O Tríduo Pascal

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Imaginem uma celebração que dura três dias (na verdade, quatro). Imaginem que nessa celebração cabia a totalidade celebrativa da nossa Igreja. Por fim, imaginem que nessa celebração vivemos a vida, morte e ressurreição de Cristo.

Conseguem?

Pois bem, tudo isto se concretiza no Tríduo Pascal. Nestes dias, através de sinais simples e humanos (pão, vinho, água, azeite, palavras e luz), Deus dá-se totalmente como prova da sua aliança.

 

Missa da Ceia do Senhor

 

 

“O sacrário deve estar completamente vazio”. É deste modo que começam as rubricas desta celebração que inicia com o modo habitual (Bênção inicial).

A celebração da Ceia é um grito de glória, que voltamos a cantar (só voltando a cantá-lo na Vigília Pascal), que termina a “travessia” quaresmal e onde celebramos a instituição da Eucaristia.

 

 

 

Lava-Pés

 

Como estamos a celebrar a Eucaristia como sacramento é aconselhável, diz o Missal Romano, que se realize o gesto do Lava-Pés à imagem do próprio Cristo, nesta mesma noite.

O sacerdote retira a casula e, tomando um jarro e uma bacia com água, lava os pés a 12 pessoas – símbolo dos 12 apóstolos.

 

 

 

 

Transladação

 

Não fosse este momento e o Lava-Pés e esta celebração seria “normal”. Todavia, é neste momento e gesto a realeza de Jesus – faz-se pão (primeiro sinal) por nós!

Diz o n.º 15 das rubricas desta celebração que o sacerdote “…toma o véu de ombros, pega na píxide…”, começa assim a transladação do S.º Sacramento até ao local da sagrada reserva. acompanhado de incenso (outro sinal: as orações do povo que se elevam) e velas (sempre a luz), nada mais.

A celebração termina com a deposição do SS. no local da reserva e, após se cantar o Tantum Ergo, todos se retiram em silêncio.

 

 

 

Celebração da Paixão do Senhor

 

“Hoje e amanhã, segundo uma tradição antiquíssima, a Igreja não celebra a Eucaristia” – n.º 1 das rubricas desta celebração no Missal Romano.

Este é o dia da morte de Cristo e por isso meditamos, de modo cru, neste mistério.

 

 Nudez

 

O altar despido, tal como Cristo na cruz, outro sinal…

Cristo morreu! Não há festa, solenidade ou adorno. Só a certeza crua e seca desta verdade.
É isto que a Igreja celebra neste dia.

 

 

 

 

Silêncio

Depois deste momento de oração, profere uma oração, sem que para tal convoque o povo como habitualmente, ou seja, sem o “Oremos”.

 

 

Liturgia da Palavra

Como na Eucaristia escutaremos três leituras e, novamente, a leitura da Paixão (desta vez segundo S. João).

Terminado este momento, sem Credo como em quinta-feira, rezamos a Oração Universal, com dez intenções, seguida de uma oração para a terminar proferida pelo sacerdote.

Estas intenções são: pela Igreja, pelo Papa, pelos Ministros e Fiéis, pelos Catecúmenos, pela unidade dos cristãos, Judeus, pelos que não creem em Cristo, pelos que não creem em Deus, pelos governantes e pelos atribulados.

Após este momento vamos venerar e adorar a Cristo no seu trono – a cruz.

 

Adoração da Santa Cruz

Com o fim da Liturgia da Palavra passa-se, pois, para este momento – a apresentação da Cruz, que pode ser feita de dois modos:

   – Com a Cruz destapada em procissão;
– Com a Cruz tapada que é desnudada ao chegar ao altar.

Nesse momento, respondemos à invocação “Eis o Madeiro da Cruz, no qual esteve suspenso o Salvador do Mundo”, dizendo “Vinde, adoremos”.

Chegada a Cruz ao altar, inicia-se a sua adoração. Como para a comunhão, onde somos convidados a adorar o Senhor crucificado. Aqui cantam-se os “impropérios” e outros hinos. Enquanto decorre este momento de adoração, coloca-se uma toalha sobre o altar, onde estará deposta a cruz com as velas que a acompanham e, mais tarde, o S.º Sacramento (como veremos a seguir).

 

Sagrada Comunhão

Colocado o S.º Sacramento que vem da reserva em cima do altar, o sacerdote inicia os Ritos de Comunhão com a oração do “Pai-Nosso”.

Segue-se, pois, a comunhão com o pão consagrado no dia anterior.

Após este momento, o SS. é devolvido ao local da reserva.

Depois, para terminar este momento, o sacerdote termina a celebração com uma oração de despedida, após a qual, este e os ministros recolhem à sacristia em silêncio.

É recomendável que a cruz fique exposta incitando o povo à oração.

 

 

 

Sábado Santo

 

 

“No Sábado Santo, a Igreja permanece junto do sepulcro do Senhor, meditando na sua Paixão e Morte” – é esta a entrada sobre o terceiro dia nas rubricas do Missal Romano. Podemos, portanto, concluir que é dia de silêncio e recolhimento.

 

 

 

 

Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor

Vigília Pascal na Noite Santa

 

“A Vigília desta noite ordena-se do seguinte modo: (…) Lucernário, (…) Liturgia da Palavra, (…) Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística” – esta é a “Missa das Missas”. Como diz o Cónego Luís Manuel, na sua obra Nascemos da Páscoa[1], é daqui que vimos e é para aqui que iremos.

É desta celebração que tudo nasce e irradia para a nossa fé.

 

 

Lucernário

Imaginem uma fogueira na rua. O povo, reunido, numa igreja às escuras e de velas na mão, esperando o Senhor. – É isto o Lucernário.

O mundo que estava nas trevas viu uma grande luz – o Ressuscitado! É deste lume novo, benzido pelo sacerdote, que acenderemos o Círio Pascal. Este círio é representação de Cristo (Luz, outro sinal), é dele que todas as velas da Igreja serão acesas; afinal é por ele que se iluminam os nossos corações.

Chegado ao altar, após ser cantado o A Luz de Cristo três vezes, anunciando a ressurreição, cantar-se-á o Precónio Pascal (hino à luz Pascal que é Cristo).

 

Liturgia da Palavra

Neste momento, somos chamados a meditar sobre a história do Povo de Deus, é a nossa história!

Por isso e para isso, escutamos uma seleção de nove leituras (sete do Antigo Testamento-AT e duas do Novo Testamento-NT).

Entre as leituras do AT a única obrigatória é a do Êxodo, por se tratar da narração da Páscoa judaica.

Nesta eucaristia, ao contrário das “habituais” temos um ritmo próprio. Cada leitura tem um salmo e orações próprias.

Na passagem das leituras do AT para o NT cantamos o “Glória” (momento em que se acendem as velas do altar – Cristo ressuscitou!).

Entre leituras do NT, Epístola e Evangelho, cantamos o Aleluia (ele próprio um Salmo). Neste Evangelho não se utilizam velas para o acompanhar, afinal estamos na presença do Círio, que deve ser colocado num de três lugares: junto ao ambão, junto à fonte batismal ou no meio do presbitério, representação da Nossa Luz – Jesus Cristo.

 

Liturgia Batismal

 

 

Chegado a este momento, o presidente da celebração dirige-se para a fonte batismal e procede à bênção da água. Pedimos o auxílio dos santos que connosco celebram, na Igreja da Glória, através das Ladainhas.

 

Bênção da água batismal

Terminadas as Ladainhas, o presidente da celebração procede à bênção da água mergulhando o Círio Pascal nas águas:

 

O Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn1, 2-3).

 

Só depois da bênção das águas, o povo, de velas nas mãos, renova as suas promessas batismais a que se sucede a aspersão, num sinal de recordação do batismo.

Segue-se a Oração Universal para concluir este momento.

 

 

Liturgia Eucarística

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A partir deste momento retoma-se o ritmo de “missa habitual”, ou seja, o rito não sofre alterações. No entanto, vivêmo-lo na certeza renovada de que o Senhor está vivo!

 

 

 

 

Ritos de Conclusão

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Esta celebração termina com a despedida, como de costume, porém pode ser feita a bênção solene prevista, terminando com: “Aleluia, Aleluia!”

É com este grito de aleluia que terminam as três celebrações, que, como disse, são uma unidade. Nelas se engloba toda a beleza, o amor e a alegria da nossa fé, que se deve viver na oitava como se de um único dia se tratasse.

É com esta certeza de uma fé viva, na presença de um “Senhor vivo” que se relaciona connosco que devemos sempre caminhar. Afinal, referindo novamente as palavras do Cónego Luís Manuel: “Vivemos de Páscoa em Páscoa, até à Páscoa final!”

 

Hugo Brito

 


[1] Cón. Luís Manuel Pereira da Silva, (2021). Nascemos da Páscoa. O memorial do mistério pascal. Secretariado Nacional de Liturgia.