Estava esta tarde na praia a admirar a sua cor.
Uma das primeiras tardes de verão do ano.
O ruído das ondas, pequenas, misturado com o dos veraneantes, criava um som de fundo indistinto.
No horizonte a réplica de uma caravela seguia lentamente em direcção ao alto mar.
Subitamente o riso de duas crianças trouxe-me de volta à realidade.
Rodeadas de centenas de outras pessoas, indiferentes, estes petizes desceram, qual Alice pela toca do coelho, ao seu mundo escondido de aventuras.
Perante o cenário do mar imenso, descobriram, num canto da praia, um pequeno córrego de água doce cristalina.
O ribeiro, permitam-me este exagero literário, não era nem longo nem fundo.
Três ou quatro metros de córrego que, saindo de umas rochas, rapidamente desaparecia no areal.
No entanto, as crianças não de detiveram a questionar nem a origem, nem a pequenez, nem o destino.
Simplesmente desfrutaram daquela água que lhes era oferecida pela natureza.
Tal a força da alegria da sua descoberta que em breve outras crianças se lhes juntaram.
Ao fim de poucos minutos uma pandilha de quase uma dezena deles ficaram a pular, a rebolar e a rir naquele cantinho da praia.
Os primeiros não questionaram a presença dos recém-chegados.
Uns maiores, outros menores.
Uns mais velhinhos, outros recém-saídos do colo.
Ninguém se arrogou o direito da descoberta.
Ninguém usou a sua maior força ou capacidade para obter um mililitro de água adicional.
A água, que não era de ninguém, por todos foi usada livremente, a todos serviu e a nenhum faltou.
Não foram precisos outros brinquedos, bolas, pás e ancinhos ou bóias.
Todos esses acessórios ficaram perdidos no areal.
Inúteis.
Era água, simples água.
Eram crianças, simples crianças.
Quem precisa de mais para ser feliz?
Um pai mais temeroso recomendava ao seu filho que não bebesse daquela água. Cumpridor, o malandreco, limitava-se a encher a boca para a transportar para onde aquela fazia falta à aventura.
Perante esta cena o mar perdeu a sua grandiosidade.
Ali, naquele momento, se explicou, caso disso houvesse necessidade, a opção de Cristo pelas crianças.
Reconhecem, aceitam e partilham.
Não complicam.
Não acumulam.
Não escondem.
Ah se a Boa Nova tivesse sido mantida apenas na mão das crianças…
Entretanto a caravela já tinha desaparecido.
Que tenha tido uma boa viagem!