu e todos os meus colegas, naquele 1 de setembro de 2004, fomos inscrever-nos ao Centro de Emprego, porque não tínhamos conseguido colocação no concurso nacional de professores. Naquela altura, o sistema estava sobrecarregado ao contrário de hoje em que existe muita falta de profissionais qualificados. Saí do Centro de Emprego e fui à nossa igreja conversar com a Mãe. Nessa conversa, entreguei-me a Ela. “Mãe, a minha paixão é o ensino, mas seja feita a Tua vontade. A minha vida entrego nas Tuas mãos e sigo o que escolheres para mim.” Dois dias depois, toca o meu telemóvel. A minha orientadora da Faculdade de Letras diz-me que tem um convite para mim. “Sofia, o Instituto Camões pediu-me dois professores para irem para Timor. Pensei na Sofia. Aceita?” Lembrei-me da minha conversa com a Mãe. Seja feita a Tua vontade, pensei. Aceitei de imediato.

Passados dois meses e todos os trâmites contratuais e da viagem, despedi-me da família, que ficou com o coração apertado, e parti para Díli, Timor-Leste, tinha eu 24 anos de idade. No aeroporto, foram buscar-nos e disseram-nos que teríamos de ir de imediato para uma reunião com a coordenadora no bairro dos professores ao lado da Catedral de Díli. O carro parou em frente à Catedral e desci. Li o que estava na lateral do portão de entrada: “Catedral de Díli – Paróquia Imaculada Conceição de Nossa Senhora”.

 

Caíram-me as lágrimas. Percebi naquele momento que, mais do que uma oportunidade profissional, tinha recebido uma missão pessoal. E foi sempre assim que me vi em Timor-Leste: fui para servir os alunos, os professores timorenses, a comunidade, os que mais precisavam. Sempre e de todas as formas que me fosse possível, mas sempre com a minha/nossa Paróquia no pensamento.

Cheguei a Timor-Leste a 16 de novembro de 2004, dois anos após a restauração da independência. O país estava completamente destruído, queimado, no chão, pois o cenário de guerra tinha sido interrompido há muito pouco tempo. O calor intenso e húmido intensificava os cheiros e entranhava-se na pele. Como alguém disse: primeiro estranha-se, depois entranha-se. Mas em Timor, naquela altura, faltava tudo. Foi um choque e também uma grande aprendizagem para mim. Aquilo que, em Portugal, assumimos como adquirido não o era em Timor. A água que sai quando rodamos a torneira, a luz que acende ao carregarmos no interruptor, a comida fresca e sempre ao dispor no supermercado e no frigorífico, os serviços de saúde sempre ao dispor… Enfim, em Timor, nada disso era certo. Para os estrangeiros, mesmo assim, era menos mal. Havia geradores e havia capacidade financeira para cobrir as necessidades básicas, embora na altura os bens fossem poucos mesmo para serem comprados.

Quando comecei a circular pela cidade na minha bicicleta, percebi que, de facto, as pessoas eram extremamente pobres. Havia a questão do lixo, da poeira numa cidade destruída, das parcas condições sanitárias, das casas muito precárias à imagem dos bairros sociais há uns anos na Amadora. Faltava tudo. Crianças muito pequenas caminhavam distâncias muito grandes para encherem jerricãs com água da ribeira mais próxima. Precisavam de ajudar a família, pois a mãe e o pai normalmente estavam na lida da casa, dos animais e do campo e à espera daquela água minimamente potável para cozinhar, lavar a roupa, dar banhos ou lavar a loiça. Nas áreas rurais e remotas, o problema da água era exponencialmente pior e as distâncias maiores. Aí faltava tudo, tudo, tudo.

Também para irem para a escola, as crianças tinham de andar por vezes 3 horas para cada lado, mas sempre com um sorriso de orelha a orelha e na esperança de aprenderem sempre mais e mais, apenas com um caderno e um lápis oferecidos por uma qualquer ONG. Cheguei a ter aulas com 120 alunos no início. Cheguei a ter alunos a desfalecerem-me na aula, porque não tinham como fazer uma refeição antes de virem para as aulas. Nas escolas básicas de Timor-Leste, a merenda escolar (normalmente arroz com feijão e alguma verdura) é para muitos a única refeição do dia e só se conseguiu implementar dez anos depois no currículo nacional que também ajudei a construir.

Os timorenses, quando cheguei, tinham na sua quase absoluta totalidade uma vida muito dura e eu sentia-me pequenina por achar que vinha de um meio com “problemas”. Aprendemos em Timor-Leste a relativizar as questões, a apreciar o minimalismo da vida, tão no centro da vida de S. Francisco de Assis, e a dar importância ao que realmente importa: os sentimentos, o espírito de união entre as pessoas, a família e a vivência em comunidade. Apesar de lhes faltar tudo, tudo, tudo, não são pobres na fé e na alegria com que a vivem. Entregam-se completamente ao Senhor e n’Ele confiam, o que nos leva a refletir sobre como vivemos a nossa própria fé, nós os filhos do privilégio que tudo pomos em questão. Vim para ensinar, mas fui eu que aprendi mais. Vim para servir, mas sinto que fui servida em tudo o que é essencial ao coração e ao espírito.

(No topo do Monte Ramelau, com Nossa Senhora Rainha do Ramelau.
No tempo de domínio português, o ponto mais alto de Portugal.)

 

Aqui desconstruí uma família e formei uma nova. Eu e o meu marido Vítor temos duas meninas lindas, a Leonor e a Isabel, a quem só peço que tenham um bom coração, recetivo, acolhedor e ao serviço dos outros. As obras de misericórdia lembram-nos isso mesmo: são verbos de ação. O objeto nessas frases não é discriminado. Fazer o bem sem olhar a quem. Somos imigrantes num país que nos acolheu sempre com um sorriso e com os braços abertos. Não nos sentimos timorenses, somos portugueses, mas Timor sempre nos fez sentir em casa, sempre nos fez sentir em paz. Crescemos muito ao nível pessoal e profissional. Somos muito gratos por tudo e por tanto. Timor ocupa um lugar muito querido no nosso coração.

Que no nosso país saibamos estender também a mão ao próximo com verbos de ação fraterna, sem olhar a quem for o objeto da nossa ação. Somos todos filhos de um mesmo Pai, que nos ama como somos. Os limites das nossas fronteiras foram impostos essencialmente por entidades políticas, mas, como seguidores de Cristo, as nossas fronteiras são as bordas do nosso coração e esse transborda nas pontes que construímos com e ao encontro dos outros.

Em novembro, completei vinte anos de Timor-Leste. Estive ao serviço, tenho sentimento de missão cumprida e sei que deixo o meu legado, o meu contributo na formação de recursos humanos, essencialmente na educação e na língua, e na criação de muitos recursos didáticos e linguísticos para a educação das crianças e para a formação de professores de Timor-Leste, que sempre mereceram o meu carinho, tal como Xanana Gusmão sempre me pediu que considerasse.

Estou a meio da minha carreira profissional e iniciei uma reflexão sobre o que Nossa Senhora da Conceição espera de mim e do meu serviço daqui para a frente. No início deste ano, eu e o meu marido comprámos uma casa em Portugal, numa zona do Alentejo mais tranquila, e botei-me à conversa com Ela. Mais uma vez Lhe disse: “Seja feita a Tua vontade. A minha vida entrego nas Tuas mãos e sigo o que escolheres para mim.” Vários fatores se conjugaram para que o nosso regresso a Portugal acontecesse agora no verão de 2025. A minha filha mais velha, Leonor, disse-me que gostaria de frequentar a catequese em Portugal. Comecei a pesquisar a paróquia que serve a zona onde comprámos casa e descobri que é também Paróquia de Nossa Senhora da Conceição. Entendi que estou nos Seus caminhos e que, ao completar 45 anos de idade, preciso agora de estar ao serviço do meu país.

O plano divino é sempre o melhor e maior de todos. Que saibamos abrir as nossas vidas ao serviço e acolhê-lo no âmago do nosso coração! Deus nunca nos abandona ao longo do caminho, qualquer que seja o destino que tem reservado para nós, mesmo que seja assim, quase no fim do mundo.

 

Sofia Santos
(Texto e fotos)
Díli, Timor-Leste
11 de junho de 2025

Casa

Casa

Sempre disse que queria sair de Portugal. Para mim era pequeno. O canto mais pequenino da Europa que me fazia ter a vontade de sair e ver o mundo. Tanta era a vontade e o desejo de ir que numa manhã fria de dezembro acordei para ir sem saber se ia voltar. A vida que tentei enfiar em quatro malas acompanhou-me silenciosa até ao aeroporto onde por entre lágrimas disse o meu primeiro adeus. Acho que nunca tinha percebido o significado da palavra adeus até ir. Mascarei o adeus de “até já” para diminuir a dor de ver ficar para trás os que amo, mas nem assim se acalmou o coração que entre batimentos chorosos tentava ser forte para acalmar o coração da mãe que ficava a um continente de distância.

Depois de quatro longas horas aterrei pela primeira vez em “casa”. “Senhoras e senhores passageiros, sejam bem-vindos” a Oslo, capital da Noruega, casa dos vikings. Para alguém que nunca tinha visto neve aterrar na capital nevada com menos 16º Celsius no termómetro teve algo de mágico. O povo frio deixou a desejar, mas também nunca fui de primeiras impressões.

Três anos se passaram desde aquele dia. Hoje a vida é passada entre videochamadas e abraços virtuais.

A cultura norueguesa cresceu em mim e ajudou-me a ser mais descontraída e relaxada, uma cultura em que os acontecimentos sociais se passam em casa porque sair de casa é caro, a sauna é uma palavra normal no vocabulário e não algo fino, comer tacos todas as semanas é tradição e a hora de ponta acontece entre as 15h30 e as 16h. Acho que aqui existe um maior equilíbrio entre o trabalho e a vida social e isso agrada-me muito.

A língua norueguesa é no mínimo confusa. Oiço-os sempre a cantar a toda a hora. Acentuações diferentes e com diferentes dialetos por cada cidade. Trocando isto por miúdos, cada cidade tem a sua forma de dizer as mesmas palavras com fonéticas diferentes o que, como devem calcular, torna o norueguês muito fácil de aprender. Já mencionei que existem dois tipos de norueguês? O “Antigo Norueguês” (que na realidade se chama “Novo Norueguês” quando traduzido diretamente de norueguês para português) e o real “Novo Norueguês”. Uma vez mais, nada confuso…

Os hábitos e as rotinas mudaram. O pequeno-almoço é tardio, o almoço é pão ou fruta e o jantar acontece entre as 17h e as 19h. É normal ver pessoas a correr por desporto na neve e nem vou começar a falar sobre a época das rodinhas (também conhecida como época das bicicletas e trotinetes) que constituem um perigo real para a sociedade entre maio e outubro. É estranho o verão. O sol nasce às 3h e põe-se às 23h e o calor vem de repente indo embora com a mesma rapidez.

A rotina com Deus também mudou. Em Portugal visitava-o todos os Domingos, mas aqui não tive outra escolha se não estar com Ele todos os dias. Acho que estar longe aprofundou a minha relação com Ele. Dava por mim a falar com Ele todos os dias nos mais diversos momentos e, pela primeira vez em muito tempo, deixei-me escutar. Hoje escuto mais do que falo. Existe algo reconfortante em deixar Deus falar e tentar escutar, a solidão torna-se pequenina e o propósito com que foste torna-se de novo reluzente. Atrevo-me mesmo a dizer que escutar Deus tornou a minha “aventura desconfortável” quase poética.

Não podia terminar este meu relato sem falar dos abraços virtuais brevemente mencionados uns parágrafos acima. Ir não é difícil só para quem vai, mas também para quem fica. Aprendi que, quando vais, só vai contigo quem te ama. Às vezes, para quem fica, a dor de te ver voar é tão grande que é mais fácil deixar-te ir do que permanecer contigo e, deixem-me que vos diga, está tudo bem! Não é por mal, é por amor. Os que permanecem, e que também te amam tanto, tornam o teu histórico de chamadas os abraços, os cafés, os jantares e as festas que ficaram por acontecer palpáveis. São a casa a que anseio voltar uma e outra vez. São cada letra da palavra “SAUDADE” que tatuo no meu corpo uma e outra vez quando saio de “casa” para ir para “casa”. Onde quer que esteja serão sempre parte de mim e eu parte deles.

Hoje o canto mais pequenino da Europa parece-me tão imenso. Orgulhosamente berço. Vemo-nos em breve “casa”, “olha à janela que eu estou a chegar”.

 

Maria da Silva Viegas
Oslo, 9/6/2025

 

O Agrupamento 55

O Agrupamento 55

Existe escutismo na Amadora desde 1935, mais concretamente desde o dia 31 de janeiro. A fundação do nosso Agrupamento aconteceu na Capela de Nossa Senhora da Lapa na Falagueira. Após a edificação da Igreja Matriz, o Agrupamento aqui se fixou, onde permanece. No entanto, houve um interregno nas atividades na década de oitenta do século passado. Em 1989, por iniciativa do Pde. António Marim, que lançou o desafio a alguns jovens da Paróquia, o nosso muito querido 55 renasceu através de uma Patrulha de Estudo. Reabriu oficialmente no dia 13 de maio de 1990, a partir dessa data ganhou força, consolidou-se e aos dias de hoje é um dos mais numerosos do Núcleo Serra da Lua (agrupamentos dos Concelhos da Amadora e Sintra), com um efetivo a rondar os 140 elementos, desde o Lobito mais novo ao Dirigente mais velho.

A força do 55 já foi sentida em muitos locais do nosso querido país, do Algarve até ao Minho, passando também pelos arquipélagos. Marcámos presença em 4 Jamborees Mundiais: XII EUA – 1967, XVIII Países Baixos – 1995, XXI Reino Unido – 2007, XXII Suécia – 2011.

Entre muitas atividades que já fizemos em Agrupamento, e as muitas mais que ainda vamos fazer, salientamos, por ter sido a mais recente, a ida ao Jardim Zoológico de Lisboa, por ocasião da celebração do 35.º aniversário da reabertura do 55 ou LV, como carinhosamente gostamos de o chamar. Foi um dia feliz para todos, talvez muito mais para quem teve a oportunidade de visitar o Zoo pela primeira vez.

@ Agrupamento 55

@ Agrupamento 55

@ Agrupamento 55

A qualquer sítio onde vamos, não esquecemos de onde somos, somos da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Amadora.

Águia Real
Chefe de Agrupamento