O mês de maio é um mês muito significativo para a nossa família. Desde muito cedo, fomos dando conta que, também para a avó Maria, em particular, e restante família, no geral, Nossa Senhora tinha um lugar importante nos seus corações e nas suas vidas. Fomos dando conta que, como partilhou o Papa João Paulo II, ao encontrar o pai ajoelhado aos pés de Jesus a rezar, a imagem cunha fundo as nossas almas.
Quando casámos, foi a Jesus e Sua Mãe que dedicámos o primeiro espaço da nossa casa. Coroámos Maria como Rainha da nossa casa e da nossa vida. Ao cuidado da Mãe de Jesus e nossa Mãe, entregámos a nossa educação e a dos nossos filhos. Na aliança de amor que fizemos com Nossa Senhora, sentimo-nos seguros e confiantes. Ela nunca nos falhou, nunca deixou de nos acolher ou de apontar caminho, rumo ao coração do outro, e por isso, de Jesus.
Com os filhos, fomos fazendo caminho. Em casa, havia um lugar de respeito e de encontro, onde todos os dias nos reuníamos (por cinco minutos que fosse) para espontânea e livremente partilharmos o que nos ia na mente e na alma. Foi aí, que aprendemos que é importante pedir, quando se confia, mas é muito mais importante agradecer, o muito que nos é dado em cada dia (comecem por agradecer três coisas, por cada uma que pedem. Verão do que estamos a falar). A propósito, um autor desconhecido dizia: “Não são as pessoas felizes que são gratas, são as pessoas gratas que são felizes.”
Das muitas memórias que temos a graça de poder colher, partilhamos uma das que muito nos marcaram: certo dia, bate-nos à porta a polícia, para nos informar que teríamos de abandonar, de imediato, a nossa casa, por haver uma possibilidade de ameaça de bomba. Era noite, estávamos já de pijama, robe e chinelos, prontos a mergulhar no vale dos lençóis, tão apetecível três turnos de trabalho depois (o primeiro, até deixar os miúdos na escola; o segundo, no emprego e o terceiro, de volta à recolha dos miúdos, até que aterrassem na cama). Expeditamente, acolhemos o pedido dos polícias, explicámos aos rapazes que tínhamos de sair com urgência. O Tomás (com 8 anos) e o Pedro (com 5 anos), muito preocupados, interpelaram-nos sobre o que levar, pois não lhes fazia sentido ficar sem nada, perante a possibilidade de perder a casa. Não tardamos a explicar que as nossas vidas eram mais importantes e que, com certeza, tudo correria bem e regressaríamos, depois de os polícias fazerem o seu trabalho. O Tomás, ainda que apreensivo, lá saiu de casa, afinal, acabara de começar uma aventura imperdível. O Pedro, ao sair da porta de casa, muito aflito, pede para voltar lá dentro. Apesar de reafirmarmos a real e urgente necessidade de sair, com a genica de quem tinha tomado a decisão mais importante do mundo, corre, entra em casa e, quando volta, traz Nossa Senhora nas mãos. Convicto afirma: “Ela não pode ficar, tem de vir connosco.” De facto, o Pedro tinha razão. Deixar a Rainha da nossa casa para trás, Aquela com quem nos sentávamos todos os dias para partilhar a vida, seria como deixar uma parte de nós. Foi muito comovente perceber que a identidade e o sentido de pertença estavam conquistados.