S. João XXIII e S. João Paulo II – Vidas preenchidas pela surpresa de Deus em Cristo ressuscitado
3 Maio 2014
Os relatos das aparições de Jesus Ressuscitado têm um sabor sempre renovado de surpresa. Como colocar em palavras este encontro do tempo e da eternidade, da vida plena de Deus com a provisoriedade humana, do Mestre e amigo que viram morrer na cruz e agora aparece vivo a saudá-los com as palavras habituais e tão novas: [“A paz esteja convosco”?] Ele tinha anunciado que ressuscitaria, mas como poderiam entender o que nunca tinha acontecido? Por isso é de surpresa em surpresa que vão caminhando, e gostaria de eleger “a surpresa” como condição própria de quem se dispõe a caminhar com Cristo e aceita estar atento ao Espírito Santo.
Surpresas boas mas também menos boas (…). A história da Igreja está cheia de umas e de outras, e que bom é percebermos como, no meio das nossas fragilidades, Deus não desiste de apostar nas coisas maravilhosas de que também somos capazes. (…)
Hoje reconhecemos a santidade de dois Papas tão próximos de nós: João XXIII e João Paulo II. Neles as surpresas de Deus puderam manifestar-se de forma admirável. As suas fragilidades e imperfeições não foram obstáculo a recebermos, pelas suas vidas, este amor incondicional de Deus que a Páscoa de Jesus Cristo nos alcançou. Escancarando as portas e janelas da Igreja ao mundo com João XXIII, confirmando os irmãos na fé nas muitas viagens apostólicas com João Paulo II. De um e de outro guardamos momentos únicos de profunda comunhão com Deus e com o mundo que Deus ama. João XXIII, no seu “Diário íntimo” fala de duas graças que recebeu: “aceitar com simplicidade a honra e o peso do pontificado, com alegria de poder dizer que nada fiz para o provocar”, e “surgirem no meu espírito como simples e de execução imediata algumas ideias, nada complexas, pelo contrário bastante simples, mas de vasto alcance e responsabilidade em relação ao futuro, e com sucesso imediato” (acredito que todos recebemos esta última muitas vezes!). João Paulo II, na celebração do Jubileu do ano 2000, entre muitas formas de o celebrar, destacou o “sinal da purificação da memória: isto requer de todos um acto de coragem e de humildade para reconhecerem as faltas cometidas por quantos detiveram e detêm o nome de cristãos” (Bula mistério da Encarnação, 11).
Por estes dias [celebrámos] a liberdade que o 25 de Abril de 1974 “abriu”. E conjugamos de diversas formas a responsabilidade que toda a liberdade reclama. Assim na vida e na fé. A liberdade que a Páscoa de Jesus trouxe, é responsabilidade de todos pelo mundo novo que podemos construir. (…)
Pe. Vítor Gonçalves, em semanário Voz da Verdade (27.4.2014)