A voz silenciosa dos oceanos
O oceano (ou mar, ou oceanos) é porção da obra da Criação: «Deus disse: Reúnam-se as águas que estão debaixo dos céus, num único lugar, a fim de aparecer a terra seca.» E assim aconteceu. Deus chamou terra à parte sólida, e mar, ao conjunto das águas. E Deus viu que isto era bom.» (Gn,1,9-10). De salientar:
«E Deus viu que isto era bom.»
O oceano cobre cerca de 70% da superfície do globo e tem em média mais de 3 quilómetros de profundidade. Como é possível este gigante estar em sofrimento?!

Grande Ilha de Lixo do Pacífico Norte
A Grande Ilha de Lixo do Pacífico Norte, composta por uma massa de plástico flutuante e descoberta acidentalmente, tem uma área de aproximadamente 17 vezes a área de Portugal Continental! E não se trata da única lixeira flutuante oceânica.
Sabemos que o oceano não tem voz: nem nas profundezas, nem à superfície, nem ao largo, nem junto à costa. Alguém tem de falar por esta porção de Criação: o Papa Francisco falou.
A encíclica Laudato Si’
Os ensinamentos da Igreja são diversificados e ordenados para o que é bom; nesta encíclica, o Papa Francisco vincou a importância dos oceanos. Escreveu depois de escutar cientistas, entre muitas pessoas das diversas áreas do conhecimento.
Citou uma preocupação dos bispos filipinos (n. 41) quanto ao desaparecimento da beleza e riqueza abissais:
«Quem transformou o maravilhoso mundo marinho em cemitérios subaquáticos despojados de vida e de cor?»
Recomenda-se a leitura do n.º 40: são meia dúzia de linhas nas quais o Papa Francisco explicou, de forma concisa, a importância do oceano. [1]
O oceano, membro ambiental da Criação
Todos os membros do corpo são relevantes: não há corpo, ou seja, não há Terra, sem esse membro a que chamamos oceanos.
A governança deste Bem Comum não se consegue pela simples definição de fronteiras: tal significaria dizer a uma gota de água salgada: «Sra. Gota Índica moçambicana, para passar a fronteira para o oceano Atlântico, no qual existem gotas atlânticas portuguesas, terá de exibir passaporte!» Os oceanos não têm fronteiras: o que se passa no Polo Sul não é indiferente para um amadorense. Os oceanos não separam continentes: antes os unem! Os oceanos unem as pessoas, povos, tribos, nações: este membro do meio físico interessa a todos, todos, todos e não aceita tudo, tudo, tudo! Tudo o que vai para o chão ou para redes de saneamento, vai acabar no mar.
O compromisso em família
Na campanha da última Quaresma, foi salientada a importância da água: ainda nos lembramos? Ficam aqui algumas dicas, para reflexão às refeições ou em passeio:
- Zelar pelo bom consumo de água potável.
- Fazer bom uso da rede de esgotos.
- Não misturar as águas residuais com as águas pluviais.
- Evitar derrames de óleos, gorduras e derivados de petróleo.
- Usar bem os produtos químicos, detergentes, tintas, etc.
- Colocar o lixo nos locais adequados.
- Não depositar produtos sólidos na rede de esgotos.
- Betas e pastilhas no lixo.
- As seguintes ficam a vosso cargo…
Entre 9 e 13 de junho decorre a 3.ª Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos em Nice.[2]
Neste verão, desfrutemos de um bom banho no mar, sem “coisas” a boiar ou arrastadas para a zona de rebentação.
[1] https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html
[2] https://www.dgpm.mm.gov.pt/post/confer%C3%AAncia-das-na%C3%A7%C3%B5es-unidas-sobre-o-oceano-unoc3