No “discurso escatológico”, Jesus diz aos discípulos uma frase que poderia servir de mote para este “caminho de advento” que hoje começamos a percorrer: “erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”. Jesus refere-se ao fim dos tempos, ao dia em que o “Filho do Homem” vier sobre as nuvens para dar início a um mundo novo, a um mundo transformado; mas a frase pode perfeitamente aplicar-se a cada “visita” de Deus, a cada vez que Jesus vem ter connosco, “veste” a nossa humanidade, se torna um de nós, nasce na nossa vida… Sim, a vinda de Jesus liberta-nos pois proporciona-nos o encontro cara a cara com o coração misericordioso e paternal de Deus; a vinda de Jesus liberta-nos pois traz-nos um convite irrecusável a dizermos não ao egoísmo que nos escraviza; a vinda de Jesus liberta-nos pois Ele, quando nos encontra, propõe-nos uma vida nova, uma vida com sentido, uma vida vivida em chave de amor. Nestes dias, à medida que preparamos o nosso coração para acolher Jesus, estamos a aproximar-nos da nossa libertação. O que podemos fazer para preparar a chegada de Jesus? O que temos de fazer, neste tempo, para acolher a nossa libertação?
“Erguei-vos e levantai a cabeça” – pede Jesus aos seus discípulos. Na verdade, muitas vezes não caminhamos, mas simplesmente arrastamo-nos pela vida, sem horizontes e sem esperança. O medo paralisa-nos, atira-nos ao chão, obriga-nos a escondermo-nos no nosso espaço protegido, à margem da vida e da luta dos homens; o ativismo cansa-nos de tal forma que a certa altura não temos mais forças para nos levantarmos da cama e começarmos a construir, cada manhã, um dia novo e um mundo novo; a desilusão pela forma como o mundo se vai construindo dá-nos vontade de nos isolarmos e desistirmos de qualquer esforço; as injustiças, as violências, as maldades que vemos crescer à nossa volta fazem-nos pensar que o mundo não tem saída… Baixamos a cabeça, conformamo-nos com a realidade de um mundo que nos parece um lugar cada vez mais assustador e renunciamos a desempenhar o nosso papel enquanto protagonistas da história. Ousaremos, neste tempo de advento, animados pela vinda de Deus, “levantar a cabeça”, olhar a vida olhos nos olhos, e assumir o papel que Deus nos destina na construção de um mundo mais justo, mais humano, mais feliz?
In site dos Dehonianos